Apartamentos

Por Nicoly Bernardes


No hall de entrada, o painel de pau-ferro, inserido no projeto para equilibrar o feng shui, faz pano de fundo para o quadro Sem Título (1983), da série Barbante, de Abraham Palatnik, e as esculturas Bambu (1996) e Ripas (1970), de Ione Saldanha, posicionadas próximas ao acesso à sala de TV, onde está a ilustração Ângela (2022), de Dalton Paula – à esq., a composição é arrematada com as obras Still Life Loop (2019), de José Damasceno (no piso), Jogo da Velha (1990), de Cildo Meireles (para Camila e Conrado, “o artista plástico brasileiro mais importante vivo”), Mosaico em Azul (1970), de Joaquim Tenreiro (ao fundo), e, no mobiliário, mesa de jantar Janelas, de Lucas Recchia,  do Studio Cas, e cadeiras Girafa, de Juliana Lima Vasconcellos — Foto: Ruy Teixeira
No hall de entrada, o painel de pau-ferro, inserido no projeto para equilibrar o feng shui, faz pano de fundo para o quadro Sem Título (1983), da série Barbante, de Abraham Palatnik, e as esculturas Bambu (1996) e Ripas (1970), de Ione Saldanha, posicionadas próximas ao acesso à sala de TV, onde está a ilustração Ângela (2022), de Dalton Paula – à esq., a composição é arrematada com as obras Still Life Loop (2019), de José Damasceno (no piso), Jogo da Velha (1990), de Cildo Meireles (para Camila e Conrado, “o artista plástico brasileiro mais importante vivo”), Mosaico em Azul (1970), de Joaquim Tenreiro (ao fundo), e, no mobiliário, mesa de jantar Janelas, de Lucas Recchia, do Studio Cas, e cadeiras Girafa, de Juliana Lima Vasconcellos — Foto: Ruy Teixeira

Frida Kahlo e Diego Rivera, Marina Abramović e Ulay, Chiachio e Giannone: as entrelinhas da história da arte narram casos de amor, ora efêmeros, ora duradouros, entre artistas que compartilham a paixão por criar (e um pelo outro). Não que os opostos não se atraiam, mas seguir a mesma direção também rende frutos, como quando Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade, cada um na sua linguagem artística, canibalizaram o cenário cultural na Arte Moderna, em 1922, e no Manifesto Antropófago, em 1928, redigido pelo escritor e influenciado pela pintora. Do lado dos apreciadores desse universo, em um pano de fundo mais contemporâneo, dois guardiões das artes escrevem juntos novos capítulos da cena nacional: Camila Yunes Guarita e Conrado Mesquita. Ela, art advisor e criadora do projeto Kura, e ele, marchand e sócio da galeria Galatea, escolheram o endereço em São Paulo, após se casarem no ano passado, para conjugar a vida íntima e a profissional em um apartamento modernista situado em prédio erguido em 1973.

Conrado e Camila posam com o banco Sesc, de Lina Bo Bardi, em frente às obras Escalpo/Cabeleira (1981), de Tunga, e Amazonino Redondo (1992), de Lygia Pape, e à monotipia Sem Título (1965), de Mira Schendel — Foto: Ruy Teixeira
Conrado e Camila posam com o banco Sesc, de Lina Bo Bardi, em frente às obras Escalpo/Cabeleira (1981), de Tunga, e Amazonino Redondo (1992), de Lygia Pape, e à monotipia Sem Título (1965), de Mira Schendel — Foto: Ruy Teixeira
No living, o mobiliário coordena os movimentos, da esq. para a dir., com mesa lateral Maracanã, de Giuseppe Scapinelli (sobre a qual repousa a luminária do Studio Dominici), sofá Tonico, de Sergio Rodrigues, poltrona MP-97, de Percival Lafer, mesa de centro B de Bola, do Palma, sofá C, de Zanini de Zanine, da 31 Mobiliário, e dupla de poltronas Espaldar, de Juliana Lima Vasconcellos (em primeiro plano) – entre as obras de arte, na parede à esq. figuram as telas Tear Drops (1993), de Mira Schor, Relevo Progressivo (1981), de Abraham Palatnik, Entretela (1972), de Paulo Roberto Leal, e Endola (2022), de Allan Weber, parte da série Traficando Arte, e, na parede à dir., duas aquarelas Sem Título, de Marina Perez Simão (próximas à janela), e as quatro raríssimas pinturas da série Cotidiano (1974), de Wilma Martins — Foto: Ruy Teixeira
No living, o mobiliário coordena os movimentos, da esq. para a dir., com mesa lateral Maracanã, de Giuseppe Scapinelli (sobre a qual repousa a luminária do Studio Dominici), sofá Tonico, de Sergio Rodrigues, poltrona MP-97, de Percival Lafer, mesa de centro B de Bola, do Palma, sofá C, de Zanini de Zanine, da 31 Mobiliário, e dupla de poltronas Espaldar, de Juliana Lima Vasconcellos (em primeiro plano) – entre as obras de arte, na parede à esq. figuram as telas Tear Drops (1993), de Mira Schor, Relevo Progressivo (1981), de Abraham Palatnik, Entretela (1972), de Paulo Roberto Leal, e Endola (2022), de Allan Weber, parte da série Traficando Arte, e, na parede à dir., duas aquarelas Sem Título, de Marina Perez Simão (próximas à janela), e as quatro raríssimas pinturas da série Cotidiano (1974), de Wilma Martins — Foto: Ruy Teixeira
Quem gosta de quadro gosta de design. Nas casas que visitava para colecionar obras, sempre me chamava a atenção o mobiliário
— Conrado Mesquita

