TV
Por

Os ensinamentos de Lu em “Renascer” vão muito além da sala de aula. Os conselhos que ela dá aos personagens da trama são sobre os mais diversos assuntos, como no caso de Zinha (Samantha Jones), que se abriu com a professora sobre sua orientação sexual. Mas, quando o assunto é coração, Lu também vem aprendendo um bocado. A forasteira ficou bem balançada por João Pedro (Juan Paiva) e, mais recentemente, por José Bento (Marcello Melo Jr), este último um cafajeste que não a poupou de suas armações. Intérprete da mocinha, Eli Ferreira conta nesta entrevista que também já se envolveu com um homem pilantra. Hoje, no entanto, aos 33 anos, ela vive a sorte de um amor tranquilo ao lado do baiano Ajaye Damasceno, seu namorado há três.

  • Próximos capítulos: O que acontece com Buba em 'Renascer' após a morte de José Venâncio?
  • Após José Venâncio: Confira quais outros personagens vão morrer em 'Renascer'

Apesar dos dois mil quilômetros que os separam — a atriz mora em São Paulo e o capoeirista em Salvador —, eles estão sempre muito próximos, também por conta de uma ligação espiritual. O casal pratica o culto de Ifá, filosofia oriunda das religiões de matrizes africanas. Mas o encontro de Eli com a prática é recente. Criada em igreja evangélica desde criança, ela viu sua vida passar por uma transformação depois de uma viagem à Bahia, a mesma em que conheceu Ajaye.

Nascida em Nova Iguaçu e criada entre o município e Belford Roxo, Eli mostrou sua força logo ao chegar ao mundo: a mãe (Jerusa Ferreira) foi vítima de violência obstétrica. Na infância e adolescência, a atriz cresceu enfrentando dificuldades, entre elas, a ausência do pai, mas a luz se acendeu quando a taurina, aos 13 anos, começou a participar de concursos de beleza. Ao ser coroada Miss Belford Roxo, se empoderou, virou modelo, e daí por diante... Confira a entrevista!

Qual sua relação com a moda?

Foi na moda que eu tive um dos primeiros contatos com a arte. Como eu era muito magra, as pessoas falavam “Nossa, essa menina tem que ser modelo”. Eu admirava as mulheres nas revistas e sempre tive uma boa desenvoltura para a passarela, além de gostar de fotografar. Minha mãe soube de um curso gratuito de passarela e me colocou lá, aos 13 anos. Com menos de um mês de curso, um contratante me apadrinhou e fiz o meu primeiro trabalho. Em seguida, comecei a participar de muitos concursos de miss e fazer várias campanhas de cosméticos. A primeira disputa foi no Musa Negra, em 2009, e ganhei. Depois, participei do Miss Baixada Fluminense, e fiquei em segundo lugar. No Miss Belford Roxo, conquistei a primeira colocação, e no Miss Rio de Janeiro, fiquei em terceiro.

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Ficou frustrada com o terceiro lugar?

Fiquei superfeliz! Fui muito bem avaliada. Hoje os concursos de beleza são mais diversos, mais flexíveis em relação à altura, por exemplo, mas eu quebrei um padrão. Nunca foi um grande sonho ser miss. Fui só por causa do dinheiro do prêmio. O Miss Belford Roxo me deu uma grana legal para a época (mil reais, em 2010). Já no Miss Rio de Janeiro fui indicada para uma agência e encontrei oportunidade de trabalhar como modelo. Era difícil custear minha condução da Baixada Fluminense para outros lugares. Até hoje, ainda é muito caro. Mas deu para eu puxar uns cursos de teatro. Comecei a fazer comerciais e testes. Até que passei a trabalhar só com dramaturgia.

Chegou a passar por dificuldades financeiras graves?

A gente teve uma infância muito humilde. No final da adolescência, pensei em desistir da profissão. Depois que ganhei o Miss Belford Roxo, eu tinha acabado de ser contratada por uma empresa de telemarketing. Fiquei na dúvida se devia ir para uma coisa certa, que era o call center, ou se apostava em algo incerto. Minha vida sempre foi de escolhas difíceis, sempre dei tiros no escuro. Ainda mais quando você vem de uma realidade onde não encontra referências. Não tive dinheiro para pagar a inscrição do Miss Belford Roxo. Meu padrinho conseguiu a isenção da taxa e também arrumou o vestido, o cabelo... para eu pagar o mínimo possível. Eu ia andando para o Centro da cidade (oito quilômetros) para ensaiar porque não tinha o dinheiro do ônibus.

