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A passagem do tempo por Lya Luft

Autora, que participará de evento do GLOBO, critica obsessão generalizada pela juventude

Foto (Foto: A escritora gaúcha Lya Luft, que participa de bate-papo na Cidade das Artes na próxima quarta-feira / Divulgação)

Por Leonardo Cazes

A passagem do tempo é inexorável, mas o homem nunca deixou de tentar controlá-lo. Hoje mais do que nunca. Esse é o mote de “O tempo é um rio que corre” (Record), novo livro da escritora gaúcha Lya Luft, considerado por ela mesma um irmão mais novo do best-seller “Perdas e ganhos” (Record) e “O rio do meio” (Record). Na próxima quarta-feira, dia 2 de abril, a autora participará de um bate-papo com o público no projeto Encontros O GLOBO, que acontecerá às 18h na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. No encontro, Lya vai falar sobre a nova obra e outros temas que estão presentes em toda a sua obra, como a vida e morte.

“O tempo é um rio que corre” não tem um índice, mas um roteiro de viagem pelas diferentes etapas da vida, e é composto pelo encadeamento de pequenas reflexões intercaladas por poemas. A escritora afirma que, ao contrário de seus romances cujas personagens loucas não têm nada a ver com ela, esta é uma obra muito pessoal. Misto de ensaio e memórias, o livro mantém o tom de confidência que caracteriza todos os trabalhos de Lya.

— Foi um livro bom de fazer, muito divertido. Escrever, para mim, é um processo extremamente lúdico. Eu não sofro para escrever. Mesmo nos meus romances de personagens doidas e sofridas, quem sofre são os personagens — conta a autora, em entrevista ao GLOBO por telefone. — É uma obra muito pessoal e gosto de abordar dessa maneira meus velhos temas de sempre, não com personagens de ficção, mas nessa conversa direta com o leitor. É algo que me agrada muito fazer.

Foto (Foto: Arquivo)

Durante a entrevista, Lya se mostrou incomodada ao observar a aflição das pessoas com o envelhecimento e o fanatismo generalizado pela juventude. Ela defende que a passagem do tempo não é uma deterioração, e sim uma transformação. Aos 75 anos, a autora diz que, para ela, essa é uma questão muito presente. E critica a enorme pressão sobre as mulheres.

— Quando dão uma notícia sobre determinada atriz, é “fulana na praia exibindo o barrigão”, “fulana na praia em excelente forma”, “fulana perdeu tantos quilos”. Não interessa se ela é uma boa atriz, boa pessoa, se é decente. Estamos numa futilidade que causa muita angústia nas pessoas. Pode-se viver muito mais graças à medicina, mas não se sabe o que fazer com esse tempo. Em vez de ser um momento para curtir, é um tempo de angústia, porque minha pele não está legal. Quis falar sobre isso, botar as coisas de cabeça para baixo.

Uma das primeiras experiências de Lya com o tempo foi um diálogo com o pai na infância. Ela disse: “eu quero uma coisa agora”. O pai respondeu: “o agora não existe porque quando você fala a palavra ‘agora’, entre o primeiro e o último ‘a’, o tempo já passou”. Ela relembra a surpresa ao ouvir a explicação.

— Passei dias tentando empilhar as letras para o tempo não passar — conta.

Seu tempo de criança foi feliz, à exceção de um curto período em que foi enviada para um internato, numa tentativa de disciplinar a menina distraída e bagunceira na escola. Não funcionou e ela voltou para casa poucos meses depois. O lar era o lugar onde exercia seu lado contemplativo e deixava a imaginação viajar pelas montanhas que via pela janela, morada de princesas e unicórnios nos seus sonhos de menina. Lya acredita que, para entender sua obra, é preciso mergulhar na infância.

— Desde pequenina fui muito distraída, minha mãe sempre dizia: “a Lya está o tempo todo no mundo da Lua, nas nuvens”. Sempre fui muito interessada no mistério de tudo. Por que anoitece? Por que amanhece? É tudo muito interessante e também assustador — afirma a escritora, que não era fã do colégio. — Acho que mantive minhas asas porque na escola eu era diferente, eu era a bagunceira da turma. Fazia muita arte, não gostava da escola. Era boa em português porque lia muito, mas no resto era medíocre. O meu lado mais contemplativo era em casa e o meu pai nunca tirou isso de mim.

A autora também vê os jovens muito pressionados. A escolha da profissão, a entrada no mercado de trabalho, o sexo, o possível casamento, a maternidade: tudo vira cobrança. Segundo ela, é preciso ter uma forte bagagem interior para resistir “a essa loucura toda”.

— Vida rica é cheia de emoção, reflexão, até para enfrentar a parte da burocracia da vida, que é grande, e às vezes não dá para fugir.

O Encontros O GLOBO tem entrada franca, mas as vagas são limitadas (100 lugares). As inscrições podem ser feitas pelo e-mail [email protected].

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