_
_
_
_
Governo Bolsonaro
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

O momento mais perigoso de nossa curta vida democrática

Momentos de tensão criam o palco de reação para o grupo subversivo que sequestra e deturpa a religião, a soberania e a liberdade para justificar a violência. O terreno no Brasil é fértil para tais manipulações

Jamil Chade
Presidente Jair Bolsonaro desfila em Brasília no 7 de Setembro.
Presidente Jair Bolsonaro desfila em Brasília no 7 de Setembro.Eraldo Peres (AP)

Último recurso dos canalhas, o patriotismo entrará em cena nesta terça-feira. Levará uma bandeira repleta de cores que, ironicamente, seja talvez o único sinal de tolerância na mão daquele que a segura. Apresentado como uma falsa fundação de uma sociedade que jamais se aceitou em sua composição, o sentimento oco de pátria não passará de um instrumento de corrupção da identidade com um único objetivo: o poder.

O que está em jogo em Brasília, São Paulo ou em outras cidades do país nestes dias é certamente a sobrevivência da combalida e incompleta democracia brasileira. Mas, para o mundo, o 7 de Setembro também será um teste da força do radicalismo nacionalista de extrema-direita, travestido no Brasil de “Bolsonarismo”.

Mais informações
O presidente Jair Bolsonaro durante formatura na Academia Militar dos Agulhas Negras, em Resende (RJ) em 24 de setembro de 2020.
O método Bolsonaro: um assalto à democracia em câmera lenta
Bolsonaro
Ex-presidentes e políticos de 26 países fazem alerta sobre insurreição de Bolsonaro
Apoiadores de Jair Bolsonaro, sempre associando sua figura ao uso de armas e à violência.
Bolsonarismo dobra a aposta na ousadia, desta vez com um novo elemento: as armas

Desde o fim do governo de Donald Trump, nos EUA, as atenções do movimento de ultradireita passaram a ser a manutenção da plataforma brasileira como terreno de ação para suas operações domésticas e internacionais. Canais financeiros e de influência foram estabelecidos, assim como redes extraoficiais de coordenação entre movimentos racistas, xenófobos e violentos. Hoje, esse espaço de atuação no Brasil para a extrema-direita está sob a ameaça, diante da força da resistência que foi capaz de encurralar a besta.

Mas é também nesse momento de tensão que se cria o palco de reação para o grupo subversivo que sequestra e deturpa a religião, a soberania e a liberdade para justificar a violência. O terreno no Brasil é fértil para tais manipulações. Não resolvemos o passado. Nem recente e nem distante. E o resultado é o autoritarismo que ressurge sem vergonha, sem pudor e gargalhando de uma sociedade já oprimida.

Uma tendência autoritária que vai se alimentar da promoção do ódio, a revanche dos covardes, como diria George Bernard Shaw.

Hoje, vivemos o momento mais perigoso de nossa curta vida democrática. Já nos habituamos a falar numa mesa de bar sobre datas de um eventual golpe, na hipótese de violência política, na visita de uma neonazista ao palácio presidencial, nas homenagens a torturadores e nos ataques contra os direitos fundamentais. Normalizou-se o crime e, com isso, cavou-se a própria cova das liberdades.

Hoje, nas instituições da República, nos almoços de família ou nas redações, quem se omitir será cúmplice. Quem se calar não poderá reclamar, quando a anestesia acabar, que vive sob um regime onde a morte se comemora e onde a vida se despreza.

Sem nenhum exagero, a realidade é que das próximas horas resultará nosso futuro. Pelos atos nas ruas, mas também pelas decisões que serão tomadas pela sociedade e suas instituições. O 7 de Setembro de 2021 é provavelmente o mais importante desde 7 de Setembro que pariu a ficção chamada Brasil. Desta vez, o que está em jogo é a promessa inegociável de termos em nossas mãos a esperança de controle de nossos destinos. E que atende por um nome: democracia.

Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_