Publicidade

Publicidade

Jonathan Franzen prefere falar de pássaros a literatura

 

 Ser o escritor mais aguardado da Flip não é fácil. Jonathan Franzen escapou do burburinho de Paraty e se refugiou em meio à Mata Atlântica para observar pássaros - sua maior paixão. Bronzeado e sorridente, o autor do aclamado "Liberdade" começou a sua coletiva de imprensa nesta quinta-feira dizendo que gostaria de fazer um anúncio público. Segurando uma camiseta da Associação Cairuçu, uma organização não-governamental da região de Paraty, o escritor quis chamar a atenção dos jornalistas para a preservação das aves brasileiras.  

—Na verdade, eu estou em Paraty como um Ecoturista. Só vim dar uma passada aqui por que é preciso. O Brasil em geral possui lugares maravilhosos, e esta região é fantástica para a observação de pássaros. Hoje vi espécies raras que jamais havia visto — disse o escritor, que é associado ao American Bird Conservency, organização que luta pela preservação das aves. 

O envolvimento de Franzen vai além da simples observação de espécies. O escritor participa ativamente de projetos pela conservação de pássaros nos EUA e disse ter visitado centros de preservação na Bolívia. Quanto à questão no Brasil, Franzen diz estar acompanhando os problemas que o país encontra na luta contra o desmatamento. O escritor afirmou estar especialmente preocupado com a ameaça representada pela expansão da agricultura e pela construção de usinas hidrelétricas.

Entre as aves observadas durante a sua manhã pelos arredores de Paraty, o norte-americano ressaltou um passarinho chamado papa-moscas-estrela, espécie natural da região que está ameaçada de extinção devido à degradação do seu habitat natural. Franzen também ficou contente ao ver um tiê-sangue, passarinho de plumagem vermelha tipicamente brasileiro. 

A empolgação do escritor não é a mesma quando o assunto são os seus livros. Fazendo longas pausas e visivelmente tímido, Franzen chegou a comparar a coletiva de imprensa a "uma festa estranha em que todos bebem água". 

— Hoje eu estava caminhando pela floresta, tentando ser uma pessoa normal. Eu passei a vida inteira tentando evitar este tipo de situação, quando sou o centro das atenções — disse o escritor, ao responder uma pergunta sobre o seu processo criativo. 

A literatura, para Franzen, é a sua válvula de escape. O autor mais esperado desta Flip diz ficar completamente submerso na vida de seus personagens enquanto está escrevendo um livro. Franzen confessou ter chorado ao terminar de escrever "Liberdade", sua obra mais recente e grande sucesso de crítica e vendas.

— Terminar um livro é como voltar das melhores férias que você possa ter tido. É como quando, na infância, você deve voltar às aulas depois das férias de verão. É como uma morte — comparou.

Entre frases bem-humoradas e divagações sobre a personalidade de seus personagens, amor e depressão, o escritor admitiu que o Brasil o deixou mais filosófico. Ao falar sobre como a tecnologia tem absorvido a sociedade atual, Franzen declarou a sua utopia literária:

— A ficção pode dar algum tempo a você mesmo. As pessoas não querem mais se preocupar em pensar, então simplesmente se ocupam com os seus celulares. A literatura conserva um espaço onde as pessoas podem voltar a ser seres humanos. Ela pode tornar o mundo um lugar melhor.

Publicidade