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Gustavo Cavenaghi (à esq.), head da Kortex Ventures, Talita Salles e Tácito de Almeida, fundadores da startup Biologix — Foto: Fotos: Divulgação / Arte: Clayton Rodrigues
Gustavo Cavenaghi (à esq.), head da Kortex Ventures, Talita Salles e Tácito de Almeida, fundadores da startup Biologix — Foto: Fotos: Divulgação / Arte: Clayton Rodrigues

Nas reportagens da série Investidor entrevista Startup, o head de um fundo (de Venture Capital, Corporate Venture Capital ou Private Equity) escolhe uma startup e entrevista seu founder ou CEO. Neste episódio, Época NEGÓCIOS convidou Gustavo Cavenaghi, head da Kortex Ventures, fundo de capital global que investe em empresas de tecnologia do setor de saúde em estágio inicial. O fundo nasceu de uma parceria entre três grandes corporações da área de saúde no Brasil: Grupo Fleury, Grupo Sabin e Bradesco.

Para esta reportagem, Cavenaghi escolheu bater um papo com a Biologix, healthtech brasileira criada em 2015 e especializada em medicina do sono. A empresa integra tecnologias como medical devices, IoT, inteligência artificial, aplicativos móveis e computação na nuvem para dar aos profissionais de saúde uma ferramenta inovadora, precisa e acessível para diagnóstico de apneia do sono. Quem representou a Biologix na conversa foram Talita Salles, cofundadora e diretora de Marketing e Vendas, e Tácito de Almeida, fundador e CEO da Biologix.

Confira a seguir os principais trechos dessa conversa.

 — Foto: Clayton Rodrigues
— Foto: Clayton Rodrigues

[Gustavo Cavenaghi] Sugiro apresentar a Biologix, contar um pouquinho da empresa. Eu posso fazer o mesmo aqui do lado do fundo.

[Tácito de Almeida] A Biologix é uma healthtech brasileira focada em medicina do sono. A gente se propôs a resolver um problema muito comum, que tem uma altíssima prevalência na população mundial, que é apneia do sono – 33% da população adulta tem algum grau de apneia do sono e a maioria dessas pessoas, no mundo inteiro, inclusive com referência nos Estados Unidos, permanece sem diagnóstico.

O grande problema dessa condição permanecer tão subdiagnosticada na população é que ela traz diversos comprometimentos, tanto para a qualidade de vida, como para a saúde das pessoas. Já está provado as consequências da apneia não tratada em doenças cardiovasculares. Problemas de saúde mental, depressão, acidente de carro – porque a pessoa tem o sono todo fragmentado, e esse sono é não reparador. Ela pega o carro para dirigir, dá uma cochilada e tem acidente. Então, a apneia se mostrou uma grande oportunidade.

O produto que a gente tem hoje é uma plataforma que permite que profissionais de saúde, médicos, dentistas e fisioterapeutas possam oferecer um exame para apneia do sono super acurado, ele foi validado cientificamente, oferecendo em seus consultórios e, assim, a gente consegue democratizar o acesso a esse exame, que hoje é restrito a uma parcela muito pequena da população.

A polissonografia é um exame extremamente caro, os equipamentos padrão são super caros e complexos de manusear, são inacessíveis, tanto do ponto de vista financeiro, quanto do ponto de vista logístico, porque só existem nos grandes centros. O paciente tem que se deslocar e dormir fora do ambiente dele. E não é escalável: os clínicos têm um, dois, três, cinco camas, e não conseguem atender a grande parte da população. Esse é um dos principais pontos quando a gente fala em democratizar os cuidados.

[Gustavo Cavenaghi] Boa, eu vou falar um pouquinho do lado da Kortex, então. A gente, do outro lado da mesa, mas no mesmo setor, é um fundo de investimento em saúde. A gente só investe em empresas de tecnologia do setor de saúde. A gente é um fundo de seed e Série A, então geralmente a gente entra naquelas empresas que estão começando, ou estão começando a faturar ou estão precisando de capital para aumentar sua máquina de vendas e crescer o seu faturamento.