Feito casa-galeria, o local abriga e expõe as coleções do casal patrono do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e do Museu de Arte de São Paulo (Masp), e é aí que os contrapontos começam a aparecer. Camila, paulistana, herdou dos avós maternos, Ivani e Jorge Yunes, o gosto pelo colecionismo e conduz seu escritório em águas contemporâneas. Conrado, carioca, percorre portfólios históricos, dos anos 1960 a 80, desde que começou a jornada como curador na galeria do pai, Ronie Mesquita, com quem trabalhou por 15 anos, período em que tomou gosto pela arte encerrada – de artistas já falecidos – brasileira e latino-americana. As perspectivas singulares se complementam em uma linha do tempo que convida a um passeio entre épocas e estilos: de Mira Schendel a Carolina Cordeiro.

Na sala de TV, destaque para os quadros 1ª  Gamelar (2018, acima, à esq.), e Ângela (2022, à dir.), ambos de Dalton Paula, e Sambistas no Canavial (1965), de Heitor dos Prazeres — Foto: Ruy Teixeira
Na sala de TV, destaque para os quadros 1ª Gamelar (2018, acima, à esq.), e Ângela (2022, à dir.), ambos de Dalton Paula, e Sambistas no Canavial (1965), de Heitor dos Prazeres — Foto: Ruy Teixeira
Na sala de jantar, mesa de quartzito Vitória-Régia, da Brasigran, e c adeiras Curva, de Zanini de Zanine, da 31 Mobiliário, tudo sob pendente Conca, do Estúdio Orth – o trio de quadros é composto, da esq. para a dir., por duas telas Sem Título (2019), de Jaider Esbell, e por Lentes Parabólicas e Acrílico (1972), da série Homenagem ao Espectador, de Ubi Bava — Foto: Ruy Teixeira
Na sala de jantar, mesa de quartzito Vitória-Régia, da Brasigran, e c adeiras Curva, de Zanini de Zanine, da 31 Mobiliário, tudo sob pendente Conca, do Estúdio Orth – o trio de quadros é composto, da esq. para a dir., por duas telas Sem Título (2019), de Jaider Esbell, e por Lentes Parabólicas e Acrílico (1972), da série Homenagem ao Espectador, de Ubi Bava — Foto: Ruy Teixeira
No living, entre as salas de estar e de jantar, vaso Solitário, de Leandro Garcia, luminária de piso J. Hirth, de Sergio Rodrigues, e banco esculpido em madeira maciça, de Zanine Caldas — Foto: Ruy Teixeira
No living, entre as salas de estar e de jantar, vaso Solitário, de Leandro Garcia, luminária de piso J. Hirth, de Sergio Rodrigues, e banco esculpido em madeira maciça, de Zanine Caldas — Foto: Ruy Teixeira
Muitas das obras da nossa casa contam histórias sobre nós
— Camila Yunes Guarita

