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Por que produtores de vídeo on-line estão incomodados com o Facebook

Por que produtores de vídeo on-line estão incomodados com o Facebook

Youtubers como Felipe Neto criticam a omissão da rede social de Mark Zuckerberg em combater os piratas de conteúdo

RAFAEL CISCATI
01/09/2015 - 08h00 - Atualizado 03/11/2016 22h10

Houve um tempo em que o comediante Felipe Neto conquistava desafetos entre os ídolos adolescentes. Um tanto verborrágico em seu canal no YouTube, criado em 2010, Neto chamou as fãs do cantor Fiuk de retardadas e ganhou notoriedade achincalhando a série de filmes Crepúsculo. A estratégia de metralhadora deu certo. Neto ganhou audiência, dinheiro e fundou a Paramaker – uma rede brasileira que reúne 5 mil canais do YouTube. São  os youtubers – pessoas que produzem vídeos e que ganham dinheiro com publicidade. Em nome dessas pessoas, Neto arrumou um poderoso rival: o Facebook.

Neto encabeça, no Brasil, o protesto de um grupo de youtubers insatisfeitos com a conduta do Facebook. As reclamações deles se repetem em todo o mundo: seus vídeos, que demandam tempo e dinheiro para ser feitos, circulam de graça pela rede em versões pirateadas. O Facebook não consegue conter o problema. “O Facebook tem completo descaso pelo nosso trabalho”, diz.

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Felipe Neto (Foto: Stefano Martini/ÉPOCA)

A bronca é a seguinte: um internauta faz o download de um vídeo do YouTube, produzido por um desses criadores. Sem dar o crédito, republica o material no Facebook como se fosse seu. Esse tipo de pirataria incomoda porque quem produz conteúdo perde o controle sobre ele. O vídeo circula sem gerar curtidas na página do autor. Também são publicados no publicador do próprio Facebook sem um link que leve para o vídeo do YouTube. Eis o problema: o YouTube remunera o criador. O Facebook não. “Uma pessoa que assiste a seu vídeo no Facebook não vai querer rever no YouTube. Quando isso ocorre, você não ganha nada em troca”, diz Neto. A cereja do bolo: o Facebook lucra com a pirataria. A rede exibe propaganda nos espaços próximos aos vídeos e se beneficia com a atenção que eles atraem.

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As regras de conduta de usuários no Facebook condenam a prática. Os youtubers se ressentem porque, segundo eles, o Facebook faz pouco para evitá-la. “Para fazer uma queixa, temos de preencher formulários. Não há contato direto”, diz Neto. “Às vezes, leva mais de uma semana para o vídeo sair do ar.” Também não há mecanismo de alerta de plágio.
 

Dos 1.000 vídeos mais populares do facebook no primeiro trimestre, 725 eram piratas

A pirataria de vídeos começou a gerar preocupações no ano passado, quando o  Facebook passou a incentivar a publicação de vídeos em sua própria plataforma.  Para isso, em resumo, a rede social passou a usar seu sistema de filtragem de conteú­do para “dar uma mãozinha” a vídeos colocados no publicador do Facebook. Se você subisse o mesmo conteúdo no YouTube e no Facebook, a rede faria com que o segundo aparecesse em mais perfis do que o primeiro. Segundo um levantamento da empresa de análise de dados Tubular Labs,  dos 1.000 vídeos mais populares vistos no Facebook no primeiro trimestre deste ano, 725 eram piratas. Quem pirateia não lucra, mas atrai mais atenção. Páginas de empresas e de celebridades usam a técnica para atrair fãs.

No passado, o YouTube também teve dificuldades para lidar com o plágio. O site ganhou apreço entre os youtubers quando, ainda em 2007, decidiu dividir parte da receita publicitária com eles. Na mesma época, criou um sistema que verifica os vídeos para determinar se eles são cópias de material protegido por direito autoral. Se a cópia de um vídeo é publicada no YouTube, o criador do original é alertado. Ele pode pedir a remoção ou receber a receita publicitária gerada pela cópia.

O Facebook afirma que trabalha em uma solução parecida. Matt Pakes, gerente de produtos da empresa, disse recentemente que identificar cópias “envolve grande dificuldade técnica para uma operação com essa escala”. Em julho, a rede anunciou que vai dividir a receita publicitária gerada pelos vídeos com alguns parceiros. Em 2015, o Facebook, uma empresa de mais de US$ 250 bilhões, diz que tem dificuldades para fazer o que o YouTube conseguiu há mais de cinco anos. Dá para entender a bronca de Felipe Neto e seus youtubers. 
 

Gráficos sobre os youtubers  (Foto: época )







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