As Olimpíadas de Paris estão apostando em medidas de sustentabilidade para que essa seja a edição dos jogos considerada a mais "verde" de toda a história. E o uso de plástico é um dos principais pontos da narrativa construída pelos organizadores.
A maior bandeira sustentável do evento tem sido a limpeza do rio Sena --- mas está longe de ser a única. Os maiores atletas do mundo irão receber as suas medalhas sobre pódios que um dia foram lixo.
A responsável por transformar resíduos plásticos em uma das imagens mais marcantes do universo esportivo é a startup francesa Le Pavé.
Segundo o Comitê Olímpico Internacional, serão 63 pódios construídos para as Olimpíadas e Paralimpíadas --- o menor pódio tem 4 metros, enquanto o mais longo tem 33 m. As peças foram feitas para se encaixar, como espaços individuais, para duplas ou times completos. Ao todo, 685 módulos de encaixe foram produzidos, cada um com 45 quilos. Ao todo, 40 toneladas de material reciclado foram utilizados para a construção dos pódios.
E não é só isso. A pequena fábrica também produziu cerca de 11 mil cadeiras feitas a partir de embalagens vazias de shampoo e milhões de tampas de garrafa pet. Eles irão fazer parte da estrutura de duas arenas esportivas recém-construídas --- um centro de esportes aquáticos e o palco das partidas de badminton e competições de ginástica. Para os assentos, foram utilizadas 100 toneladas métricas de garrafas recicladas.
Em entrevista ao The New York Times, Marius Hamelot, um dos co-fundadores da companhia, afirmou que apesar da abundância de plástico estar danificando o meio-ambiente, há um grande potencial econômico no reaproveitamento do material.
As Olimpíadas foram o gatilho de crescimento para a companhia --- que passou de três funcionários para 34 em pouco tempo. Além disso, a Le Pavé abriu duas novas fábricas para dar conta da demanda.
Nos últimos anos, o governo francês tem trabalhado para que companhias com projetos de tecnologia voltados para a sustentabilidade --- o que permitiu à companhia alcançar o status de startup, ainda que não produza softwares.
Antes de ganhar impulso com as Olimpíadas, a companhia já coletava plástico na vizinhança de Paris e transformava em materiais de alta qualidade para o setor de construção.
No início, Hamelot, que estudou arquitetura, usava um forno de pizza para fazer experiências com resíduos plásticos de equipamentos eletrônicos. Em 2018, Pasquet entrou na sociedade e a Le Pavé nasceu.
Em 2019, após participarem da incubadora La Ruche, eles patentearam uma forma de compressão térmica e, pouco tempo depois, foram procurados pela Solideo --- empresa responsável pela infraestrutura da Olimpíada de 2024.
Para conseguir o material necessário, a startup trabalhou com outras 50 cooperativas de reciclagem locais. Antes dos protótipos serem aprovados, foi preciso mais de uma dúzia de diferentes criações e diversos testes de estresse.
Escolas da região também ajudaram no trabalho. 50 escolas de ensino fundamental coletaram cerca de 1 milhão de tampas de garrafas amarelas --- utilizadas nas cadeiras pretas dos estádios. O objetivo era ensinar mais sobre reciclagem e como reduzir emissões de carbono.
O processo não elimina totalmente a pegada de carbono dos objetos produzidos, já que é preciso diversas técnicas de aquecimento, mas deixa rastros menores do que se a organização optasse por utilizar plásticos novos.