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Por Rafael Faustino


Pedro Conrade, fundador e CEO da Neon — Foto: Divulgação / Arte: Clayton Rodrigues
Pedro Conrade, fundador e CEO da Neon — Foto: Divulgação / Arte: Clayton Rodrigues

Um dos players mais importantes da onda de desburocratização da relação entre bancos e clientes vista nos últimos anos, a Neon teve crescimento acelerado nos seus sete anos de história. Fruto da insatisfação de seu fundador e CEO com o sistema bancário e suas múltiplas taxas, a startup evoluiu de um cartão pré-pago para uma fintech robusta, com conta, empréstimos, cartão de crédito, seguro e serviços para MEIs, entre outros, com foco principal nas classes C, D e E.

Hoje com 1,7 mil funcionários, a Neon virou unicórnio oficialmente em 2022, mas só depois de passar por algumas dificuldades. A quebra de um banco parceiro e investimento em serviços que não deram certo fazem parte da trajetória da empresa, assim como os acertos, que atraíram mais de 15 milhões de clientes e R$ 3,2 bilhões em rodadas de investimento.

Saiba mais sobre a trajetória e os segredos do sucesso desse unicórnio brasileiro.

Como surgiu a Neon

A Neon foi fundada em julho de 2016, em São Paulo, por Pedro Conrade. Na época, ele tinha apenas 23 anos, cursava Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas e conta que nunca tinha trabalhado em uma instituição financeira – e seus conhecimentos sobre a área eram pequenos.

A insatisfação de Pedro com os serviços bancários tradicionais foi o que o motivou a fundar a Neon, segundo ele conta a Época NEGÓCIOS. “O estopim foi quando eu precisei usar R$ 1 do limite do cheque-especial e me cobraram R$ 46 pela taxa de uso de crédito”, lembra. Isso o levou a efetivar um plano que já tinha em mente: oferecer serviços financeiros mais simples e acessíveis para os brasileiros.

Especial Unicórnios Brasileiros — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini
Especial Unicórnios Brasileiros — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini

Desde o início, diz Conrade, a intenção era oferecer um atendimento simples para pessoas simples: o foco da empresa esteve sempre nas classes C, D e E, que hoje representam 80% da clientela. O direcionamento dos serviços acabou caminhando, a partir da conta digital, para serviços de obtenção de crédito, como consignado privado, um crédito tradicionalmente mais barato que outras modalidades. Isso, conta o fundador e CEO da empresa, a partir de uma experiência própria de precisar desse tipo de recurso e sentir a dificuldade de obtê-lo pelos bancos tradicionais.

“Quando eu criei a empresa, eu ganhava R$ 1.500 por mês. Eu sentia na pele quanto era difícil pagar R$ 800 por ano em tarifa, ter uma interface com meu banco tão complexa que eu não conseguia entender quanto eu tinha, quanto rendia, quanto eu devia... era muito difícil. E eu estudava em uma das melhores faculdades do Brasil. Imagina o quão complexo isso é para as pessoas que não têm acesso a essa educação?”, questiona.

O primeiro grande tropeço

A startup criada originalmente por Conrade não se chamava Neon, mas Controly, e consistia numa conta digital atrelada a um cartão pré-pago – saída encontrada por uma startup que ainda não era uma instituição financeira regulada pelo Banco Central e, por isso, não podia oferecer contas completas. Mas, mesmo com tal limitação, já existia a facilidade de movimentar o dinheiro e gerenciá-lo com a ajuda de um aplicativo. Em 9 meses de operação, foram 10 mil pedidos de cartão.

A mudança veio a partir de uma joint venture com o banco mineiro Pottencial, que acabou rebatizado Banco Neon e passou a oferecer contas-correntes digitais com mais funcionalidades. A Controly virou a Neon Pagamentos, que emprestou seu nome ao novo banco e utilizava o parceiro para oferecer os novos recursos aos seus clientes.

A parceria funcionou por algum tempo. Em maio de 2018 o Banco Neon foi liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central devido a dificuldades financeiras. Embora não fosse responsável pelo banco, a Neon Pagamentos ficou proibida de abrir novas contas, já que não tinha mais um banco parceiro atuante.

A situação foi resolvida rapidamente com uma nova parceria, desta vez com o Banco Votorantim, que acabaria por ser um parceiro de longo prazo da Neon.

Primeiros grandes investimentos recebidos

Com a credibilidade garantida pelo novo parceiro, o modelo de negócio da Neon, enfim, ganhou tração. Já como uma das fintechs que mais chamavam a atenção no país, em 2018 a startup recebeu sua primeira rodada de investimentos de grande porte, no valor de R$ 72 milhões. Participaram os fundos Monashees e Omidyar Network.

Nesse momento, a empresa já se sentia confiante para expandir seus serviços, e lançou um cartão de crédito livre de anuidade (pouco comum na época) e também uma modalidade de conta digital para profissionais PJ (pessoa jurídica). A equipe havia pulado, em um ano, de 130 para 380 pessoas.