Essa estratégia começou há três anos atrás, mais ou menos, com a parceria do Grupo Fleury e do Grupo Sabin. Um ano depois, o Bradesco [Seguros] entrou e a gente fechou um fundo com esses três investidores. A gente é um fundo global, então investimos hoje nos Estados Unidos, em Israel, no México e no Brasil, mas podemos investir teoricamente em qualquer outra geografia.

Vocês falaram muito em democratização do acesso. Como funciona hoje para um paciente ter acesso à solução da Biologix? Qual é a jornada?

[Tácito de Almeida] Hoje tem dois caminhos principais. O primeiro é se você tiver o seu médico, o seu profissional de saúde, se ele for um cliente Biologix, ele vai te oferecer esse exame. Só que ainda tem muitos médicos que não são clientes da Biologix. Então, se você quiser fazer um exame, você pode entrar no site da Biologix, colocar o seu CEP e ali vão ser apresentados os centros que têm o exame mais próximo de você. Hoje, a gente tem cerca de 4.100 credenciados no Brasil.

A gente não tem nenhuma interferência sobre o valor que ele vai pagar. Só para você ter noções de grandeza, de R$ 200 a R$ 600, depende do perfil, do local. É muito mais barato do que uma polissonografia, que pode chegar a R$ 3.000, R$ 4.000. Sim, alguns convênios cobrem, mas a gente também está falando de uma parcela da população limitada. O paciente vai ter que ir no laboratório do sono, que só tem disponível nas grandes cidades, nas capitais. E tem fila.

[Gustavo Cavenaghi] E como funciona depois que um paciente fez o exame? Para onde vai esse dado que é coletado?

[Talita Salles] Num exame tradicional, um técnico vai passar horas lendo, vai fazer todo o laudo e, às vezes, o paciente passa semanas esperando o resultado. No nosso caso, a gente trabalha com inteligência artificial. Esses dados vão ser captados pelo sensor de oximetria, vão ser passados para um celular que é Bluetooth, e esse aplicativo vai jogar os dados na nuvem. Com a nossa inteligência artificial, com os algoritmos, com tudo que a gente tem ali para trabalhar, em poucos minutos, no dia seguinte, quando o paciente conclui o exame, três a cinco minutos depois, o profissional de saúde que solicitou já tem pronto o resultado e um laudo assinado por um médico especialista em sono.

[Gustavo Cavenaghi] Isso é tudo digital, automatizado, 100%?

[Tácito de Almeida] Exatamente. E aí tem um ponto também que é legal, que acho que esse é um diferencial da Biologix, que é a única solução que entrega esse laudo de forma totalmente automática. O médico não tem que fazer nada, não tem que fazer download de dados, não tem que contratar o técnico para fazer laudo. E, mais do que isso, é online, está na nuvem, então o médico pode estar na praia. Ele consegue ver de onde ele estiver.

[Gustavo Cavenaghi] Ou seja, de repente, então, uma solução até de telemedicina com o paciente sem sair de casa, que recebe o aparelho dentro de casa, faz o exame, devolve o aparelho em casa, e nem o paciente nem o médico saíram de casa e tem diagnóstico, tem tudo.

[Tácito de Almeida] Totalmente. E a partir daí, a jornada do paciente vai depender do resultado do exame, se ele precisa de algum outro exame completar, se ele já vai direto para algum tipo de tratamento, dependendo do nível da apneia dele.

Gustavo, deixa eu te fazer uma pergunta agora. Você analisava as health techs aí. Vocês viram muitas sleeptechs?

[Gustavo Cavenaghi] A gente viu algumas, mas esse é um mercado novo. O problema sempre existiu, mas acho que a tecnologia só está chegando agora para conseguir endereçar esse problema.