Você tem irmãos? Como é sua família?

Sou a segunda de seis filhos (os irmãos são Igor, Beatriz, Andreza, Roger e Victor). Nasci numa noite de São Jorge, em 23 de abril, mas meu parto foi muito tenso. Minha mãe sofreu violência obstétrica e isso foi muito traumatizante para ela.

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Como é para você saber que veio ao mundo através de uma violência?

Eu associava essa violência ao meu progenitor, pela falta de um companheiro ao lado da minha mãe no parto. Dos seis partos normais que ela teve, o meu foi o mais dolorido. Quando ela chegou ao hospital público sozinha e num feriado, os funcionários a levaram para um quarto enorme, onde ia parir, e lá não tinha ninguém para apoiá-la. Os médicos não tiveram paciência e perguntaram por que ela estava fazendo tanto escândalo, sentindo tanta dor, já que não era o primeiro parto dela. O médico não auxiliou na saída do feto, me deixou sair “rasgando” minha mãe toda. Ela gritava de dor, o médico revoltado, ainda por cima, a costurou sem anestesia. O relato da minha mãe é bem forte, mas tem outros muito parecidos ou até mesmo piores. A gente vê por aí diversas violências a que a mulher está exposta num momento tão frágil. Claro que se fosse hoje cabia até um processo. Mas isso era muito mais comum do que se pensa.

Seu pai sempre foi ausente?

Não tive a criação do meu pai, tampouco reconhecimento paterno. Só o conheci muitos anos depois, mas não fiz questão de ter o nome dele nos meus documentos. Passei muito tempo com rancor tentando entender o porquê de ele não ter me reconhecido. Só foi obrigado a me reconhecer por causa de uma ação na Justiça anos depois, mas, como eu já tinha 18 anos quando saiu a decisão do juiz, eu podia escolher e segui do jeito que estava: sem o nome dele nos documentos. Eu o encontrei durante a pré-adolescência com certa frequência, mas sempre quando minha mãe me levava. Eu não lembro em nenhum momento dessa procura ser inversa. Quando tomei consciência da situação, aos 18, não tive mais contato. Fiquei anos sem ouvir falarem dele. Recentemente (em novembro de 2023), tomei a decisão de procurá-lo por conta da minha conexão com a espiritualidade. Acredito que temos que resolver as coisas, senão o conflito vem numa próxima vida. Foi uma conversa rápida, mas não entramos em assuntos profundos. Foi como uma conversa com alguém que eu não via há muito tempo. Hoje, quando eu me refiro à figura de pai, eu me refiro a Deus. Quando me perguntam quem ficou no lugar do meu pai, digo que foi Deus.

Você era da igreja evangélica (Assembleia de Deus) e passou a seguir uma religião de matriz africana. Como foi esse processo? Sofreu preconceito em casa?

Sou ifaísta, um culto de religião de matriz africana, desde 2022. Tive o primeiro contato em um terreiro de candomblé, na Bahia. Percebi que a religião não era nada daquilo que ouvi falar a vida inteira dentro da igreja evangélica, que acredito ser a mais intolerante. Qualquer coisa ligada à África e aos negros é muito deturpado. A religião de matriz africana não impõe a falsa perfeição, mas ensina a lidar com as consequências. Também fala de ancestralidade, da importância de cultuar a natureza e a importância de valorizar os mais velhos, coisas que eu nunca ouvi durante tantos anos na igreja. Hoje me sinto segura, confortável e acolhida. Quando saí da igreja evangélica, minha mãe não curtiu muito, como já era de se esperar. Inicialmente, existiram algumas dúvidas por parte dela, mas não foi uma grande questão. Se eu estou bem resolvida comigo, não tem nenhuma pressão.

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Você sofreu muito com o racismo?

Eu sempre convivi com muita gente preta. O racismo estava tão entranhado, que não era falado como tal. Quando criança, eu não usava meu cabelo natural, mas alisado. Hoje se debate sobre isso. A gente vai saindo do lugar do xingamento, do apontamento, e se insere em outros meios nos quais esse racismo se manifesta de outras formas, como em um olhar, um comentário. É muito doido ver que, por melhor que você esteja vestido, sempre alguém vai te olhar (com preconceito). Recentemente, saí da praia e passei na farmácia. Não fiquei nem três minutos, mas o olhar do segurança da loja me acompanhou. Eu sabia que estava me observando. Infelizmente, existe uma preocupação na estética da gente. A gente evita andar desarrumado ou falar alto para evitar momentos constrangedores.

