Sonar - A Escuta das Redes
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Um mergulho nas redes sociais para jogar luz sobre a política na internet.

Informações da coluna

Por Marlen Couto


Jair Bolsonaro envia vídeo gravado para reunião de presidentes do Mercosul — Foto: Clauber Caetano/AFP
Jair Bolsonaro envia vídeo gravado para reunião de presidentes do Mercosul — Foto: Clauber Caetano/AFP

Lockdown, gestão da Petrobras, governadores e guerra da Ucrânia. No discurso do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, esses são os principais culpados pela piora de indicadores econômicos do país — tema que promete pautar as eleições de outubro. É o que mostra um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP), que, entre 1º de março e 31 de maio, coletou 974 tuítes publicados em perfis oficiais dos principais pré-candidatos à Presidência.

As medidas de restrição de locomoção tomadas por governos estaduais e municipais ao longo da pandemia para conter o aumento de casos de Covid-19 são citadas em quase metade dos tuítes do presidente que apontam culpados por problemas econômicos. O presidente responsabiliza o “lockdown” pela crise econômica, inflação e questões relacionadas ao emprego, falando da “turma do fica em casa” para se referir a quem defendeu o isolamento social no início da pandemia. Nesse contexto, os governadores também costumam ser lembrados (14% das postagens), em tom semelhante ao adotado já na crise sanitária.

Quando o assunto é preços dos combustíveis, o destaque é a gestão da Petrobras, criticada por Bolsonaro por aumentos no preço da gasolina e do diesel. Ao todo, o comando da estatal, cujo sócio majoritário é o próprio governo federal, é citada em 17% dos tuítes com menções a culpados por problemas na economia. O levantamento da DAPP considerou postagens feitas até o fim de maio, período anterior ao aumento da pressão sobre a diretoria da empresa que levou à renúncia de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras. Já a Guerra da Ucrânia surge com um culpado quando o presidente fala sobre os fertilizantes.

O diretor da DAPP, Marco Aurélio Ruediger, avalia que a terceirização da responsabilidade na área econômica é uma estratégia defensiva que, na prática, só tem apelo para “convertidos”.

— É uma estratégia discursiva clara de delegações e terceirizações do problema. Bolsonaro cria justificativas para manter o engajamento e a consistência da sua base, mas ela não é suficiente para furar a própria bolha — diz o pesquisador, que vê ainda uma tentativa do presidente de pautar as eleições com temas do campo moral em detrimento da agenda econômica.

Rivais miram presidente

Apesar de tentar se esquivar da responsabilidade pela economia, Bolsonaro é citado pelos demais presidenciáveis como culpado por problemas econômicos. O presidente e sua gestão são responsabilizados explicitamente em 43,4% das publicações analisadas.

O ex-presidente Lula aparece em seguida, empatado com a gestão da Petrobras, com menções em 13,7% das postagens. O ministro da Economia, Paulo Guedes, só é lembrado em 5% dos tuítes.

Combustíveis e energia são os pontos mais citados pelos presidenciáveis: 30,8% dos tuítes analisados mencionaram o tema. Em seguida, aparecem emprego (19,8%), pobreza e fome (15,7%) e inflação (10,5%).

 — Foto: Infografia/O GLOBO
— Foto: Infografia/O GLOBO

Lula é quem mais tem abordado problemas econômicos. Os dados indicam que o petista tem optado por não citar nominalmente Bolsonaro em suas publicações sobre o tema. No período analisado, o presidente e o governo federal foram explicitamente mencionados em apenas 17% dos tuítes.

— Tudo remete já ao incumbente, basta falar do problema em si. Lula busca não reforçar o nome de Bolsonaro, é uma estratégia discursiva. Ele opera na estrutura comparativa com o momento em que governou o país — pontua Ruediger.

Ciro Gomes (PDT), por sua vez, confirma a tentativa de se firmar como nome de terceira via, responsabilizando, na mesma proporção, Lula e Bolsonaro. Ao todo, ambos foram mencionados 19 vezes cada um no período analisado. O pré-candidato do PDT aborda o tema de combustíveis e energia em 45,4% das menções a problemas econômicos no Twitter.

Já Simone Tebet apresenta volume bem menor de postagens, mas tem mirado o governo federal, também sem citar nominalmente Bolsonaro. As críticas também foram direcionadas à gestão da Petrobras em postagens sobre um terreno que doou a empresa quando era prefeita para uma fábrica de fertilizantes, que nunca teve as obras concluídas. A pré-candidata do MDB tem falado mais sobre combustíveis e sobre o aumento da inflação.

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