Aproveitando essa pergunta que você fez, um dos motivos pelo qual a gente está entendendo e aprofundando é justamente esse mercado ser novo. Como todo mercado novo, ele tem muitos desafios. E eu queria ouvir um pouco de vocês onde está o grande desafio do crescimento desse mercado. Porque o problema é grande, ele existe. Mas o que, na visão de vocês, é o grande desafio da Biologix para conseguir que esse mercado acompanhe a velocidade que a empresa quer? É a educação dos médicos? É o paciente ter consciência do problema?

[Talita Salles] São os dois pontos. O paciente tem consciência, sim. Eu acho que a pandemia, de certa forma, ajudou nisso, porque o paciente começou a prestar mais atenção na saúde dele. Isso é um ponto que foi positivo. E, ao mesmo tempo, é um dos nossos grandes gargalos, que é a conscientização da população. O ronco não é piada. Ele sempre foi visto como uma piada. Mas não é piada. O ronco é a pontinha do iceberg de um problema muito maior. Ele pode estar escondendo um problema maior ou, na verdade, ele pode ser só o começo, daqui 5 ou 10 anos, essa pessoa vai estar com uma apneia grave. Então, o primeiro ponto é isso, é conscientização.

Ainda falando do paciente, também tem essa questão da própria apneia do sono. É uma condição tão comum, mas que a maioria das pessoas, de todos os níveis, nunca ouviu falar. Então, tem esse desafio de gerar esse awareness.

E você mesmo citou a educação médica. Eu me formei há 20 anos já, sou fisioterapeuta, não tinha isso. Todas as áreas da saúde tinham que conhecer, tinham que saber, tinham que entender a importância do sono como um dos pilares principais da saúde e perguntar para o paciente.

[Gustavo Cavenaghi] A gente está falando bastante da apneia do sono aqui, mas qual é a visão de longo prazo da Biologix? Onde vocês veem a Biologix chegar nos próximos 5 ou 10 anos?

[Talita Salles] Hoje, a gente está focado em resolver o problema do diagnóstico da apneia do sono, mas a gente sabe que não é só resolver o diagnóstico. A gente precisa ajudar a encaminhar esse paciente para o tratamento. Então, a nossa estrutura já está sendo montada, na verdade, para abraçar o sono de uma forma mais horizontal e de levar esse paciente nas várias fases, de triagem, fazer o primeiro reconhecimento do problema, e aí vai caminhando até a parte de tratamento, direcionar o tratamento, mas deixar ele percorrer uma jornada completa, deixar ele bem amparado em todo o sistema.

[Tácito de Almeida] Isso passa, provavelmente, em relação ao produto, à gente ampliar as opções de exames, provavelmente falar de insônia também, algum tratamento para insônia e, lá na ponta, no fim da jornada, a gente conectar algum tipo de marketplace de profissionais de saúde para atender esses pacientes para fazer tratamento efetivamente. Imagino que, dessa forma, a gente vai estar levando pacientes para esses médicos do sono, teoricamente numa quantidade nunca vista antes. Nós vamos colocar muita gente nesse funil de tratamento, que hoje é super restrito.

[Gustavo Cavenaghi] Minha última dúvida: Brasil é uma fronteira limitante ou faz sentido levar isso para outros países, seja América Latina, seja Estados Unidos? As dores são as mesmas?

[Tácito de Almeida] Exato, são semelhantes. Hoje nos congressos de sono se fala em um bilhão de pessoas com apneia de sono sem tratamento. É um número absurdo. O especialista que fundou o Centro de Estudo do Sono de Stanford falou que essa é a maior crise de saúde nos Estados Unidos. Vale para o Brasil, vale para países como os Estados Unidos, que tem a questão de obesidade mais alta, o México, vale para o mundo inteiro.

