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Congressos tentam reaproximar Colômbia e Venezuela, mas Duque barra

Presidente rejeita a carta do Senado do seu país à Assembleia chavista e reitera que enquanto for presidente Bogotá não reconhecerá a “ditadura” de Nicolás Maduro

El presidente del Parlamento de Venezuela, Jorge Rodríguez
O presidente do Parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez, em uma entrevista coletiva nesta quarta-feira em Caracas.Miguel Gutiérrez (EFE)

Os líderes parlamentares da Colômbia e da Venezuela estão dispostos a reaproximar os dois países vizinhos após anos de desencontros, mas esbarram no rechaço do Executivo colombiano. O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, informou nesta quarta-feira que recebeu uma carta de seu homólogo do Senado da Colômbia, Juan Diego Gómez, propondo um processo de normalização das relações bilaterais, rompidas em 2019 como resultado da crise política causada pelo surgimento de Juan Guaidó e pelo cerco da oposição ao Governo de Nicolás Maduro. Iván Duque, presidente da Colômbia, rebaixou quase imediatamente as expectativas de uma reaproximação, ao reiterar que a Colômbia não reconhecerá a “ditadura” enquanto ele for presidente.

A carta de Gómez foi uma iniciativa do Senado colombiano, que na terça-feira aprovou por unanimidade a proposta do congressista Jorge Guevara, do partido opositor Aliança Verde, de criar comissões binacionais que monitorem a normalização de relações diplomáticas e comerciais. “É um assunto comercial que eu diria ser de países fronteiriços”, afirmou o presidente do Senado, do Partido Conservador, acrescentando que a iniciativa é acima de tudo uma mensagem ao Executivo de Duque.

Rodríguez, um dos dirigentes fundamentais do chavismo, declarou que seu país tem “plena disposição” de iniciar um processo “que permita normalizar” as relações diplomáticas, consulares e comerciais entre ambos os países. Para isso, propôs também mecanismos de verificação e cumprimento de acordos. O alcance da iniciativa bilateral ainda parece bastante incerto, dado o pano de fundo de dois governos que constantemente exibem diferenças irreconciliáveis.

Na frente interna da Venezuela, o inesperado anúncio de Rodríguez se produz num momento em que a oposição vive um novo processo de fragmentação interna, expresso sobretudo no distanciamento, e agora confronto, entre os partidos Vontade Popular e Primeiro Justiça. Leopoldo López, Juan Guaidó, Julio Borges e outros políticos opositores protagonizaram recentemente uma áspera troca de recriminações e acusações envolvendo o caso Monómeros, uma empresa petroquímica colombiana pertencente ao Estado venezuelano, mas que está sendo administrada depois que os ativos internacionais foram entregues a Guaidó na qualidade de presidente interino reconhecido por diversos países. Pesam sobre ele suspeitas de gestão inadequada e intrigas internas.

Em nível presidencial, Duque considera Maduro um ditador, e o líder chavista, por sua vez, costuma acusar seu homólogo colombiano de estar por trás de inúmeros complôs de todo tipo. “Enquanto eu for presidente da Colômbia, e em defesa da carta democrática (...), não vamos reconhecê-lo”, reafirmou Duque nesta quarta, quando recebeu em Bogotá a visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. Em suas declarações, qualificou o Governo chavista como uma “ditadura odiosa, corrupta e narcotraficante”. Os dois presidentes também mantêm atritos verbais e políticos por causa de Alex Saab, um diplomata chavista de origem colombiana, que está sendo julgado nos EUA por lavagem de dinheiro e outros crimes —um incidente particularmente tormentoso das relações binacionais. No tabuleiro geopolítico, a Colômbia é um dos principais aliados dos Estados Unidos na América do Sul e uma plataforma para antecipar iniciativas diplomáticas potencialmente hostis ao chavismo.

Duque, que acusa Maduro de proteger em seu território dissidentes da extinta guerrilha FARC e do ainda ativo ELN, respondia assim ao anúncio da comissão legislativa binacional. O presidente colombiano foi o principal promotor do “cerco diplomático” sobre o herdeiro de Hugo Chávez. Em meio a essas tensões, Duque inclusive aproveitou neste mês a comemoração do bicentenário da Constituição de Cúcuta, nas ruínas do templo histórico de Villa del Rosario, a apenas dois quilômetros da fronteira, para demonstrar uma vez mais seu irrestrito apoio a Guaidó, a quem reconhece como presidente interino da Venezuela. Guaidó enviou como seu representante Julio Borges e leu uma mensagem em vídeo. O protocolo da diplomacia colombiana lhe concedeu o mesmo tratamento dispensado aos presidentes do Equador, Guillermo Lasso, e do Panamá, Laurentino Cortizo.

Enquanto o mandatário colombiano redobra sua retórica antichavista, acumulam-se os sinais de uma reabertura gradual da fronteira, um clamor longamente adiado de setores sociais e econômicos em ambos os lados da linha limítrofe. Logo depois de Bogotá dar sinal verde ao diálogo das autoridades e dirigentes corporativos do departamento do Norte do Santander com líderes chavistas do estado de Táchira, a Venezuela retirou no começo deste mês os contêineres que bloqueavam as pontes binacionais. Apesar desses gestos, a “abertura comercial” decretada por Caracas não chega a se concretizar, pendente da difícil coordenação entre funcionários migratórios e de alfândegas.

A esse amálgama de interesses de autoridades nacionais e locais, frequentemente contrapostos, soma-se agora o papel que venha a desempenhar a incipiente comissão legislativa. “Os congressistas dependem da região, diferentemente do presidente. A pressão da sociedade civil e dos órgãos profissionais é maior na corrida eleitoral para o novo Congresso”, explica o analista Ronal Rodríguez, pesquisador do Observatório da Venezuela da Universidade del Rosario, em Bogotá. Enquanto a Colômbia se prepara para ir às urnas nas eleições legislativas de março e nas presidenciais de maio, a Venezuela terá eleições locais e regionais em 21 de novembro. “A última palavra em política externa é do presidente da República”, recorda Rodríguez ao pedir moderação.

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