Copa do Mundo 2022: como as altas temperaturas do Catar serão controladas nos estádios?

Unindo design, sustentabilidade e funcionalidade, o engenheiro conhecido como Dr. Cool criou um sistema inovador que promete fazer com que os estádios aguentem até as temperaturas mais altas do país - que podem chegar a 50°C

Por Ana Beatriz Hoffert (@anahoffert)


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Estádio Al Janoub, com projeto de arquitetura assinado por Zaha Hadid Architects — Foto: Hufton + Crow

Após a FIFA decidir que seria impossível realizar a Copa do Mundo 2022 em suas datas habituais - entre junho e julho - por causa do calor extremo do Catar (durante o verão, o país anfitrião atinge temperaturas entre 40°C e 50°C), muito se falou sobre a possibilidade de se criar estádios que fossem resfriados por ar-condicionado. A organização, no entanto, postergou o campeonato para novembro e dezembro, quando o país apresenta um clima mais ameno.

Ainda assim, a preocupação com as altas temperaturas permanece entre jogadores e suas comissões técnicas. A poucos dias para a estreia das seleções no campo, o Catar divulgou a sua iniciativa inovadora para resfriar o interior dos locais onde ocorrerão os jogos - e ela é uma junção de muito estudo do design, arquitetura e tecnologia.

Estádio Ahmad Bin Ali, realizado por BDP Pattern, Ramboll e AECOM e que sediará a abertura da Copa do Mundo 2022 — Foto: Divulgação

O projeto de resfriamento foi liderado pelo Dr. Saud Ghani, professor de Engenharia Mecânica da Universidade do Catar. Apelidado de Dr. Cool, Ghani acredita que a arquitetura dos estádios deve ser um elo positivo entre design e clima. Para ele, os prédios não devem trabalhar contra o clima, mas sim ser inteligentes e trabalhar com ele. O profissional desenvolveu um sistema baseado em sustentabilidade, modularidade e funcionalidade para refrigerar estádios.

O primeiro passo para garantir que o ar quente não entre nos estádios seria analisar suas formas aerodinamicamente para entender como o projeto poderia minimizar essa situação. Durante o processo, vários modelos 3D foram construídos e testados usando lasers de fumaça e cores para analisar o fluxo de ar sobre o estádio, e variantes, como número de espectadores e produção de suor, foram adicionadas. Isso ajudou a definir as dimensões das aberturas superiores do estádio, otimizando sua forma para evitar a entrada de ar quente e proporcionar sombreamento. Além disso, segundo Ghani, outros fatores também foram considerados; o estádio Al Bayt, por exemplo, tinha uma fachada mais escura. Ao trocá-la por uma mais leve, houve uma mudança de 5°C na temperatura.

O sistema de resfriamento fica abaixo de cada cadeira na arquibancada — Foto: Divulgação/YouTube
No campo, os difusores são maiores para resfriarem os jogadores — Foto: Divulgação/YouTube

Enquanto isso, dentro dos estádios, o sistema de ar-condicionado será pontual, ou seja, não será necessário resfriar todo o ambiente. Difusores de tamanho médio soprarão ar em direção ao campo, enquanto debaixo de cada assento os aparelhos também ajudarão a refrescar os torcedores.

Estima-se que esse modelo seja 40% mais sustentável que os demais, já que o sistema só deve ser ligado 2 horas antes da partida. O aparelho ainda recicla o ar frio, que é resfriado duas vezes antes de ser expelido para fora, reduzindo a absorção do ar quente externo.

A tecnologia criada pelo Dr. Cool não foi patenteada, ou seja, pertence a comunidade científica e pode ser reproduzida em outros países no mundo. Além disso, permitirá que as arenas do Catar operem inclusive durante o verão e o calor extremo, já que prometem ser eficazes.

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