A gente já tem uma operação no Chile, que é menos regulado, então é mais fácil para entrar, e agora a gente está avaliando outros países Latam: México, Colômbia, Argentina, Uruguai Mas já temos gente interessada no Egito, em Angola, na França, Canadá, Austrália, Portugal, Espanha.

Deixa eu fazer uma pergunta, Gustavo, para voltar para a questão do VC. Na visão de vocês, como é que funciona a jornada da investida? Como é que é; tamanho do cheque, o tempo, o que vocês esperam na saída, quanto tempo vocês esperam que as empresas fiquem ainda investidas?

[Gustavo Cavenaghi] A gente tem um fundo hoje que o intervalo de investimento dele são 10 anos. Então, a gente tem do ano 1 ao ano 10 para fazer todos os investimentos e para fazer todos os desinvestimentos, que significa vender a nossa participação em todas as empresas. Então, a gente separa do ano 1 ao ano 5 o período de investimento, que é onde a gente faz toda a alocação de capital nas empresas, faz os primeiros cheques. E do ano 5 ao ano 10, a gente precisa começar a fazer as nossas saídas dessas empresas.

A gente sempre usa, como proxy aqui, geralmente, mais ou menos a fase de maturação de empresas de tecnologia, são 5 a 6 anos para fazer o período de investimento e desinvestimento. Mas, nesse intervalo, a gente geralmente faz o que a gente chama de primeira rodada, que é: conhecemos uma empresa, gostamos daquela empresa, acreditamos na tese, a gente faz o primeiro aporte, seja num seed, numa série A, e aí geralmente vai de R$ 5 a R$ 10 milhões, dependendo da empresa, da maturidade, do quanto ela fatura, do mercado em que ela atua e por aí vai. E aí, conforme essa empresa vai crescendo, se existe a necessidade de um cheque maior, a gente consegue fazer um follow-on, alocar mais uma quantidade de dinheiro, geralmente maior, naquela empresa que a gente já investiu.

[Talita Salles] Quanto tempo, mais ou menos, dura esse processo?

[Gustavo Cavenaghi] Depende muito. O padrão acaba sendo uns dois a três meses entre uma conversa, a gente apresentar no nosso comitê de investimento, aprovar e fazer o aporte. Mas se é uma empresa maior, por exemplo, se é uma empresa mais complexa com muitos processos, por exemplo, uma indústria, aí a due dilligence demora mais. Se a gente encontra alguma coisa nas due dilligences jurídicas, contábil e fiscal, que tem que endereçar, pode demorar mais um pouco também, assim como pode ser mais rápido. Se a gente é um follower, se é uma rodada que está sendo estruturada por um líder e a gente vai colocar só um pouquinho de dinheiro na empresa, a gente consegue fazer isso de forma muito mais rápida, porque todo o processo está sendo tocado por um líder, ele já vai fazer a diligência, a gente já recebe todo esse material, estuda o material e consegue deliberar em cima desse material. A gente já fez em dois meses, assim como já fez em oito, dez. Varia bastante.

[Tácito de Almeida] Acontece, por exemplo, de vocês serem o líder da rodada e depois do diligence vocês chamarem outros investidores para participar da rodada? E o contrário, vocês serem chamados também por outras que já estão nessa fase?

[Gustavo Cavenaghi] Sim, a gente faz os dois. Geralmente, fora do Brasil a gente só acompanha, a gente não lidera nenhuma rodada. A gente quer ter um investidor local que entende daquele mercado, que conhece aquele ecossistema. No Brasil, a gente pode acompanhar ou liderar. Aí vai depender do tamanho da rodada, do perfil da empresa, se ela tem bastante aderência com a tese do fundo. Se ela estiver levantando uma rodada muito grande, a gente não consegue liderar, porque o cheque nosso é pequeno. Dependendo da empresa, a gente quer liderar, quer estar próximo dos empreendedores, quer compor conselho, quer estar no dia a dia. Vai depender de caso a caso.

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