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Por Giuliana Capello*


O designer Yinka Ilori com bola de basquete de sua autoria, na nova quadra da modalidade 3 x 3, desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres, que abriga uma das maiores coleções de arte pública do Reino Unido — Foto: @MattAlexander_08
O designer Yinka Ilori com bola de basquete de sua autoria, na nova quadra da modalidade 3 x 3, desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres, que abriga uma das maiores coleções de arte pública do Reino Unido — Foto: @MattAlexander_08

“Todo mundo deveria ter a oportunidade de vivenciar sentimentos de alegria, diversão, otimismo e empoderamento, e acredito que a arte e o design são a forma perfeita de difundir isso.” É assim que o artista e designer Yinka Ilori, conhecido por seus projetos multicoloridos, solares e intrigantes, resume o propósito de seus trabalhos. Quem já esteve diante de uma instalação sua sabe do impacto que ela causa, da vontade quase impulsiva de interagir com a obra. Não por acaso, ele coleciona projetos dedicados à infância – ou melhor, à espontaneidade lúdica presente em crianças e (com sorte) em adultos. Um exemplo é o playground The Flamboyance of Flamingo (2022), uma reforma substancial do antigo equipamento existente, fora de uso, situado no Parsloes Park, em Dagenham, no leste londrino. Com padrões geométricos e uma paleta de cores pulsante, Ilori “reintroduziu” antigos habitantes do parque: os flamingos, que agora surgem na forma de saltitantes cadeiras de balanço. E ainda desenhou uma área de estar circular e uma nova quadra de basquete com estruturas abstratas para encorajar formas alternativas e colaborativas de jogo. Um lugar, enfim, para expandir a imaginação.

Perfil Yinka Ilori — Foto: Divulgação
Perfil Yinka Ilori — Foto: Divulgação

Foi também em Londres, onde mora, que o artista criou no final de 2021, sob encomenda do Grupo Lego, a Lavanderia dos Sonhos, um espaço de recreação interativo e gratuito para crianças, inspirado em suas memórias de infância, quando visitava com a família uma lavanderia ao norte da cidade e ficava imaginando como tornar mais divertidas e aventureiras as experiências mais mundanas do cotidiano. Durante o processo de criação, ele perguntou a jovens estudantes como eles reconstruiriam o local para unir as pessoas da comunidade. “As ideias deles moldaram a transformação de elementos típicos de uma lavanderia, do banal ao extraordinário, com pisos coloridos de amarelinha, paredes com murais gigantes, uma máquina de venda automática que distribui Legos em vez de sabão e tambores de roupa que são caleidoscópios”, conta.

O designer Yinka Ilori com bola de basquete de sua autoria, na nova quadra da modalidade 3 x 3, desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres, que abriga uma das maiores coleções de arte pública do Reino Unido — Foto: @MattAlexander_08
O designer Yinka Ilori com bola de basquete de sua autoria, na nova quadra da modalidade 3 x 3, desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres, que abriga uma das maiores coleções de arte pública do Reino Unido — Foto: @MattAlexander_08
A colorida instalação Launderette of Dreams, em Londres, incorporou mais de 200 mil peças de Lego para transformar um lugar comum do cotidiano em espaço comunitário e área de recreação infantil — Foto: Mark Cocksedge
A colorida instalação Launderette of Dreams, em Londres, incorporou mais de 200 mil peças de Lego para transformar um lugar comum do cotidiano em espaço comunitário e área de recreação infantil — Foto: Mark Cocksedge

Impacto positivo

A vontade de espalhar alegria por meio de seu trabalho é algo que Ilori não esconde de ninguém. “O papel do designer hoje é pensar em maneiras de tornar o mundo um lugar melhor para viver, impactar positivamente as pessoas, e faço isso incentivando a esperança e o sentimento de otimismo nos espaços públicos. Isso altera nosso estado de espírito, une as pessoas, cria memórias”, afirma.

Detalhe do playground The Flamboyance of Flamingo, projetado por Yinka Ilori com reaproveitamento de parte dos materiais do antigo parquinho local, em uma iniciativa em parceria com a ONG Create London, dedicada a inserir arte e arquitetura comunitária na cidade — Foto: Divulgação
Detalhe do playground The Flamboyance of Flamingo, projetado por Yinka Ilori com reaproveitamento de parte dos materiais do antigo parquinho local, em uma iniciativa em parceria com a ONG Create London, dedicada a inserir arte e arquitetura comunitária na cidade — Foto: Divulgação

Para ele, devemos tirar proveito do fato de estarmos rodeados de arte e design por todos os lados, da roupa que vestimos aos edifícios que admiramos. “Salpicar nossos espaços com cores e padrões vibrantes ajuda a elevar o ânimo e a encorajar o sonho. Mudo o mundo moldando paisagens, construindo alegria em lugares escuros ou infelizes das nossas comunidades, injetando focos de luz onde antes não havia cor”, completa.

