Viajar de avião pode afetar sua vida sexual?

Mas uma história que nunca consegui classificar na categoria de verdade ou ficção é se voar de avião pode (ou não) impactar a vida sexual. Abaixo, descrevo uma conversa com Marie Morice, sexóloga clínica e fundadora da Lilith Your Life , para tentar chegar ao fundo da questão.

Nos últimos anos, a pesquisa sobre o impacto de viajar de avião em nossos corpos tem aumentado gradualmente. O interesse vem de ambos os lados da moeda da aviação – os passageiros frequentes querem descobrir a melhor forma de combater os efeitos colaterais negativos das viagens, enquanto as companhias aéreas comerciais querem garantir que estão cuidando dos consumidores quando escolhem voar com elas.

De acordo com Marie, aqui estão alguns efeitos físicos muito comuns, embora temporários, de viajar de avião.

“Normalmente, a pressão do ar na cabine é equivalente à vista a 5.000 a 8.000 pés. Isso é o equivalente a viajar para grandes altitudes, como montanhas ou resorts de esqui, onde o direito à privação de oxigênio é alto, levando à potencial saturação de oxigênio no sangue, o que não é sustentável a longo prazo.”

“Passageiros que mudam de fuso horário provavelmente experimentarão desalinhamento do ritmo circadiano (nosso relógio interno), levando ao transtorno de jet lag (JLD), bem como insônia, aumento do estresse, alterações na produção e regulação hormonal e desempenho reduzido.”

“A umidade ideal é relatada em torno de 40-70% – Os níveis de umidade nas cabines de avião são em torno de 5-20%, levando à secura geral e desidratação: no nariz, na garganta, nos olhos, etc. Isso também pode facilitar a disseminação de infecções. Um estudo de pesquisadores austríacos mostrou ainda que um voo de longa distância pode ressecar nossa pele em até 37% e pode levar ao aumento da coceira.”

“Pesquisas descobriram que hipóxia leve (depleção de oxigênio) em aviões pode aumentar os níveis de ansiedade, depressão, emoções negativas, ataques de pânico, claustrofobia, diminuir os níveis de energia e nossa capacidade de lidar com o estresse – combinado com desidratação e outros efeitos físicos mencionados acima, isso pode alterar alguns aspectos do nosso humor.”

Semelhante ao aumento de estudos sobre os impactos de viajar de avião, também houve um aumento na pesquisa científica para a indústria do bem-estar – especificamente, no mercado de bem-estar sexual, uma área que deve atingir um valor de US$ 55 bilhões até 2028. Isso se espalhou para o mundo das viagens, à medida que aventureiros, caçadores de emoções e viajantes buscam explorar seu bem-estar sexual como parte da última tendência da indústria .

“Histórias de viagens de avião e sexo frequentemente se referem ao 'Mile High Club' – sexo no ar. Mas, na verdade, há impactos diretos e indiretos de voar em nossos corpos que podem ter um impacto em nossa vida sexual”, explica Marie. “Tornou-se uma forma tão comum de viajar que as pessoas tendem a subestimar os impactos potenciais que isso pode ter em seus corpos, mentes e vidas sexuais.”

“Não há dúvida de que as cabines de aeronaves são lugares peculiares e potencialmente altamente estressantes para os humanos passarem qualquer quantidade (regular) de tempo, mesmo que nos levem a lugares lindos e relaxantes”, ela nos conta. “Eles são um ambiente estranho onde a pressão do ar é semelhante à do topo de uma montanha de 8.000 pés de altura (2,4 km). A umidade é menor do que em alguns dos desertos mais secos do mundo, enquanto o ar bombeado para dentro da cabine é resfriado a até 10 °C (50 F) para remover o excesso de calor gerado por todos os corpos e eletrônicos a bordo.”

“Os efeitos cumulativos da hipóxia, privação de sono e desidratação definitivamente não são propícios a uma vida sexual saudável – o ideal é que você se sinta exatamente o oposto: oxigenado, descansado e hidratado.”

“Além disso, pesquisas mostram que há uma ligação direta entre ansiedade, claustrofobia, incerteza e sua libido – hormônios que sobem no cérebro, como norepinefrina e epinefrina, diminuirão a testosterona e isso terá um efeito imediato na libido e até mesmo na função sexual.”

Eu ouço regularmente reclamações de amigas em férias lamentando a mudança de seu ciclo devido à viagem. No passado, descobri que o voo "trouxe" uma menstruação mais cedo do que o esperado, mas essa crença era puramente baseada na experiência vivida por mim e por amigos ou familiares - eu nunca soube realmente se havia alguma ciência por trás disso. Então, perguntei a Marie se havia alguma conexão entre voar e ciclos menstruais.

“Não diretamente, mas os fatores associados a viagens aéreas podem afetar seu ciclo menstrual indiretamente: o jet lag, o estresse geral, os padrões de sono interrompidos ligados a voos longos podem perturbar seu equilíbrio hormonal e potencialmente levar a irregularidades no ciclo”, ela explica. “É seu corpo reagindo a um ambiente bastante hostil.”

“Viajantes frequentes podem estar experimentando versões intensificadas dos vários sintomas descritos acima”, admite Marie. “Uma maneira de descobrir é entender os impactos de longo prazo na saúde dos comissários de bordo. Em 2007, a Escola de Saúde de Harvard lançou o 'Estudo de Saúde dos Comissários de Bordo' para melhorar as condições de trabalho para tripulações de cabine ao redor do mundo. É o estudo longitudinal de saúde mais longo focado em entender os efeitos na saúde dos comissários de bordo de trabalhar no ambiente de cabine de avião.”

“Os comissários de bordo são alguns dos trabalhadores menos estudados, mas a tripulação de voo é exposta a muitos estressores físicos e psicossociais, como radiação ionizante cósmica, níveis mais altos de ozônio, interações estressantes com passageiros, interrupção grave do ritmo circadiano e outras exposições. Embora o estudo incentive as tripulações de voo a relatar sobre sua saúde no Flight Health App em uma série de indicadores, a saúde sexual não parece fazer parte das medições – este seria um critério adicional relevante para continuar pesquisando o impacto de longo prazo da exposição ao voo em nossas vidas sexuais.”

“Faça exercícios antes e depois do voo para bombear oxigênio”, aconselha Marie. “Comece a se hidratar pelo menos 24 horas antes do voo, beba muita água, durante e depois, e evite o consumo excessivo de bebidas com cafeína ou alcoólicas. Lembre-se de caminhar durante os trajetos longos, tente meditar e respirar profundamente e mude suas rotinas de sono antes de voar para reduzir o risco de jet lag.”

*Matéria originalmente publicada na CNN Traveller.