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Por Gabriela Germano.

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Pela pouca idade, eu não entendia a mensagem política da novela “O Salvador da Pátria’’, exibida na Globo em 1989. Mas me lembro de chorar vendo essa história, emocionada pela atuação de Lima Duarte na pele do protagonista Sassá Mutema. Era um personagem bastante humilde, eu conseguia perceber que ele era maltratado por outras pessoas, seus trejeitos físicos e modo de falar me sensibilizavam, e sua trilha sonora era “Lua e flor’’, na voz de Oswaldo Montenegro, um sucesso avassalador na época, que arrancava lágrimas de muita gente. Já antes disso, eu achava graça de ver Sinhozinho Malta balançando o relógio com o bordão “Tô certo ou tô errado?’’ e imitando cachorrinho para a Viúva Porcina (Regina Duarte) em “Roque Santeiro’’, de 1985. Lima Duarte é um ator que sempre me tocou, desde a infância. E que bom que a TV brasileira percebeu que grandes artistas deste país precisam e merecem ser homenageados em vida. O primeiro episódio de “Tributo’’, exibido na Globo e disponível no Globoplay, foi dedicado ao ator, e celebra ainda outras personalidades importantes como Laura Cardoso, Zezé Motta e o autor Manoel Carlos.

Fiquei satisfeita por ver um homem brasileiro de 94 anos vivendo em sua casa, lúcido e feliz. Não me parece uma realidade comum a tantos neste país, quiçá no mundo, que bota prazo de validade nas pessoas. E o vencimento, para uma maioria, vem bem antes disso. Mas Lima surgiu rindo, lendo seus livros, curtindo festinhas felizes com a família, admirando sua criação de carpas... Recordou momentos deliciosos, mostrou ter na garagem até hoje a caminhonete que ganhou na época do boom de Sinhozinho. Compartilhou sua história e sua bagagem com o ator Sergio Guizé, que, sábio, foi um ouvinte atento. A gente precisa ter sensatez pra ouvir quem tanto tem a ensinar, mas essa percepção muitas vezes nos falta quando somos jovens.

No último 23 de abril, Dia de São Jorge, foi aniversário de minha avó, devota do santo. Morando longe, enviei flores. Escolhi as vermelhas para que a cor forte chamasse mais sua atenção. Aos 95 anos, já fraquinha e enfrentando um problema de saúde, ela não entende que fui eu quem mandei. Mas recebi um registro em vídeo dela admirando o vaso, acariciando as pétalas e repetindo baixinho: “lindas, lindas’’. Talvez seja só uma maneira de me consolar, mas penso que de alguma forma minha avó tenha se sentido acarinhada. Foi um modo de me fazer presente pra ela que sempre foi e é tão presente em mim. Mesmo que, há 20 anos, eu não lhe dedicasse o tempo que ela merecia. Morando fora para fazer faculdade, quando eu voltava pra minha cidade, ela sempre me esperava com seus bolinhos de chuva maravilhosos. Desejava ter horas de conversa comigo, mas minhas visitas duravam uns 20 minutos, meia-hora. Porque, como a maioria das pessoas aos 20 e poucos anos, eu pensava que tinha muitas outras coisas interessantes pra fazer. Se eu pudesse voltar no tempo...

Já que o tempo não volta, melhor pensarmos bem como temos gastado o nosso. É claro que, vendo Lima Duarte com tanta vivacidade, pensei que ele teve o privilégio de trabalhar fazendo o que gosta. Atores têm essa sorte de experimentar outras vidas, usar e abusar da criatividade, com a mente sendo constantemente exercitada, o que exige deles esforço, claro, mas proporciona também tantos prazeres. A ciência certamente explica o quanto isso influencia na longevidade e nem todos temos ou teremos essa oportunidade. Mas se não é no seu ofício que você encontra motivação, que você a descubra em alguma atividade de lazer ou em suas relações, para conduzir seus dias com alegria em vez de simplesmente sobreviver.

Eu entrevistei Lima Duarte na época de “Caminho das Índias’’. Não era comum pedirmos para fazer fotos com entrevistados como hoje. Mas com ele eu me atrevi. Fiz meu trabalho com o distanciamento que eu achava necessário, conversamos por um bom tempo e fui surpreendida pelo ator quando precisei fazer uma pergunta que eu imaginava que poderia incomodá-lo (lembram da tão comentada paixão por Maitê Proença?). Para a minha tranquilidade, ele foi super-receptivo. Acho que já tinha notado meu respeito por sua trajetória. Sempre digo que jornalista pode perguntar tudo, o segredo é como se pergunta. No fim do papo, antes de pedir o clique, confessei que minha admiração passava também por uma questão afetiva. Fisicamente, Lima lembra meu saudoso avô. Disso acho que ele não gostou muito. Riu ao fazer a foto perguntando se eu estava chamando ele de velho. “Tributo’’ mostra que Lima está mais pujante do que muitos aos 30 anos. Veja!

Gabriela Germano é editora-assistente e atua na área de cultura e entretenimento desde 2002. É pós-graduada em Jornalismo Cultural pela Uerj e graduada pela Unesp. Sugestões de temas e opiniões são bem-vindas. Instagram: @gabigermano E-mail: [email protected]

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