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Trump será o candidato republicano - e pode derrotar Hillary Clinton

Trump será o candidato republicano - e pode derrotar Hillary Clinton

Com a saída de Ted Cruz e de John Kasich da disputa nas primárias, Trump vai centrar seu fogo em Hillary

RODRIGO TURRER
04/05/2016 - 14h11 - Atualizado 04/05/2016 14h11
Trump agradece apoiadores após vitória em primárias da Flórida (Foto: Win McNamee/Getty Images)

Os piores pesadelos dos republicanos se confirmaram na noite de terça-feira (3), com mais uma vitória de Donald Trump nas primárias do Partido Republicano em Indiana, e a desistência dos seus dois rivais, o senador Ted Cruz e o governador de Ohio, John Kasich, de continuar na disputa. Indiana era o último estado em que os rivais que restaram de Trump alimentavam esperanças de uma reviravolta. Com 53,25% dos votos, Trump levou todos os 51 delegados de Indiana, e fica a menos de 200 delegados para conseguir a nomeação automática, sem ter que enfrentar uma convenção contestada do partido — quando não há um vencedor claro. Com a saída de Cruz e Kasich, Trump selou sua nomeação do Partido Republicano para concorrer na eleição presidencial dos Estados Unidos.

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Cruz abandonou a disputa na noite de terça-feira, dia 03, depois de depositar todas as sua fichas e recursos em uma vitporia em Indiana -  perder de lavada para Trump. O anúncio causou surpresa até para integrantes da campanha de Cruz. Às vésperas, Cruz prometia manter a campanha e lutar "até a convenção" mesmo se perdesse em Indiana. Kasich retirou a candidatura na quarta-feira. Reince Priebus, presidente do Comitê Nacional Republicano, reconheceu logo após o anúncio de Cruz que Trump é o "provável candidato", num esforço para dar fim à guerra no partido. "Precisamos nos unir e focar a derrota de Hillary Clinton", escreveu Priebus em tuíte concluído com #NeverClinton (Clinton nunca).

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A rejeição a Trump continua enorme, não apenas entre seus opositores democratas ou entre as minorias que ele ataca em sua campanha, como os latinos e muçulmanos, mas dentro da elite republicana e dos conservadores ideológicos, que ainda torcem o nariz para ele. o bilionário Charles Koch – um dos financiadores do Tea Party e da recente radicalização dos republicanos que acabou com os moderados no partido – declarou que um governo Hillary seria preferível à vitória de Trump.

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Agora, no entanto, é tarde. Trump é o virtual candidato e há quase nada que o Partido Republicano possa fazer para barrar sua candidatura. A cúpula republicana apostava em uma verdadeira cruzada nos bastidores para impedir a candidatura de Trump na convenção nacional, marcada para o dia 18 de julho, em Ohio. Se Trump não atingir os 1.237 delegados, o número mágico que garante 50% dos delegados mais um, o resultado seria uma convenção disputada, em inglês “contested convention”, termo usado para designar uma convenção na qual não há vencedores em uma primeira votação. Com a vitória em Indiana e a saída de Cruz e Kasich, essa alternativa fez água.

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Agora as atenções se volta à campanha nacional, provavelmente contra a democrata Hillary Clinton, que apesar de ter perdido para Bernie Sanders em Indiana, segue como favorita. Trump tem feito acenos à elite republicana, mas nenhum nome de peso do partido, senadores, governadores ou lideranças históricas, declarou apoio a ele. Nas eleições gerais, no entanto, muitos republicanos já admitem apoiar Trump, mesmo sendo contrários ao seu discurso fácil, resumido a frases de efeito, centrado em comércio exterior, empregos e desilusão com a "perda da grandeza americana". Será dificil para Trump bater Hillary nos estados tradicionalmente democratas, como a Califórnia ou a Costa Leste, onde seu desempenho nas prévias foi espetacular. O eleitor médio de Trump é branco, de classe média baixa, sem nível universitário, decepcionado com a situação econômica, desconfiado de bancos, da imprensa, dos ricos e poderosos em geral. É o público que aderiu à sua retórica nacionalista e populista.

Mesmo com Hillary depontando nas pesquisas como favorita contra Trump, seis pontos à frente, a campanha de Trump é imprevisível, e ele já mostrou ser capaz de derrotar os adversários com enorme facilidade. Além disso, com a nomeação assegurada, Trump terá mais tempo para bater forte em Hillary Clinton - algo que ele faz como poucos. Em um momento em que muitos americanos estão cansados da política tradicional, e que a raiva é o motor do voto de milhões de americanos, alguém com uma histórica política tão longeva quanto Hillary tem um largo telhado de vidro para servir de alvo. Além disso, Hillary não terá tempo de se defender. Ela tem de duelar com Bernie Sanders em mais nove estados para garantir a nomeação pelo partido democrata - o que vai tomar quase um mes e meio de seu esforço. 

Qualquer que seja o resultado das eleições, o mal já está feito. O atual racha no Partido Republicano pode ser fatal para as pretensões republicanas na disputa de 2016 – e para o futuro do próprio partido. Se a cisão for profunda demais depois da Convenção Partidária, em julho, é possível surgir até um novo grupo político. Seria a repetição da história da fundação do próprio Partido Republicano, nos tempos de Abraham Lincoln.








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