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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Por Gian Amato


Habituados ao índice de dois dígitos no Brasil, os brasileiros em Portugal têm sido consultores informais em tempos de inflação recorde em território português (8,7%). Residentes há mais tempo têm ajudado os imigrantes recém-chegados - e até os portugueses - com dicas de como driblar a escalada dos preços de alimentos e combustíveis.

Comprar marcas próprias dos supermercados, colecionar cupons virtuais, alugar imóveis em cidades periféricas, comprar roupas apenas nas épocas de promoções e sair de férias fora da alta temporada. São algumas das estratégias apontadas por brasileiros ouvidos pelo Portugal Giro, como Juliet Cristino, que além de filtrar as marcas nas prateleiras, passou a mapear os mercados mais em conta em Sintra, onde vive porque é mais barato que em Lisboa.

— Antes, dava para comprar em qualquer supermercado, porque os preços não tinham tanta diferença. Hoje, é preciso escolher os supermercados mais baratos e eu sempre indico às pessoas para comprar produtos da marca própria, marca branca, que são mais baratos. E tem que evitar comprar em mercearias e lojinhas de rua, que já eram caras e ficaram mais ainda — disse Cristino, que é técnica de segurança do trabalho.

Aluguel, supermercado, energia e combustível consomem a maior parte dos salários, como explicou Cristino.

— Eu moro em Sintra porque é mais barato, pago € 600 (R$ 3,2 mil) em um dois quartos. Mas agora é difícil encontrar, está € 750 (R$ 4,04 mil) para cima — disse Cristino.

Como vive distante da Espanha, e não pode abastecer no país vizinho, um hábito de brasileiros e portugueses, porque os combustíveis costumam ser mais baratos do outro lado da fronteira, Cristino adotou o planejamento semanal. Virou uma prática comum entre os brasileiros esperar pelo anúncio do preço, feito dias antes.

— Eu só abasteço com a quantidade que sei que vou usar na semana. Antes, eu sempre enchia o tanque, hoje já não faço isso — afirmou Cristino.

Na última segunda-feira, o diesel e a gasolina baixaram seis e sete cêntimos, respectivamente. Ainda assim, o preço do diesel está 25 cêntimos acima do valor praticado antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro. E encher o tanque significa gastar mais € 12 (R$ 64) do que há quatro meses.

Apesar de ainda viverem em um país com um custo de vida considerado baixo, os brasileiros e portugueses tendem a cortar mais luxos, como jantares em restaurantes e pedidos para entrega de comida em casa. Funcionária de um movimentado espaço gastronômico no mercado Bomsucesso, no Porto, Suzane Ferreira ensina aos clientes como economizar para poderem aproveitar a vida fora de casa.

— O supermercado aumentou. E acham tudo caro, lógico. Mas digo que só não compro leite, shampoo e pasta dental. O restante é tudo marca branca. E explico que não pagamos nada, nem pelo Sistema Nacional de Saúde. Penso que o português perdeu o hábito de comer fora. E de pedir comida, assim como os brasileiros. Meu namorado trabalha em um aplicativo de comida e diz que não pedem, só estrangeiros. E dão boas gorjetas. Se não fosse estrangeiro para consumir e brasileiro para trabalhar em Portugal, eu morreria de fome — contou Ferreira.

O primeiro-ministro António Costa informou que o governo gastou € 1,6 bilhão (R$ 8,6 bilhões) para combater a inflação. Ao enumerar as medidas, disse que foram gastos € 120 milhões (R$ 646 milhões) em cestas básicas para famílias carentes.

— Entre as medidas fiscais para controlar o aumento dos preços, conter custos de produção, dar apoio às famílias mais vulneráveis e às atividades econômicas mais dependentes de energia (...) o Estado mobilizou € 1,6 bilhão. Se não fossem adotadas, num tanque de 50 litros de diesel cada português estava a pagar mais € 14 /R$ 75) e, num tanque de 50 litros de gasolina, cada português estaria a pagar mais € 16 (R$ 86) — declarou Costa.

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