As obras para recuperar o Rio Grande do Sul devem prever adaptação e resiliência aos crescentes movimentos das mudanças climáticas em todo o planeta. Apesar de projetado a longo prazo, o conceito de “cidade-esponja” chega como uma das principais soluções para cidades que sofrem com as cheias. Especialistas acreditam que o Brasil pode se tornar referência na adaptação de cidades, mas antes precisa desenvolver projetos que tenham como base a confluência entre desenvolvimento urbano e respeito à natureza. A enchente de 1941 era, até então, a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Na ocasião, cerca de 70 mil pessoas ficaram desabrigadas, entre elas, a jovem Nadyr Mallet Pereira, conhecida hoje como Dona Zoca. Agora, com 98 anos, ela viu a casa encher de água mais uma vez: "Foi tudo feio. Foi muito triste. A gente não teve correria, contato com ninguém. Passei no trabalho, a gente fechada ali dentro. Não se via nada, ninguém, só via a água correr pertinho do rio, passava aquelas casas boiando. Enxergava nada, nada, tapou tudo. As casas lá já eram preparadas para a enchente, mas foi feio. Sofremos." Depois da tragédia, as autoridades de Porto Alegre se mobilizaram para construir um sistema de proteção contra cheias. Apesar de amenizar, o complexo não solucionou os problemas, o que acendeu um alerta em todo país. Dados da Confederação Nacional de Municípios indicam que apenas 22% dos gestores consideram que as cidades estão preparadas para enfrentar as mudanças climáticas. O termo “cidade-esponja” ficou mais conhecido no Brasil depois da tragédia deste ano no Rio Grande do Sul. Isso porque o modelo chega como uma das mais eficazes soluções para locais que sofrem com enchentes. A arquiteta e urbanista gaúcha Taneha Bacchin, professora de Projeto Urbano na Universidade de Delft, na Holanda, explica o conceito, que pensa na adaptação do uso do solo em infraestruturas que sejam úteis para a cidade ao mesmo tempo que absorvam um grande volume de água: “A noção de ‘esponja’ é uma noção em que você gerencia a água da chuva no local. O fluxo dessa água de chuva não está sendo descarregada em outras regiões da cidade. Então você está gerenciando essa água localmente, no sítio, e absorvendo, armazenando essa água, inclusive, para um uso no futuro, no caso de seca. É realmente uma esponja que faz a absorção da água no local”. O investimento em infraestrutura é preciso ser projetado a longo prazo e vai sair caro. O Brasil pode se tornar uma referência na adaptação de cidades com soluções baseadas na natureza, mas precisa desenvolver um plano de ação e criar parcerias para que os projetos não fiquem só no papel. E quem acredita nisso é o pioneiro do conceito de cidades-esponja, professor da Universidade de Pequim e arquiteto premiado, o chinês Kongjian Yu, que falou ao jornal Valor Econômico. Ele desenvolveu a ideia de cidade-esponja a partir da experiência de infância em um vilarejo da China frequentemente afetado por tempestades de monções. Na região, agricultores usavam fossos e lagos para armazenar as águas da chuva para época de seca. A China foi pioneira, mas há bons projetos sendo desenvolvidos em países como Holanda, Dinamarca, Estados Unidos e até em cidades no Brasil. Os especialistas reforçam a necessidade de respeitar o espaço dos cursos d’água cuidando da vegetação e do solo permeável, fazendo uma ocupação inteligente das orlas. “A Rádio CBN, a Editora Globo, o Jornal O Globo e o Valor Econômico uniram-se para colocar seu bem mais precioso, o jornalismo de qualidade, a serviço dos gaúchos, da reconstrução do Estado e da organização de debates sobre ações preventivas para evitar que episódios como esse se repitam. Toda a receita publicitária obtida para produção desta série será destinada a organizações envolvidas no socorro às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.” Mais recente Próxima Porto Alegre tem mais de 45 mil desempregados após as chuvas