Você tem a consciência de que, estando em uma novela das nove, você serve de inspiração?

Total. Quero voltar a falar sobre cabelo crespo nas minhas redes sociais. Para interpretar a Lu, eu uso uma lace. Meu cabelo é crespo. Acredito que este seja o último trabalho em que eu use um cabelo que não seja o meu, além de tranças, obviamente. No próximo, quero usar meu crespão.

Qual sua avaliação do atual momento da Lu na trama?

Ela está se envolvendo com o José Bento. Foi uma surpresa para todos na fazenda. Ainda mais ele sendo um cara de quem ela ouviu as pessoas falarem tão mal. Ela só escutava sobre as falcatruas do Bento. Olho para este momento da personagem com aquela pergunta “Quem nunca, né?”. Quem nunca se envolveu com um cafajeste ou caiu numa lábia? Acho que esta é a hora de a Lu dar uma relaxada, dar uma piradinha. Ela é tão caxias e tão certinha...

Você já se envolveu com uma pessoa cafajeste como o Bento?

Eu sempre fui muito seletiva. Tive pouquíssimos namorados na minha vida. Nunca me senti confortável, com necessidade de ficar com alguém quando ia para uma balada. Meus namoros foram espaçados e não estou sempre namorando ou envolvida com uma pessoa. Mas já fiquei com um fotógrafo que era extremamente cafajeste. Eu tinha 19 anos. Ele era bem pilantra, cheguei até a processá-lo na época, porque a gente fez umas fotos com um objetivo e ele queria trabalhar com outro viés. Quis fazer o esperto mesmo, igual ao Bento.

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Namorando há três anos um baiano, qual o segredo para manter um relacionamento a distância?

Eu nunca me vi namorando a distância. Eu sou taurina, com ascendente em Aquário e lua em Virgem. A minha forma de me relacionar é muito metódica. Gente assim não se apaixona à primeira vista porque as pessoas têm que preencher alguns pré-requisitos (risos). Achava que namorar a distancia seria inviável. Sou ciumenta na medida, quando precisa. Passei um período longo em Salvador. Nesse tempo, Ajaye e eu nos aproximamos muito, até por questões religiosas, pois a gente pratica o mesmo culto. O bom do namoro a distancia é que a gente aprende nesse meio do caminho a valorizar muito os momentos em que está junto.

Você sente a pressão de ter filhos e se casar?

Não sinto pressão nenhuma. Se isso chega a mim, acho que ignoro tanto que nem considero. Minha mãe nunca incentivou a gente a casar e ter filhos logo. Ela queria que a gente trabalhasse e se estruturasse primeiro. Na minha família, somos seis filhos e só o mais velho, que tem 39 anos, é pai de uma menina. Sempre tive vontade de ter filho, mas preciso que minha espiritualidade fale comigo, que seja o momento certo para ter. Acho lindo a maternidade e me vejo tendo alguns filhos, não apenas um ou dois.

Lu ajudou Zinha a entender sua sexualidade. Você já teve alguma questão sobre sua orientação sexual?

Me entendo como heterossexual. Eu nunca tive relacionamento afetivo com mulheres. Eu já fiquei, beijei, mas não tive uma relação mais íntima. Fiquei com uma mulher e, depois de muito tempo com outra. Não posso dizer que eu me considero bissexual, apesar de acreditar que todos somos em algum grau. Mas não tenho o direito de encher a boca e dizer que eu sou bissexual. No passado, já me perguntei por que mulheres estavam me atraindo naquele momento. Será que foi por causa de decepção? Mas eu estava super de boa... Não chegou a ser um drama pra mim. Se eu me entendesse como bi, não teria problema. Ainda mais porque foi exatamente num momento em que eu já estava tão esclarecida. Se fosse na época da igreja, talvez eu passasse por algo como aconteceu com Zinha em “Renascer”. Tenho primos e amigos LGBTQIA+. Percebo o quanto a igreja foi cruel com essas pessoas, que deixaram de ser quem elas de fato são. É muito triste quando a gente pensa que tem liberdade, mas a gente vive em prisões mentais e ideológicas.

