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"Não posso prometer que vou encontrá-las", diz presidente eleito da Nigéria sobre sequestradas pelo Boko Haram

"Não posso prometer que vou encontrá-las", diz presidente eleito da Nigéria sobre sequestradas pelo Boko Haram

Muhammadu Buhari afirma que fará o possível para resgatar as meninas sequestradas há um ano, mas diz que não pode oferecer esperança infundada. O futuro presidente, que assume o cargo no fim de maio, promete fazer mais do que seu antecessor na luta contra o grupo terrorista

REDAÇÃO ÉPOCA
14/04/2015 - 16h09 - Atualizado 14/04/2015 16h25
Reprodução de vídeo feito pelo grupo terrorista Boko Haram mostra mais de 100 meninas que, segundo o grupo, fazem parte das meninas sequestradas em Chibok, norte da Nigéria (Foto: Reprodução/AP)

Há exatamente um ano, homens armados invadiram uma escola secundária no vilarejo de Chibok, no norte da Nigéria, mataram os seguranças e sequestraram mais de 200 alunas que estavam no local para fazer uma prova. A ação, um dos mais ousados ataques do grupo terrorista Boko Haram, chocou a opinião pública. Protestos foram organizados na Nigéria e em outros países do mundo exigindo que o governo nigeriano resgatasse as meninas, em uma campanha chamada Bring Back Our Girls ("Traga de volta nossas garotas"). Não adiantou. Enquanto o atual presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, é acusado de não fazer nada contra os terroristas, o presidente eleito Muhammadu Buhari, que assume o poder no dia 29 de maio, não quer "oferecer esperança infundada". Pode ser que as meninas nunca sejam resgatadas no final.

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Em um artigo publicado no The New York Times, o presidente eleito Muhammadu Buhari criticou o antecessor e prometeu fazer diferente. Mas manteve o pé no chão. "Precisamos falar com honestidade sobre se é possível resgatar as meninas. Atualmente, o paradeiro delas continua desconhecido. Nós não sabemos o estado de saúde delas, se elas ainda estão juntas, se estão vivas. Por mais que eu queira, eu não posso prometer que vou encontrá-las: fazer isso seria oferecer esperança infundada. Mas eu digo para cada pai e mãe, cada familiar e amigo das crianças que meu governo fará tudo o que for possível para trazê-las para casa", disse Buhari.

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Não será fácil para o presidente eleito conseguir isso. Durante o mandato de Goodluck Jonathan, o Boko Haram cresceu bastante, e hoje já controla o Estado de Borno e tem forte presença em outros dois Estados no nordeste do país. O grupo também entrou em território do Chade e Camarões, mas diferentemente da Nigéria, os dois países combateram e conseguiram vencer os terroristas. Para enfrentar o Boko Haram em território nigeriano, Buhari promete retomar um acordo de treinamento militar com os Estados Unidos e reforçar as tropas que enfrentam o Boko Haram. Mais importante, ele promete atacar as causas que geram o fundamentalismo, como a pobreza. "Meu governo vai primeiro derrotar o Boko Haram militarmente, e depois assegurar a educação que o grupo despreza para ajudar a própria população local".

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Mas enquanto o futuro presidente faz promessas, o Boko Haram continua seu reino de terror. A Anistia Internacional publicou nesta terça-feira (14) um novo relatório sobre os abusos aos direitos humanos e crimes de guerra praticados pelo grupo. Segundo a Anistia, não são apenas as 200 meninas que foram sequestradas: mais de 2 mil mulheres caíram nas mãos do Boko Haram. Muitas foram forçadas à escravidão sexual ou treinadas para lutar. A Anistia Internacional entrevistou mais de 370 pessoas da região, muitas delas ex-sequestradas pelo grupo, e identificou cerca de 5 mil vítimas. "O Boko Haram atacou sistematicamente a população civil. Nesse contexto, a Anistia Internacional acredita que ele cometeu crimes contra a humanidade", diz o relatório.

bc








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