Os chinelos Subu, em edição especial assinada pelo designer com exclusividade para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), com estampas associadas à cultura da África Ocidental que remetem ao amor à natureza e à alegria que sentimos quando estamos rodeados de plantas, rios e paisagens — Foto: Divulgação
Os chinelos Subu, em edição especial assinada pelo designer com exclusividade para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), com estampas associadas à cultura da África Ocidental que remetem ao amor à natureza e à alegria que sentimos quando estamos rodeados de plantas, rios e paisagens — Foto: Divulgação

Nascido em Londres, de pais nigerianos, desde cedo Ilori já sabia que enveredaria por um caminho no qual a criatividade seria ingrediente essencial. Ele até chegou a se matricular na faculdade de Engenharia Civil – para atender ao anseio da família –, mas bastaram dois dias de aulas para ter certeza de que aquilo não era sua paixão. Em 2009, depois de alguns cursos livres, formou-se em Design de Produtos e Móveis na London Metropolitan University. Sua maneira de trabalhar, ele diz, é muito inspirada pela série 100 Cadeiras em 100 Dias (2007), do designer italiano radicado em Londres Martino Gamper. “Foi quando descobri meu amor por contar histórias, algo que também vem das parábolas nigerianas de tradição oral que minha família compartilhava comigo e que são um tema importante em meu processo criativo.”

Em comemoração aos seus 10 anos, o Bulgari Hotel London contratou Ilori para reimaginar o espaço de seu chá da tarde como uma obra de arte escultórica, começando pela fachada do prédio, que ganhou cores ousadas e motivos geométricos — Foto: Divulgação
Em comemoração aos seus 10 anos, o Bulgari Hotel London contratou Ilori para reimaginar o espaço de seu chá da tarde como uma obra de arte escultórica, começando pela fachada do prédio, que ganhou cores ousadas e motivos geométricos — Foto: Divulgação

Ancestralidade inspiradora

Ainda pequeno, ele passava as férias com os pais na Nigéria, visitando a família. “Faço isso até hoje. Essas viagens e o contato com minha herança cultural influenciam os padrões que crio, as paletas de cores que utilizo e até os títulos que dou às minhas peças. Em cada projeto coloco os têxteis da África Ocidental e a narrativa nigeriana em uma conversa lúdica com o design contemporâneo. Isso é muito gratificante para mim e é também, posso dizer, uma resposta à opressão e ao racismo que já enfrentamos, além de uma forma de expressão e celebração”, acrescenta.

Cadeiras da coleção de móveis reciclados criada para a empresa social Restoration Station, durante o festival de design de Londres, para serem leiloadas e financiar workshops de marcenaria e restauração de móveis — Foto: Mark Cocksedge
Cadeiras da coleção de móveis reciclados criada para a empresa social Restoration Station, durante o festival de design de Londres, para serem leiloadas e financiar workshops de marcenaria e restauração de móveis — Foto: Mark Cocksedge
Na paisagem do Soho Farmhouse, a instalação Beacon of Dreams rememora uma visita de Yinka Ilori à costa britânica, quando ouviu o som do oceano ao segurar uma concha no ouvido — Foto: Divulgação
Na paisagem do Soho Farmhouse, a instalação Beacon of Dreams rememora uma visita de Yinka Ilori à costa britânica, quando ouviu o som do oceano ao segurar uma concha no ouvido — Foto: Divulgação
Salpicar nossos espaços com cores e padrões vibrantes ajuda a elevar o ânimo e a encorajar o sonho
— Yinka Ilori

Depois de atuar alguns anos na indústria e estagiar para o designer Lee Broom (um dos mais respeitados profissionais da área no Reino Unido, dono de uma marca global de móveis de luxo e iluminação), Ilori realizou o sonho de fundar o Yinka Ilori Studio, em 2011, onde trabalham oito profissionais em tempo integral e quatro freelancers. Lá, já entregou mais de 90 projetos, incluindo colaborações para marcas como Adidas, Pepsi, Marks & Spencer, Domus, MCM, Maison Courvoisier, Somerset House e Universal Music. Um de seus mais recentes feitos é a linha Yinka Ilori Objects (YIO), uma coleção de objetos de edição limitada tão diversos quanto guarda-chuvas, camisetas, bolas de basquete, meias, toalhas de mesa, canecas esmaltadas e impressões decorativas. “Estou extremamente orgulhoso do resultado, quero ampliá-la ainda mais e espero que ela inspire a próxima geração de criadores e jovens sonhadores.”

O designer na quadra desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres — Foto: @MattAlexander
O designer na quadra desenhada para o Grupo Canary Wharf, no Bank Street Park, em Londres — Foto: @MattAlexander

*Matéria originalmente publicada na edição de abril de 2024 da Casa Vogue (CV460), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.

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