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Menos bebês e mais óbitos

Pandemia agrava crise demográfica de Portugal e futuro passa pela imigração

Homem observa a Ponte 25 de Abril sobre o Rio Tejo em Lisboa

Portugal vive um drama demográfico. Os meses de janeiro e fevereiro registraram os números de nascimentos mais baixos no país em mais de um século. E o número de mortes no primeiro mês do ano, quando uma nova onda de contágios atingiu o país, foi o maior da pandemia de Covid-19.

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Nasceram 11.563 portugueses na soma dos dois primeiros meses do ano. Foram 5.912 em janeiro, menos 19,3% em relação a 2020, e 5.651 no mês seguinte, uma redução de 11,1%.

São os piores dados de natalidade registrados desde que o Instituto Nacional de Estatística (INE) iniciou a série do indicador, em 1911.

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Já o mês mais letal da pandemia teve 19.634 óbitos: uma diferença de 7.772 mortes em relação a janeiro de 2020, com aumento de 65%. Do total, 5.785 foram vítimas da Covid-19, o que representa 29,5% da mortalidade no período. 

Fevereiro registrou 12.716 mortes, mais 28,7% que no mesmo mês do último ano, sendo  3.594 de coronavírus.

Devido ao elevado número de óbitos e à baixa natalidade, o INE apontou o agravamento do saldo natural, que ficou em -13 975  em janeiro e -6 802 em fevereiro.

O problema é crônico. Em cerca de 50 anos, Portugal poderá ter metade dos habitantes em idade produtiva.  A população de pouco mais de 10 milhões de pessoas é envelhecida e para cada 100 jovens há 163,2 idosos.

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E a população diminuiu progressivamente até 2019, quando aumentou pela primeira vez em dez anos, mas devido ao acréscimo de imigrantes, informou o INE. O saldo natural anual foi negativo pela 11º vez seguida. 

O drama prossegue no balanço de 2020, com saldo negativo pelo 12º ano consecutivo: -38.932.

Em recente entrevista a correspondentes, o ministro da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, disse que Portugal, e toda a Europa, precisará de imigrantes para  combater o problema demográfico.

- Portugal, como praticamente todos os países europeus, é muito dependente da mão de obra imigrante. Em toda a Europa necessitamos. É um continente envelhecido e onde continuamos a manter uma série de atividades que os europeus não estão com disposição de executar - disse Siza Vieira.

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Mas não são apenas os trabalhos que os portugueses não querem executar, como os agrícolas. Há no país uma grande parte da população, de pouco mais de um 1,5 milhão de pessoas, sem competências digitais básicas para navegar na internet. Ou com aptidões para desenvolver uma carreira no campo da tecnologia da informação.

- Não vamos conseguir criar massa crítica para uma economia e sociedade digitais se tivermos pessoas que não sabem usar tecnologia. Vamos precisar atrair pessoas de todo o mundo em várias áreas. A Europa vai precisar de gente de outros lados do mundo - completou o ministro.

Uma das principais siglas de oposição ao governo do premier socialista António Costa, o Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita, quer ouvir no Parlamento os representantes da Comissão da Natalidade, criada em 2015. 

O PSD alerta que o problema põe em risco a sustentabilidade da economia e “exige uma avaliação e monitorização das políticas públicas no sentido de inverter a atual tendência de descida da natalidade”.

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Ao comentar a crise de imigrantes na região agrícola de Odemira, onde trabalhadores estrangeiros lutam por direitos básicos, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a necessidade da imigração para Portugal no contexto econômico. E pediu igualdade de direitos.

- As sociedades democráticas mais avançadas do mundo, que fazem parte da sua economia assentar no trabalho dos imigrantes – para aumentar o Produto Interno Bruto – não podem querer isso e não dar aos imigrantes o estatuto que eles merecem. É importante ter ficado patente isso, porque de vez em quando há quem diga não precisamos dos imigrantes, fora com os imigrantes. É mentira. Nós precisamos de imigrantes - declarou o presidente aos jornalistas.

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