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Uma baiana arretada que leva a rotina com muita alegria! Esta poderia ser a definição de Morena, de "Renascer", e também a de sua intérprete, Ana Cecília Costa. Mas as diferenças também chamam atenção. Ao dar vida a mulher de Deocleciano (Jackson Antunes) na novela das nove, a atriz reencontra a sua terra natal, os sotaques que ouvia quando criança e seus laços familiares. Aos 53 anos, a artista, que nasceu no interior da Bahia, mais precisamente no município de Jequié, faz de sua personagem a representação da mulher brasileira, um tipo forte e com grande coração.

— A minha intenção com a Morena é justamente representar a mulher da Bahia profunda, sem caricatura. Busquei também uma composição de voz e trejeitos que não caísse numa superficialidade. Tenho a preocupação de fazê-la com alma e humanidade, características de um tipo do interior — conta ela, que, para este ensaio fotográfico da Canal Extra, interpretou uma espécie de personagem com um visual roqueiro, bem distante do colorido de Morena: — Nada de rural! Achei legal quebrar a imagem que está na novela. Moro em São Paulo e já morei em Berlim, na Alemanha, cidades modernas. Gosto de ser uma pessoa do mundo.

De todo jeito, é por conta da roceira de "Renascer" que a atriz vem recebendo o carinho do público desde quando surgiu em cena, na segunda fase da trama. Ana acredita que o telespectador se identifica com Morena principalmente por conta de suas relações familiares.

— São muito bonitas as mensagens que eu recebo do tipo “queria tomar um cafezinho com bolo com a Morena”. Ela é uma mistura de quenga com dona de casa. É aquela mãe acolhedora, que cozinha, mas também aquela mulher que tem um passado no bordel. Dá pra perceber que a personagem tem liberdade com o próprio corpo, que não tem preconceitos, que é sensual e aberta... — destaca.

O principal tema de Morena, no entanto, é a maternidade. Quando jovem, ela (na época interpretada por Uiliana Lima) perdeu um filho no parto e ainda ficou impedida de engravidar novamente. Apesar disso, fez as vezes de mãe de João Pedro (Juan Paiva) e Zinha (Samantha Jones), seus afilhados. E, nos capítulos recentes, se aproximou de Pitoco (Juan Queiroz), que se tornará seu filho adotivo. Na primeira versão da obra de Benedito Ruy Barbosa, o órfão era o bebê morto da primeira fase reencarnado.

Morena (Ana Cecília Costa) e Pitoco (Juan Queiroz) — Foto: Beatriz Damy/ Rede Globo/ Divulgação
Morena (Ana Cecília Costa) e Pitoco (Juan Queiroz) — Foto: Beatriz Damy/ Rede Globo/ Divulgação

— Falar de Morena é falar de maternagem, que é o vínculo que se estabelece de cuidador, da pessoa que nutre e que prepara aquela figura para sua autonomia na vida. A casa dela é um útero materno. Ela perdeu um filho, mas adotou várias pessoas. Defende João Pedro como uma leoa em qualquer situação. Quando a professora Lu (Eli Ferreira) chegou, ela a abraçou, agora tem essa relação com o Pitoco. A gente falou sobre o luto (com a perda do neném) e, agora, vamos abordar o processo de adoção tardia — reflete.

Quando Zinha questionou sua orientação sexual, foi sua "madinha" quem a ajudou a entender seu lugar no mundo. Já na vida real, Ana se considera livre de qualquer preconceito, inclusive em relação à sexualidade.

— Morena foi criada em bordel, já viu de tudo. As questões da pluralidade da sexualidade sempre fizeram parte de seu convívio. Ser ator também coloca a gente em contato com a diversidade humana. Não me cabem amarras. Nunca fui uma pessoa limitada, não é da minha natureza ser preconceituosa — diz a artista, companheira há quatro anos da atriz e professora Luciana Lyra, com quem mora: — Cada relação tem suas regras, mas para mim é muito bom estar com alguém como a Luciana, que é atriz, professora, intelectual, sensível... Tem diálogo artístico comigo... Isso torna as coisas mais integradas. Minha parceira é uma interlocutora, posso trocar ideias com ela.

Esta é a primeira vez que Ana Cecília fala sobre seu relacionamento para um veículo de comunicação:

— Prefiro ser discreta, não apenas por me relacionar com uma mulher, mas de uma maneira geral. Quanto mais as pessoas sabem da vida pessoal de uma atriz, menos veem as personagens. A gente vai ficando na frente das histórias que está contando.

