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PIX — Foto: Getty Images
PIX — Foto: Getty Images

Para falar de FED Now, meio de pagamentos instantâneos em desenvolvimento pelos Estados Unidos que promete preencher lacunas do mercado, precisamos antes falar do Pix e do cenário dos sistemas financeiros brasileiro e norte-americano. O produto criado pelo nosso Banco Central (BC) revolucionou o setor no Brasil, se tornando o segundo método de pagamento instantâneo mais popular, ficando atrás apenas do Reino Unido. Obviamente isso chamou a atenção do mundo, principalmente pela tecnologia e segurança que o produto utiliza e oferece aos consumidores, nos firmando como um grande laboratório de inovação.

O BC impôs o uso do Pix a todos os bancos nacionais, muitas vezes podendo ser utilizado sem taxas, fazendo do método de transação um dos mais inclusivos do país. Antes disso, cerca de 121 milhões de brasileiros não possuíam vínculo com instituições financeiras. Atualmente, esse número caiu para cerca de 34 milhões. Agora, a população está ainda mais bancarizada e consegue utilizar os serviços e benefícios de contas digitais e carteiras virtuais para pagar ou aceitar pagamento de forma segura e rápida.

Já os Estados Unidos estão no processo de implantação, aperfeiçoamento e aceitação do FED Now, pagamento instantâneo criado pelo Federal Reserve, banco central norte-americano. Semelhante ao nosso Pix, uma vez implementado com sucesso, as pessoas físicas e jurídicas poderão realizar transferências entre contas bancárias a qualquer hora.

Mas como é o sistema de pagamento atual no país norte-americano? Se comparado com o Brasil, eles quase não utilizam soluções tecnológicas financeiras. Grande parte das pessoas ainda paga suas contas básicas, como aluguel, energia elétrica, internet, TV e outras via cheque pelo correio. Aqui no Brasil, por sua vez, não é difícil encontrar pessoas que sequer se lembram como funciona a transação via cheque e, dependendo da idade, nem mesmo sabem o que é um cheque. Lá, muitas transações entre empresas também são feitas utilizando o cheque ou dinheiro em espécie. Alguns utilizam transferência bancária, mas o serviço ainda é demorado. O envio de dinheiro entre instituições bancárias diferentes pode demorar até 5 dias úteis.

Diante deste cenário e visto que os Estados Unidos estão se preparando para dar um grande passo na frente de pagamentos instantâneos -- passo este, vale ressaltar, que nós demos antes e com grande maestria --, gostaria de destacar lições de segurança que foram aprimoradas aqui no Brasil e que os Estados Unidos podem aprender e aplicar por lá.

Aviso de chave Pix com histórico de fraude

Atualmente, os clientes podem transformar determinados dados pessoais, como número do celular, e-mail ou CPF, em uma chave Pix. Por diversos motivos, os fraudadores também podem criar uma chave para receber transações online. É muito comum encontrarmos bandidos cibernéticos vendendo algum produto ou serviço, pedindo pagamento via Pix e depois sumindo ou bloqueando aquele contato. Muitos deles usam a mesma chave por muitos dias e com muitas pessoas.

Com isso, o Banco Central implantou uma regulação que permite que pessoas denunciem chaves fraudulentas. Depois de muitas acusações e denúncias, ao tentar enviar qualquer quantia para aquela conta, a instituição financeira avisa, via pop-up na tela do cliente, que aquele código Pix pode estar envolvido em tentativas de golpes. O mesmo acontece quando uma chave Pix ou um QR Code está recebendo muitas transferências em um pequeno espaço de tempo: o banco avisa que pode se tratar de uma tentativa de fraude.

Soluções em caso de roubo ou furto de celular

Uma situação que acontece com frequência é uma pessoa ter seu aparelho celular roubado e os bandidos invadirem o aplicativo do banco e roubar todo o dinheiro por transações instantâneas. Ao mesmo tempo que o imediatismo do Pix é bom, as pessoas fazem transferências que caem na hora, em ocasiões como essa pode não ser.

Hoje já é possível limitar os valores diários que podem ser enviados via Pix. Isso ajuda bastante a barrar esse prejuízo. Outra forma de mitigar perdas similares seria, em determinados horários, atrasar o envio do montante em algumas horas. Isso daria tempo de o cliente avisar sobre o ocorrido para a instituição financeira e bloquear as transações pendentes que não foram feitas por ela.

Autorização de grandes transações apenas em lugares conhecidos

Essa é outra solução que pode diminuir o problema com transações mediante roubo. As instituições só autorizam transações de grandes valores -- a partir de R$ 10 mil, por exemplo -- em locais ou redes de Wi-Fi já pré-cadastrados pelo usuário. Assim, os clientes só podem realizar transações de um aparelho autorizado, que esteja localizado em casa ou no ambiente de trabalho, diminuindo as chances de transações em lugares desconhecidos da instituição bancária.

Para as contas empresariais, que costumam transacionar altas quantias diárias, essa solução é excelente. Como essa é uma solução de segurança criada pelos bancos, até o próprio BC poderia estudar e implantar em seu sistema proprietário.

* Renan Basso é co-fundador e diretor de negócios da MB Labs, especializada em consultoria e desenvolvimento de aplicativos e plataformas digitais.

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