Lu representa os professores. Como você era como aluna?

Minha mãe sempre foi rígida, ela não aceitava de forma alguma reclamação dos professores. Não dava para eu ser da turma do fundão porque eu tenho déficit de atenção. Naquela época, os professores pensavam que eu tinha problema na vista, então me colocavam na primeira cadeira da fila, bem de frente para o quadro, porque eu demorava muito a copiar. Tudo me distraía. Sempre valorizamos muitos os professores lá em casa. Cheguei a fazer um ano de Escola Normal, mais por uma pressão da minha mãe, que achava linda a profissão. Eu não me via nessa função. Infelizmente é um ofício muito desvalorizado. A gente vê tantos casos de violência, o salário extremamente baixo, as péssimas condições de trabalho... Os professores com questões vocais, sofrendo com ansiedade

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Eli usou:
Look vestido blazer marrom
Vestido/blazer NX
Cinto Colcci
⁠Salto Ceconello
Acessórios Ronnelly

Look casacão verde
Saia e casaco Colcci
⁠Bota Ceconello
⁠Chocker Caryoca Boutique
⁠Brinco Ronnelly Joias

Look branco
Vestido Splash Boutique
⁠Acessórios Ronelly
Sapato Ceconello

Look vestido bege justo
Vestido Agatha
⁠Bota vizzano
⁠Acessórios Ronnelly
⁠Brinco caryoca boutique

Onde encontrar:
Agatha @lojasagatha
Carioca Boutique @caryocaboutique
Cecconello @cecconello_
Colcci @colccioficial
NX @welovenx
Ronnelly @ronnellyjoias
Splash @splash.boutique
Vizzano @vizzano_oficial

Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias
Eli Ferreira, a professora Lu de 'Renascer', em ensaio de moda exclusivo para a Canal Extra — Foto: Márcio Farias

Créditos:
Texto Thomaz Rocha
Fotos Márcio Farias @marciofariasfoto
Styling Rodrigo Barros @rg_barros
Assistente de moda Nicole Vianna @nicoleviannaa
Beleza Márcio Carvalho @studiomarciocarvalho
Agradecimento Madame Beach Club @madamebeachclube

Mais recente Próxima Marcos Palmeira conta o que faz para manter a jovialidade e comenta fama de galã: 'Não me acho um homem bonito'
Mais do extra

Órgão propôs a criação de perícia independente nacional para casos de crimes com envolvimento de agentes

Entenda o que o MPRJ quer mudar na ADPF das Favelas

Para evitar região, muitos motoristas preferem passar pela Avenida Brasil

Mal iluminado e inseguro: Arco Metropolitano faz 10 anos

Na web, ex-casal faz a alegria do público com vídeos divertidos em que aparecem juntos quase 20 anos após rompimento

Cinco vezes que Giovanna Antonelli e Murilo Benício mostraram que há vida civilizada após uma separação

Músico ministra curso de instrumentos gratuitamente em espaço no Centro do Rio

Produtor de 'Renascer' que perdeu perna em acidente exalta superação em oficina de música: 'Encarei o preconceito de frente'

Lunna Beatriz, que também já participou do 'The voice kids', ainda vai lançar coleção de livros educativos sobre inclusão social

Atriz mirim de 'Família é tudo' grava EP de sambas em homenagem a Beth Carvalho

Atriz celebra união com a professora universitária Luciana Lyra, que também compartilha o amor à arte

Quem é a companheira de Ana Cecília Costa, a Morena da novela 'Renascer': casal está junto há 4 anos

Ela é rica em componentes que contribuem para um sistema imunológico forte, além de manter uma boa saúde do coração

Fruta muito comum no Brasil pode reduzir a pressão arterial e o colesterol (ruim); saiba qual é

Projeto oferece gratuitamente contato com jogos eletrônicos e o aprendizado de inglês para jovens a partir de 13 anos

Primeira escola pública gamer do estado, em Japeri, recebe visita de equipe feminina internacional de e-sports

O rapaz dá uma carona para Zinha até a Casa de Jacutinga, e a moça o convida para tomar um café, deixando-o surpreso com a abertura para uma reaproximação

Em 'Renascer', Sandra se reconcilia com João Pedro e os dois se beijam