Ana Cecília Costa: Mamãe só na ficção

Ana Cecília Costa — Foto: Jorge Bispo/ Divulgação
Ana Cecília Costa — Foto: Jorge Bispo/ Divulgação

Ao longo de sua carreira, Ana já interpretou diversas mães na TV. Desde Leda, uma mulher que maltratava a filha em “Cama de gato” (2009), até uma mãe devotada, como a Missade de "Órfãos da terra" (2019). O que não faltaram na trajetória da atriz foram personagens que tivessem a maternidade como ponto central.

— Em "Cama de gato", era uma mãe terrível, humilhava a filha, chamava a menina de gorda. O restante foram grandes mães corajosas, como a Virtuosa (de "Cordel encantado", de 2011), a Gaia (de "Joia rara", em 2013), a Missade (de "Órfãos da terra", em 2019). Eles (direção e produtores de elenco) me colocaram muito no lugar da atriz dramática. São mães que sofrem, que dão a vida pelo filho... Acho que viram que eu tinha essa entrega. A Missade era trágica — relembra.

Na vida real, Ana Cecília optou por não ter filhos. Atriz desde 14 anos, ela priorizou sua carreira. A baiana percorreu os 360 quilômetros de distância que dividem Jequié, da capital, Salvador, aos 8 anos, depois que seu pai (falecido há 14) resolveu se mudar por conta dos negócios da família, para dar melhores condições aos filhos.

— Sou uma pessoa privilegiada. Tive recursos para estudar em excelentes colégios. Vivi a infância numa cidade do interior, com muito contato com natureza, bichos e com brincadeiras na rua. Em Salvador, estudei numa escola que me propiciou entrar para o teatro bem nova, aos 14. A Bahia me deu regra e compasso — conta, ressaltando: — A minha vida sempre foi trabalho. Nunca me ocorreu o desejo de querer parar para ter filho. Isso nunca foi imprescindível para que eu fosse uma mulher realizada e feliz. Eu não me sinto frustrada por não ser mãe, por não ter parido um filho ou por não ter adotado até o momento. A mulher que eu projetava ser quando era adolescente é a que eu sou hoje.

Ana Cecília Costa — Foto: Jorge Bispo/ Divulgação
Ana Cecília Costa — Foto: Jorge Bispo/ Divulgação

Apesar de não ter experimentado a maternidade, Ana pôde ser uma Morena para uma menina órfã. Ela teve a oportunidade de acompanhar a “afilhada” por vários anos. Quando foi filmar uma produção no interior da Amazônia, conheceu uma criança que havia perdido a mãe bem cedo. Tocada com a situação, criou um vínculo forte com a garotinha, que hoje já é uma mulher.

— Tenho relação com pessoas sem laços de sangue, mas com quem desenvolvi vínculos. Há uma pessoa muito especial para mim que eu acompanho desde pequenininha. A gente segue numa relação de amadrinhamento e acolhimento. É à distância. Pela estrutura da minha vida, não coube trazê-la para o Sudeste, mas a gente se visita e se acompanha — revela a baiana.

Além disso, Ana Cecília sempre viveu cercada de crianças, afinal, veio de uma família de quatro irmãos, com oito sobrinhos.

— É uma família grande, a casa é cheia. Me sinto uma tia amada e amo muito. Não sei daqui pra frente. Acho que um processo de adoção, por exemplo, pode acontecer — avalia.

Já sua relação como filha é de aprendizado. Segundo ela, sua mãe, Marlene Costa, é sua inspiração de vida, e, aos 86 anos, é exemplo de capacidade criativa.

— A minha mãe é a minha melhor amiga. Eu tenho sorte de ter uma senhora extremamente lúcida. A minha mãe se descobriu escritora aos 81 anos. Com ela, aprendi que, enquanto a pessoa tá viva, tá no jogo. A minha mãe me aponta um lindo horizonte de velhice. É uma pessoa extremamente realista, prática e otimista, que fala sobre morte sem o menor pudor, tabu. Tenho muita admiração — afirma Ana, a caçula.

Créditos:
Texto: Thomaz Rocha
Fotos: Jorge bispo @jorgebispo
Produção de moda: Daniela Garcia @danigarciatoscano
Beleza: Marcelo Dias @marcelodoficial
Edição: Camilla Mota
Agradecimento: Marrom Glacê @marromglacecomunicacao

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