Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato


Mallu Magalhães abre o palco principal do festival Nos Alive, em Lisboa — Foto: Sara Hawk/Divulgação/Nos Alive
Mallu Magalhães abre o palco principal do festival Nos Alive, em Lisboa — Foto: Sara Hawk/Divulgação/Nos Alive

Portugal está lotado de turistas. E de festivais de música. Há dezenas neste verão e o Nos Alive, um dos três grandes, ao lado do Primavera Sound e do Rock in Rio, capta mais de € 60 milhões (R$ 320 milhões) para Lisboa. O sonho do diretor e idealizador Álvaro Covões é produzir uma edição no Brasil, segundo disse em entrevista ao Portugal Giro na primeira noite do festival, que começou na última quarta-feira e acaba hoje.

Neste ano, a escalação não privilegiou muito a música brasileira. Por quê? Covões explica e lembra que abriu o palco principal com Mallu Magalhães, a única artista do Brasil em destaque nos quatro dias. Houve também uma roda de samba em palco paralelo.

Por que não há mais artistas brasileiros?

Não há mais? Todos anos têm havido tantos. Depende da programação, da época. Mas não está mal.

Acha que não está mal?

Na realidade, o pop rock brasileiro nunca pegou tanto em Portugal como a MPB. Agora, tem uma onda de sertanejo, mas tem a ver com a quantidade de brasileiros que vivem aqui. Mas o pop rock nunca pegou. Eu já trabalhei várias vezes com os Paralamas do Sucesso, Skank e vários outros projetos. E nunca, nunca, nunca arrancava.

Por que não decola?

Da mesma maneira que o pop rock português não funciona no Brasil. Por exemplo: a Carminho foi capa de O GLOBO, o Antônio Azambuja saiu também em O GLOBO. E por que o Xutos e Pontapés não emplaca no Brasil? Porque não funciona.

E qual o papel do festival para impulsionar este intercâmbio, ainda mais com milhares de brasileiros residentes?

O festival tem uma linha de programação para o mundo inteiro. Mas o Brasil está sempre presente em nossos corações. Senão, não teria a Mallu abrindo o palco principal. O normal seria ter uma banda portuguesa. Então, a música do Brasil é muito importante para nós. Até tínhamos um projeto, que era um concurso no Brasil e o prêmio era vir tocar no festival. Mas para isso é preciso ter patrocinador.

Pensa em levar o festival para o Brasil, é uma operação viável?

O festival no Brasil seria fantástico, mas seria diferente do que é aqui. Porque temos que pensar na cultura local, porque a maioria do público seria local, como aqui 75% do público são de portugueses. Mas o conceito faria todo sentido no Brasil.

Então, tem mesmo vontade de fazer o Alive no Brasil?

Tenho. Mas depende das circunstâncias. Quando olho para Rio de Janeiro e São Paulo, vejo que já têm muitos festivais. Estamos a falar de festivais de dimensão. Portugal tem muitos, mas nem todos são grandes. Aqui em Portugal, só nós e o Rock In Rio. O Primavera é metade do público. Fazer no Brasil seria um sonho, porque eu já sou brasileiro por igualdade de direitos.

Seria um sonho no Brasil?

Sim, mas veja, já fizemos festival de fado na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, lotamos aquela casa, que considero um dos mais bonitos complexos culturais do mundo. Então, eu gostaria de fazer um festival no Brasil, não o Nos Alive, seria algo Alive… como já fiz em Angola, Cabo Verde. Quem sabe?

Acha que o Brasil está carente de eventos mundiais de cultura?

Esta parada da pandemia… Todo mundo está carente de cultura. O que mais me impressiona no Rio de Janeiro é o setor da cultura não perguntar ao Governo Federal por que não devolvem o Canecão. Todo mundo aceitou, parece. E o que falta no Brasil é infraestrutura para show. Havia um projeto para São Paulo, mas não havia uma arena como a Altice, em Lisboa. E ter isso é muito importante, porque todos os shows em São Paulo são na Allianz Parque, estádio de futebol do Palmeiras. Mas a oferta cultural brasileira é brutal em todas as artes, quem me dera que Portugal fosse assim.

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