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Prática recorrente

Com Telegram mantido, Allan dos Santos volta a criar perfil na plataforma e desafia STF: ‘Sabe quando iremos parar? Nunca’

Criado no domingo, novo canal de Allan dos Santos desafia medidas de vigilância do Telegram e decisão do STF


Lucas Mathias

Mesmo depois de nova investida do Supremo Tribunal Federal (STF) para que suas determinações fossem cumpridas, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos conseguiu novamente burlar a segurança do Telegram e criar um novo canal na plataforma. A conta já soma 4,7 mil inscritos e foi inaugurada com uma provocação: “Sabe quando iremos parar? NUNCA”, escreveu, antes de gravar um áudio com a mesma mensagem. Ao Supremo, o aplicativo disse ter implementado medida que “permite diminuir o risco de repetidas violações”, citando, nominalmente, o nome do blogueiro. Questionado, o STF informou que não comentará porque o caso corre em sigilo.

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A primeira mensagem no novo canal de Allan dos Santos foi publicada às 23h36 de domingo. Nas horas seguintes, ele seguiu compartilhando vídeos de sua participação em um programa online, dos pastores Magno Malta e Silas Malafaia e mensagens de texto próprias — todas com críticas ou ataques ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que havia determinado a suspensão do Telegram no Brasil na semana passada. Além disso, ele também criou um grupo na plataforma, que já conta com 2,8 mil membros.

A prática de criar perfis alternativos e contas reservas é recorrente especialmente com Allan dos Santos. Em fevereiro, depois que teve seus principais canais no Telegram bloqueados, no primeiro aceno da plataforma à Justiça brasileira, o blogueiro já havia reunido mais de 21,5 mil inscritos em outro perfil, burlando a determinação judicial. Já na última sexta-feira, depois que a suspensão do aplicativo veio à público, o Telegram decidiu excluir inclusive as contas secundárias de Santos.

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Segundo a PF, o blogueiro migrou para o Telegram após o bloqueio de seus canais em outras plataformas com o objetivo de burlar as ordens judiciais que o impediam de propagar ataques às instituições democráticas. Esse foi um dos argumentos apresentados pela PF ao Supremo Tribunal Federal (STF) ao pedir a suspensão do funcionamento do Telegram no Brasil.

Na teoria, Allan dos Santos não pode ter perfis ativos nas redes sociais no Brasil, embora ele acumule contas com milhares de seguidores também em outras plataformas. No Instagram, por exemplo, um perfil atribuído a ele tem mais de 70 mil seguidores, entre eles o ministro do Trabalho e Previdência Onyx Lorenzoni e o deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE). Já no Twitter, são mais cerca de 43 mil seguidores, como o deputado federal Filipe Barros (União-PR), por exemplo. No Youtube, ele costuma usar canais privados, que só podem ser acessados por meio de links, mas não aparecem na busca da rede.

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Vigilância insuficiente

Na tarde de domingo, Moraes revogou a suspensão do Telegram e afirmou, no despacho, que as determinações impostas à plataforma foram integralmente cumpridas, o que permitiria seu funcionamento pleno. Antes, o Telegram já havia informado à Corte que implementou diversas medidas para minimizar a publicação de mensagens falsas e também ferramenta para restringir a capacidade de usuários envolvidos na disseminação de desinformação de criar novos perfis ou postar em canais existentes. No texto, Allan dos Santos foi citado nominalmente.

"Essa medida nos permite diminuir o risco de repetidas violações, e já a aplicamos aos autores de canais que foram previamente identificados pela Justiça como ilegais no Brasil (como Allan dos Santos)", afirmou o Telegram na mensagem, reproduzida na decisão de Alexandre de Moraes.

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A ação, no entanto, ainda não foi capaz de impedir a presença ativa do blogueiro na plataforma.

Allan dos Santos, que mora nos Estados Unidos, é alvo de dois inquéritos que investigam suposto esquema de divulgação de informações falsas no Supremo. Um dos inquéritos apura ameaças a ministros do tribunal e disseminação de conteúdo falso na internet, as chamadas fake news. O outro investiga o financiamento de atos antidemocráticos. Em outubro, Moraes determinou a prisão preventiva do blogueiro além de ordenar, ao Ministério da Justiça, o início imediato do processo de extradição.

Como mostrou a colunista do GLOBO Bela Megale, no entanto, esse processo não é simples e raramente surtiu efeito. Dados fornecidos pelo Ministério da Justiça mostram que, desde 2019, o Brasil fez 50 pedidos de extradição de foragidos da Justiça ao governo dos Estados Unidos, mas apenas dois foram atendidos. Um dos casos envolvia um acusado de estupro de vulnerável e o outro de homicídio. Isso mostra que apenas 4% dos pedidos ativos feitos pelo Brasil aos EUA foram atendidos nos últimos três anos.

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