O crescimento seguiu em 2019, com a primeira aquisição especializada em serviços para microempreendedores individuais, o que deu escala aos negócios voltados para PJ e deixou a Neon com um total de 3,3 milhões de contas abertas e 1,6 milhão de clientes ativos. Nesse ponto, a Neon já tinha deixado para trás as dificuldades do tempo da inviabilização do banco Pottencial.

“A principal dificuldade foi encontrar uma forma de fazer a empresa crescer de forma eficiente. A gente errou algumas vezes, fazendo crescer demais sem cuidar das fundações. Mas a gente aprendeu com isso e, desde então, passou a ser mais estratégico”, conta Pedro Conrade.

Mais investimentos e o status de unicórnio

Fintechs como a Neon concentram diversos serviços financeiros ao alcance do smartphone do cliente — Foto: Getty Images
Fintechs como a Neon concentram diversos serviços financeiros ao alcance do smartphone do cliente — Foto: Getty Images

Com o porte adquirido pelas aquisições e avanços no mercado, a Neon já podia competir por investimentos de fundos peso-pesados. Eles chegaram em 2019, com o aporte de R$ 400 milhões realizado pelo Banco Votorantim, que aprofundava sua parceria com a startup, e o fundo General Atlantic.

No ano seguinte, veio novo investimento, de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão), em rodada liderada pela General Atlantic, e com participação de BlackRock, PayPal Ventures, Endeavor Catalyst e o banco BBVA, via Propel Venture Partners.

A fintech usou os novos recursos para ampliar a oferta de crédito, lançar novos produtos para pessoas físicas e empresas e aumentar contratações de profissionais, além de aprofundar a atuação para além de São Paulo e Rio de Janeiro, onde tinha sua maior base de clientes. Foram feitas também as aquisições da corretora Magliano e da Consiga Mais.

Nessa época, a Neon também já acumulara reconhecimentos no ecossistema de inovação, como ao ser a fintech mais nova a aparecer no ranking Super Fintechs, da plataforma de inovação Distrito. Também ficou em quarto lugar na lista LinkedIn Top Startups 2019, que elenca jovens empresas onde os brasileiros querem trabalhar.

Todos esses números indicavam que a Neon já fazia parte de um clube seleto: o de unicórnios brasileiros, composto pelas startups com valor superior a US$ 1 bilhão. A confirmação, no entanto, veio somente em fevereiro de 2022, quando levantou mais US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) investidos integralmente pelo banco BBVA.

Para Pedro Conrade, ser um unicórnio é só um detalhe. “A gente não se importa muito com essa nomenclatura. Não estamos aqui pelo valor da empresa, mas para atender bem os clientes, os trabalhadores. Até pela maior parte de nossos clientes serem de classes C, D e E, e nosso principal motor é o quão bem a gente consegue atendê-los”, disse.

2023: grandes números e demissões

Em fevereiro de 2023, um ano após ganhar o status de unicórnio, a Neon entrou para a lista de empresas anunciando demissões em massa, com um corte de 9% do time, ou cerca de 200 funcionários. Segundo nota enviada à imprensa, os ajustes aconteceram para “fazer frente aos desafios macroeconômicos deste ano”, para preservar a eficiência operacional e a sustentabilidade da empresa "sem onerar o cliente final".

Oito meses depois, em outubro, veio um segundo corte de funcionários, de tamanho não revelado pela empresa.

Em agosto de 2023, a Neon informou ao mercado que atingiu a marca de 26 milhões de clientes, com uma carteira de crédito de R$ 4 bilhões.

Expandindo serviços: o futuro da Neon

Na época do último investimento recebido, o CEO da Neon afirmou que a intenção da empresa para o futuro próximo era lançar novos produtos e “entregar caminhos simples e sustentáveis para obter crédito de forma justa”. Tal objetivo foi buscado com a entrada da empresa em novas áreas, como a de seguros, e o lançamento de empréstimos a baixo custo, venda de CDBs e antecipação de FGTS. Agora uma instituição de pagamentos autorizada pelo Banco Central, a Neon já não depende mais de um banco terceiro para viabilizar algumas de suas operações.

Cartão da Neon — Foto: Divulgação
Cartão da Neon — Foto: Divulgação

O foco nas classes C, D e E continua, com serviços como crédito para negativados e um seguro com valores abaixo de R$ 10, em parceria com a BNP Paribas Cardif. A inovação também não deixou de ser buscada, com possibilidades como transferências por comando de voz, utilizando a Siri (assistente pessoal da Apple), e com a Neon tendo sido uma das primeiras a implementar o reconhecimento facial para validar compras.

Isso não quer dizer que a Neon tenha feito apenas apostas certeiras. Em meio à sua expansão, a empresa tentou dar passos para os quais não estava preparada. “Como uma empresa que cresce rápido, precisamos navegar por momentos difíceis. Tivemos um momento em que trabalhávamos com empresas maiores, não só MEIs. Mas resolvemos não seguir mais nessa vertente”, conta o CEO.

Segundo Conrade, a Neon ainda vê espaço para crescer em volume e produtos. “Ainda nos consideramos muito pequenos perto do que queremos ser. Queremos atender cada vez melhor, e sabemos que ainda tem muita gente para ser atendida e que queremos buscar. E queremos ter mais serviços para todo esse público.”

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