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Novo Parlamento

Políticos de Portugal montam barreira para isolar partido de extrema direita

André Ventura, do Chega, discursa no Parlamento em foto de 2021. Abaixo, o primeiro-ministro António Costa e membros do governo

Após dar um salto nas urnas de um para 12 deputados, o Chega começa a esbarrar nos cercos de contenção que tentam frear a expansão dos seus objetivos políticos em Portugal.

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Primeiro-ministro e líder do Partido Socialista (PS), eleito com maioria absoluta, António Costa foi o primeiro a criar uma barreira para isolar a sigla de ultradireita, defensora de propostas racistas e xenófobas. Deputados de esquerda e parte da direita democrática seguem a mesma estratégia.

Costa convocou deputados de todos os partidos com assentos parlamentares antes da tomada de posse do governo, adiada ontem de 23 de fevereiro para março devido ao problema com os votos dos imigrantes na Europa, que serão repetidos. A exceção foi o Chega, que o primeiro-ministro sequer recebeu em sua residência oficial no Palácio São Bento.

Ao excluir o Chega das reuniões que terminaram ontem, Costa envia uma mensagem clara: apesar de eleitos democraticamente, deputados da direita radical não terão lugar nas audições multipartidárias que marcam o começo do governo com maioria absoluta.

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Há analistas e políticos que concordam com a estratégia por acreditarem num eventual esvaziamento, caso o partido siga à margem. E outros alertam para o risco de o resultado ser o oposto do pretendido. Como Isabel David, cientista política e professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.

— A barreira pode ser eficaz em termos institucionais. Mas pode servir de instrumento para reverter uma possível vitimização dos deputados em mais votos para o Chega. — explicou David ao Portugal Giro.

A representação do Chega tem o direito regimental de participar de comissões, debates, sessões, votações e de apresentar propostas na Assembleia. Mas sem uma bancada de expressão, e diante da maioria do PS, que na legislatura anterior estava alinhada em não aprovar nada do partido, a oposição populista estará relegada ao discurso e isolada. O Iniciativa Liberal (liberalismo clássico) já anunciou a vontade de ocupar assentos distantes das cadeiras do Chega no hemiciclo.

Apesar da autoproclamada postura antissistema, o Chega busca prestígio e o respeito político que o Parlamento assegura. Terceira força, tem o direito de apresentar a candidatura de um vice-presidente da Assembleia. E lançou o nome de Diego Pacheco Amorim. Mas deputados da esquerda levantaram o cerco rapidamente ao anunciarem antecipadamente seus votos contra Amorim. 

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O agora deputado eleito de 72 anos foi militante do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP). A organização de extrema direita surgiu após a queda da ditadura, em 1974, e tentou dar um golpe de estado no ano seguinte. Recentemente, ele defendeu que a origem da população portuguesa é “a cor branca e a raça é a caucasiana”.

Isabel David lembra que tem sido comum a tentativa de os partidos criarem cordões sanitários de isolamento à extrema direita nas Assembleias de países da Europa e no Parlamento Europeu. Mas na Espanha, Itália, Holanda e Bélgica, por exemplo, há representantes populistas nas vice-presidências, o que não ocorre na Alemanha.

— Mas o Alternativa para Alemanha cresceu nas intenções de voto após o cerco feito sobre o partido. É preciso travar estas siglas nas urnas com uma política visível para melhorar a vida das pessoas. Como isso não ocorre na Europa, a extrema direita também cresce dentro das instituições democráticas. E não apenas no continente, mas no Brasil, numa ala do Partido Rebublicano norte-americano… — disse David.



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