Camila lembra de quando Walter Benjamin, em análise da pintura Angelus Novus, de Paul Klee, alude a um anjo que voava para o futuro, mas os ventos o levavam a contemplar o passado. “A arte são essas interconexões entre tempos distantes, mas que se conectam. O Conrado trouxe para a minha vida esse resgate do passado e de artistas históricos, como Grauben do Monte Lima, grande pintora do século 20, e ele também ampliou o olhar para nomes mais atuais. Cada vez mais é importante juntar esses tempos”, conta a colecionista, cujo acervo, assim como o de Conrado, não costuma ficar estático em casa. De tempos em tempos, os objetos viajam pelo mundo para exibições em museus e feiras, como a obra Bambu (1966), de Ione Saldanha, que será exposta na Bienal Internacional de Veneza a partir deste mês.

Detalhe da obra Jogo de Xadrez (1969), de Ione Saldanha — Foto: Ruy Teixeira
Detalhe da obra Jogo de Xadrez (1969), de Ione Saldanha — Foto: Ruy Teixeira
Ângulo da sala de jantar, decorada com pendente Conca, do Estúdio Orth, e quadros This Sign Knows (2016), de Laure Prouvost, e Une Serpent contre l’Enfant (1968), de Antonio Dias — Foto: Ruy Teixeira
Ângulo da sala de jantar, decorada com pendente Conca, do Estúdio Orth, e quadros This Sign Knows (2016), de Laure Prouvost, e Une Serpent contre l’Enfant (1968), de Antonio Dias — Foto: Ruy Teixeira

Para além da estética, o significado de cada item e a relação com os artistas fazem parte da equação que define o que fica e o que vai. “Muitas das obras da nossa casa contam histórias sobre nós”, revela Camila, em meio a lembranças de momentos em que a relação entre curador e criador foi além – como a admiração pela obra da artista plástica Wilma Martins, autora da coleção Cotidianos, que viveu no ostracismo por ser casada com um dos maiores críticos de arte do século passado, Frederico Morais, e por Jaider Esbell, multicriativo do povo originário macuxi, com quem Conrado tinha contato próximo até pouco tempo antes de o artista morrer, aos 42 anos, no auge de sua carreira.

No corredor que leva para o escritório e para os quartos, três quadros guiam o caminho, da esq. para a dir.: Tetine (2014), de Erika Verzutti, Phlegm (2021), de Victor Bengtsson, e Sem Título, de Rirkrit Tiravanija — Foto: Ruy Teixeira
No corredor que leva para o escritório e para os quartos, três quadros guiam o caminho, da esq. para a dir.: Tetine (2014), de Erika Verzutti, Phlegm (2021), de Victor Bengtsson, e Sem Título, de Rirkrit Tiravanija — Foto: Ruy Teixeira
O painel de pau-ferro com linhas orgânicas separa as áreas sociais e íntima e serve de pano de fundo para as obras, da esq. para a dir., Sem Título (1990), de Carla Accardi, Empilhado (1987), de Ione Saldanha (sobre o piso), e Sem Título (1974), de Mira Schendel — Foto: Ruy Teixeira
O painel de pau-ferro com linhas orgânicas separa as áreas sociais e íntima e serve de pano de fundo para as obras, da esq. para a dir., Sem Título (1990), de Carla Accardi, Empilhado (1987), de Ione Saldanha (sobre o piso), e Sem Título (1974), de Mira Schendel — Foto: Ruy Teixeira

Nos 410 m² da morada, a qualidade do mobiliário não fica para trás. Entre itens que já faziam parte do acervo e novas peças, algumas garimpadas em leilão, o lar de Camila e Conrado insere os móveis na narrativa tecida pelo arquiteto Klaus Schmidt, à frente do Kas Arq, com contribuição do designer de interiores Alex Ruas Vaz Wege e paisagismo de Carlos Brioschi. “Quem gosta de quadro gosta de design. Nas casas que visitava para colecionar obras, sempre me chamava a atenção o mobiliário”, diz Conrado, cercado por criações históricas de Sergio Rodrigues, Zanine Caldas e Joaquim Tenreiro, atestando o sucesso de mais um casamento: o da arte com o desenho industrial.

*Matéria originalmente publicada na edição de abril/2024 da Casa Vogue (CV 460), disponível em versão impressa, na nossa loja virtual, e para assinantes no app Globo Mais.

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