Casa Vogue de abril destaca a cultura do design em lares pelo Brasil e exterior

“As pessoas sempre imaginam que design, o principal dele, seria a aparência estética, a parte plástica do produto – quando, na realidade, o design é uma série de elementos, entre os quais o desenho e a beleza integram ao produto alguns predicados visuais. Se eu pudesse resumir numa tacada, design é criação.” A frase de Sergio Rodrigues, pinçada do catálogo da exposição Ser Estar, realizada em 2018 pelo Itaú Cultural em sua homenagem, ressoou na minha cabeça algumas vezes enquanto eu perambulava pelas dezenas de eventos, mostras e lançamentos da DW! Semana de Design de São Paulo, em meados de março (que em 2023 coincidiu propositalmente com a feira Expo Revestir, levando jornalistas, arquitetos e assessores de comunicação à exaustão completa). A julgar pelo que eu e a brava equipe da Casa Vogue (capitaneada pela inoxidável Mariana Conte!) vimos ao longo daqueles dias e registramos em uma cobertura exclusiva feita a muitas mãos, é possível intuir que as palavras do mais importante designer de móveis brasileiro de todos os tempos hoje parecem fazer sentido para um número cada vez maior de pessoas.

Evidência inapelável do fenômeno, e que remonta aos anos 1950 e 60, do auge de Sergio, está na reportagem Repertório em expansão, em que a talentosa e confiabilíssima Giuliana Capello retrata as galerias de design moderno e contemporâneo paulistanas e de outras capitais brasileiras que, de meros entrepostos comerciais que eram até outro dia, têm se transformado em verdadeiros centros culturais, realizando exposições bem contextualizadas, promovendo palestras e pesquisas sobre o tema, editando livros – e atraindo muita gente no processo.

Na mostra que ocupou alguns apartamentos do Edifício Virgínia, durante a DW! 2023, o designer de interiores Paulo Carvalho ressaltou a importância da ligação entre passado e presente ao conceber um cenário composto por artigos que carregam suas próprias histórias em diálogo com um cenário já bastante vivido. Nessa conversa, reuniu obras de arte de Rodrigo Zampol, do Atelier ZHZ, que apresentam o efeito da corrosão; vasos de cerâmica da Trem Curadoria; mobiliários à venda na Galeria Teo; além da tapeçaria suspensa, de Nádia Resende, da Leva Oficina. — Foto: Filippo Bamberghi

Ao produzir e difundir tanto conhecimento sobre a área, o movimento desperta cada vez mais interesse, e acaba por emprestar ao design um papel próximo ao da arte – não só para um público restrito e elitizado que sempre enxergou as duas atividades em patamares semelhantes, mas para uma audiência mais ampla, que passa a ver no desenho de mobiliário, objetos e itens para o lar uma manifestação cultural autônoma, capaz de criar e representar a identidade de povos, épocas e lugares do país. Para uma parcela crescente da população, o design sai do simples registro do consumo para assumir um valor superior: não se trata mais só de comprar uma cadeira ou uma mesa para a casa, mas de investigar todas as camadas de informação e conhecimento que aquela cadeira ou aquela mesa trazem consigo.

O designer Daniel Jorge abre seu sobrado em Salvador, na Bahia — Foto: Filippo Bamberghi

Somem-se a isso as moradas de designers e arquitetos que trazemos nesta edição, cada uma exemplar na maneira de explorar a fundo alguma vertente desse ramo – o experimentalismo local de Daniel Jorge, a herança modernista de Leandro Garcia, a tradução desse legado para os dias de hoje de Luciana Martins, as curadorias baseadas em recortes temporais de David Bastos e geográficos de Nildo José – e chega-se a uma extensa radiografia do que chamamos de cultura do design, em franca expansão no Brasil de hoje. A tão falada democratização desse campo passa necessariamente pelo fortalecimento dessa cultura, algo que Sergio Rodrigues também ensinava. Boa leitura!