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Organizador da marcha contra o Governo de Cuba deixa o país

“Foi uma decisão pessoal dele. Pediu um visto e lhe deram. Obviamente, as autoridades cubanas não se opuseram, senão não teria saído”, confirmam fontes diplomáticas espanholas sobre a saída de Yunior García

líder del movimiento Archipiélago, Yunior García
O líder do movimento Arquipélago, Yunior García, posa para uma foto em sua casa no bairro de San Agustín, em Havana, no dia 12.ADALBERTO ROQUE (AFP)

O principal líder da plataforma oposicionista cubana Arquipélago, Yunior García, que convocou a frustrada Marcha Cívica pela Mudança na segunda-feira, chegou nesta quarta-feira à Espanha, informou a agência Europa Press e confirmaram ao EL PAÍS fontes diplomáticas espanholas, que assinalaram que sua saída do país foi “a seu próprio pedido”.

A notícia surpreendeu a plataforma Arquipélago, que nesta quarta-feira, em sua página do Facebook, considerava o ativista desaparecido depois que um dos membros do movimento foi à casa dele e ninguém atendeu à campainha. Fontes diplomáticas indicaram que havia dias que vinham sendo feitas gestões discretas para a viagem de García, que tinha um visto vigente de longa duração para entrar na Espanha. García embarcou para Madri na terça-feira em um voo da Ibéria em companhia de sua esposa, Dayana Prieto.

“Foi uma decisão pessoal dele. Pediu um visto e lhe deram. Obviamente, as autoridades cubanas não se opuseram, senão não teria saído. No momento, tem um visto normal. Não sabemos se vai querer pedir asilo. Será preciso falar com ele para saber quais são seus planos”, assinalaram fontes do Ministério de Relações Exteriores da Espanha. As fontes não quiseram revelar seu paradeiro, mas confirmaram que chegou ao aeroporto de Barajas e não descartam a possibilidade de que continue em Madri. Fontes policiais espanholas confirmaram que García chegou à Espanha na noite de terça-feira.

O Governo cubano garantiu que não houve nenhum acordo entre Havana e Madri para facilitar a saída do dissidente da ilha, informa a agência EFE. Um representante governamental afirmou que as autoridades cubanas “não têm nada a ver” com a viagem e disse que o ativista fez os procedimentos para o visto de turista por conta própria.

Fontes próximas a García disseram que sua decisão de sair de Cuba se deveu às “brutais pressões policiais sofridas durante as últimas semanas”. “Agora é preciso esperar que ele fale e dê suas razões”, acrescenta um de seus amigos próximos. No último domingo, García pretendia desfilar sozinho por um bairro central de Havana em sinal de protesto e para evitar que houvesse violência contra as pessoas que participassem da manifestação convocada para o dia seguinte. Durante todo o domingo, foi cercado em sua residência por partidários do Governo e agentes de segurança à paisana, que não permitiram que saísse de casa e organizaram um ato de repúdio contra ele.

As últimas palavras públicas do García são de domingo, quando estava bloqueado em sua casa e se comunicou via Facebook. “Eu ia marchar sozinho, levando apenas uma rosa branca do Parque Quijote até o Malecón. Isso não viola nenhum direito, pelo contrário, é meu direito humano e constitucional, mas aparentemente não estão dispostos a permitir nem isso”, disse ele na ocasião, garantindo que mantinha sua vontade de desfilar vestido de branco assim que pudesse.

“Dias muito feios em Cuba”

Na mesma mensagem, ele assinalou: “Estamos vivendo dias muito feios em Cuba. Infelizmente, estamos vivendo os piores tempos, tempos que os artistas cubanos conhecem muito bem, os do quinquênio cinza [o período dos anos 1970 em que centenas de escritores, dramaturgos e artistas foram perseguidos e expulsos de seus trabalhos por ser homossexuais ou não cumprir os “parâmetros” revolucionários] e os atos de repúdio terríveis, de ódio contra uns e outros cubanos”.

García criticou que o Governo não permita que se expressem nas ruas gente como ele, que reivindica direitos básicos do cidadão, enquanto outros jovens “são autorizados a se manifestar no Parque Central porque são favoráveis à Revolução, ou ao que eles chamam de Revolução, que retirou todas as suas máscaras demonstrando que é uma ditadura conservadora”. Ele se referia ao ato de apoio ao Governo que estava sendo realizado naquele momento no centro histórico de Havana, que contou com a presença do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.

A manifestação da oposição foi convocada inicialmente para segunda-feira em Havana e diversas cidades do país com horários e itinerários predeterminados, para os quais foi solicitada permissão oficial ao Governo. A marcha da capital deveria ocorrer às 15h de segunda-feira, indo do Malecón até o Parque Central, onde os comerciantes depositariam flores diante da estátua do herói nacional, José Martí. A solicitação foi declarada ilegal e os organizadores foram advertidos pela Procuradoria de que, se saíssem às ruas naquele dia, cairia sobre eles todo o peso da lei.

A partir daí, o Arquipélago denunciou uma campanha de pressões sem precedentes, com atos de repúdio, ofensivas midiáticas de descrédito, prisões arbitrárias, demissões, intimidações contra famílias e condenações exemplares dos manifestantes detidos durante os protestos de 11 de julho. Diante dessa situação, García anunciou uma mudança de estratégia para evitar que houvesse violência contra os manifestantes ou que estes fossem presos, anunciando então sua decisão de marchar sozinho no domingo. A liderança do movimento também alterou a liturgia inicial do protesto de segunda-feira, passando a pedir que as pessoas se vestissem de branco e saíssem às ruas sem desfilar por uma rota determinada. Também foram convocados panelaços de protesto.

Os principais líderes da marcha pela mudança amanheceram na segunda-feira com suas casas sob vigilância policial e com a proibição expressa de sair à rua. Muitos foram submetidos a atos de repúdio, como aconteceu na véspera com o principal líder do protesto, García. Fontes da oposição informaram que vários dissidentes históricos foram detidos. Nas ruas de Havana, principalmente nos bairros e espaços públicos mais movimentados e vigiados desde as manifestações de 11 de julho, incluindo o Malecón, o Passeio do Prado e o Capitólio, a presença policial era numerosa, tanto de uniforme como à paisana. Não houve marchas.

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