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Em um ano, Sleeping Giants Brasil evitou mais de R$ 14 milhões em publicidade a sites de 'fake news', calculam fundadores

Mayara Stelle e Leonardo Leal, fundadores da versão brasileira do Sleeping Giants

Marlen Couto

Criado para desmonetizar conteúdo desinformativo na internet, o Sleeping Giants Brasil completou um ano de existência, no último dia 18, somando 31 campanhas com alertas a consumidores e anunciantes para o uso de publicidade em sites e perfis em redes sociais acusados de disseminar mensagens falsas e discurso de ódio. O movimento estima que seus alvos deixaram de receber, no período, mais de R$ 14 milhões em anúncios e campanhas de crowdfunding interrompidos pela pressão de seus apoiadores.

Ao todo, 990 empresas foram cobradas a se manifestar sobre a presença de seus anúncios em sites desinformativos. Desse total, 806 responderam e se comprometeram a retirar publicidade dos portais. Entre elas estão companhias como Bradesco, Adidas, Ford, Fiat, Uber, e Amazon.

Desde sua fundação, o Sleeping Giants Brasil causou incômodo em influenciadores bolsonaristas. Entre os sites que entraram na mira do movimento estão o "Jornal da Cidade Online", "Conexão Política" e o "Brasil Sem Medo", que tem, no time de colunistas e idealizadores, o ideólogo de direita Olavo de Carvalho. O próprio Olavo também motivou campanhas para que as plataformas que promoviam a venda de seus cursos online deixassem de fazê-lo.

O perfil no Twitter, hoje com mais de 430 mil seguidores, atuou de forma anônima até dezembro do ano passado, quando o casal Leonardo de Carvalho Leal e Mayara Stelle, ambos de 22 anos, moradores de Ponta Grossa (PR), revelaram ser os criadores da versão brasileira do movimento, lançado nos Estados Unidos pelo publicitário Matt Rivitz em 2016.

A revelação ocorreu após o Sleeping Giants Brasil se tornar alvo de um processo na Justiça do Rio Grade do Sul que buscava obter, através do Twitter, os dados dos fundadores do perfil. O movimento também chegou a ser investigado. O delegado Ricardo Filippi Pecoraro, da Polícia Federal (PF) em Londrina (PR), abriu uma apuração em 25 de maio de 2020. A Justiça, porém, encerrou o caso a pedido do Ministério Público Federal (MPF).

Ao GLOBO, Mayara Stelle avalia que o boicote aos sites desinformativos dá indícios do tamanho do mercado de notícias falsas no Brasil:

— Queremos alertar as pessoas que fazer fake news e sites que disseminam ódio, que é um site mais engajável e diversas pesquisas mostram isso, dá muito dinheiro. É uma indústria lucrativa.

Leonardo de Carvalho Leal aponta, por sua vez, que o mercado de publicidade já percebeu que há riscos e precisa repensar como usa a mídia programática, mecanismo utiliza algoritmos para determinar quais sites devem receber anúncios de uma determinada campanha.

— Percebemos que o sistema têm tentado resolver isso. Diversas empresas nos procuram no privado para buscar mais informações. As empresas sabem que a desinformação também afeta a elas próprias. Já vimos o caso de uma empresa que financiou, por exemplo, um site com ataques a ela mesma — diz Leal.

No futuro, o movimento pretende deixar de ser apenas um perfil nas redes sociais e se transformar em um instituto. A ideia é atuar na formulação de políticas públicas e na regulamentação da publicidade online. Outra proposta é explorar a estratégia do "follow the money" (siga o dinheiro, em inglês) em outras áreas.

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