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Mobilização virtual

Conheça o entregador que foi o principal responsável por articular apoio digital ao #BrequedosApps

O entregador Paulo Lima, conhecido pelo apelido 'Galo'

A greve dos entregadores de aplicativo, mobilizada em várias capitais brasileiras nesta quarta-feira, repercutiu amplamente em redes sociais graças à atuação de influenciadores e representantes da categoria. Uma dessas vozes falou para mais gente: a do paulista Paulo Lima, de 31 anos, conhecido como "Galo", que trabalha com entregas há cerca de nove meses e é um dos líderes do movimento por melhores condições profissionais. Um levantamento da consultoria Arquimedes, obtido pelo Sonar, mostra que Lima esteve entre os usuários do Twitter que mais mobilizou apoio em suas publicações.

Analítico: Entregadores de aplicativos terão problema maior, que não será resolvido com a greve

Para encontrar os principais usuários envolvidos com o tema, a Arquimedes analisou 205 mil menções à greve publicadas na plataforma até as 18h de quarta-feira. Além de Lima, destacaram-se as atuações da influenciadora Nath Finanças (cujo foco são as dicas de economia para pessoas de renda média e baixa) e de políticos de esquerda, como os deputados Marcelo Freixo e Sâmia Bonfim, ambos do PSOL, e de Guilherme Boulos, que foi candidato à Presidência pela sigla em 2018. A consultoria indica que, ao contrário do que ocorre em outros tópicos debatidos no Twitter, foram as novas lideranças que guiaram o debate sobre a greve — alimentada na rede por meio da hashtag #BrequedosApps.

Lima teve um papel fundamental nesse contexto. A conta dele divulgou não só as demandas dos entregadores em manifestação (aumento das taxas de entrega e auxílio a quem se acidentar ou se contaminar com o coronavírus) como também recomendações a quem participou do ato e respostas às empresas de delivery que se posicionaram diante da paralisação. O conteúdo foi acompanhado por mais de 26 mil seguidores, parte deles conquistada enquanto a greve acontecia.

O primeiro contato de Paulo Lima com a militância pró-direitos trabalhistas para entregadores aconteceu em março, depois que ele foi bloqueado de um dos aplicativos por não conseguir atender a uma entrega dentro do tempo estipulado. O pneu de sua moto havia furado, conforme contou em entrevista ao jornal "El País", e o incidente custou seu acesso a uma das fontes de renda — à época, ele atuava pelo Ifood, Uber Eats e Rappi. Desde então, o entregador se reuniu a colegas para participar de atos contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e a favor da democracia (ele integra a frente "Entregadores Antifascistas") e se mobilizou com eles para promover a greve geral da categoria.

— A gente, motoboy, tem se sentido os músicos do Titanic: está vendo o barco afundar e tem que continuar tocando a música — afirmou Lima em vídeo publicado pelo site "The Intercept Brasil": — Esses aplicativos são oportunistas. Chegam em países de terceiro mundo, onde a taxa de desemprego é absurda, e lançam isso como uma oportunidade de renda extra sabendo que as pessoas precisam disso como uma renda principal.

Apesar da força sindical do discurso e de sua participação em um movimento político contra o bolsonarismo, o entregador tem repetido em vídeos e conversas com jornalistas que não pretende transferir a atuação para um cargo eletivo. Lima sustenta que é um "político de rua" e afasta a possibilidade de concorrer ainda esse ano, nas eleições municipais, contrariando sugestões que diz ter recebido. Parte do tempo dedicado à própria atuação pela causa está ligada às redes sociais: ao mesmo tempo em que faz publicações didáticas sobre a rotina no delivery, ele participa de transmissões ao vivo com políticos e influenciadores e de conferências com outros entregadores.

O pano de fundo para a vontade de transformar as condições de trabalho remete à infância: Lima costuma afirmar que sua "escola política" foi o hip hop, movimento cultural e gênero musical marcado pela contestação de mazelas sociais. Ele diz que sonhava, aos 12 anos, que um dia seria cantor de rap. 

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