Jornada de beleza
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Por Blenda Moreira*

“Quando era mais nova, lembro de ir para a casa das minhas amigas. Lá, via todas elas trocando roupa, experimentando peças, e eu não podia participar: nada me servia, nada me vestia bem. Esse é só um dos exemplos dos muitos anos em que me sabotei. Por muito tempo, acreditei que não podia fazer determinada atividade, porque sou gorda. Pensava nas dietas que precisava fazer, no quanto necessitava emagrecer. Usava roupas largas para esconder meu corpo. Não me orgulho, mas editava as minhas fotos para parecer mais magra – hoje, tenho até vergonha quando vejo uma dessas imagens. Penso: ‘Meu Deus, essa pessoa não sou eu’. Sim, eu estava linda na imagem, mas se me vissem no mundo real, não me reconheceria.

Acho que a minha virada de chave veio quando os movimentos de aceitação e body positive começaram a ganhar força nas redes sociais. É muito bom ter com quem se identificar, sabe? Acredito que temos particularidades e, querendo ou não, buscamos algum tipo de representatividade. Pode ser um grupo seleto de pessoas, mas se encontrar ali, dentro de uma bolha, é extremamente importante para uma jornada de aceitação. E foi o que aconteceu comigo. Encontrei o meu grupo, me cerquei de pessoas que me inspiram e comecei a criar conteúdo para, quem sabe, inspirar outras pessoas que são parecidas comigo também.

A profissão veio depois, mas como um reflexo evidente do que vivi. Durante a pandemia, depois de muitos anos de desconstrução e alguns de criação de conteúdo, resolvi me dedicar ao estudo de moda e estilo para me tornar consultora de imagem, trabalho que eu exerço hoje.

Já tive vários empregos aqui nos Estados Unidos, onde moro atualmente, mas nunca me senti realizada profissionalmente. Então, passei a enxergar um caminho ao me conectar com mulheres reais que, durante os anos em casa, se perderam em um armário que talvez não fazia mais sentido e que pararam de se encontrar fora do moletom. Essas mulheres também precisavam redescobrir esse corpo que habitavam, e era por meio da moda.

Blenda Moreira — Foto: Acervo pessoal
Blenda Moreira — Foto: Acervo pessoal

Digo que busco ajudar quem, assim como eu, talvez tenha passado pelo mesmo: acreditar que não pode usar isso ou aquilo por não estar no corpo que é considerado padrão. Eu quero pegar na mão das mulheres reais e participar da compreensão delas de que você não precisa ser nada além de você mesma para se sentir bem. Hoje, atendo aquela mãe que acorda, vai para a academia, trabalha, busca o filho na escola… Lido com pessoas reais, que tem problemas e rotinas, mas que também buscam uma forma de se olhar com mais carinho também.

Na moda, aprendi a me blindar de algumas coisas. Aprendi a escolher onde eu compro: se é uma loja que eu sei que não vai servir, mesmo comprando o maior número disponível, então por que fazer passar por isso? Quando a gente vai se entendendo na própria pele e nas roupas, vai descobrindo o que faz e não faz sentido para a gente. É muito bom ver que agora existem lojas mais acessíveis que investem em estilo e em peças de modelagem maiores, mas aprender a lidar com os números da etiqueta também é uma forma de se olhar com mais carinho. Hoje, eu não vejo números porque, além de saber que cada marca tem sua modelagem e que tudo é defasado, eu não quero e não sou definida por eles.

Blenda Moreira — Foto: Acervo pessoal
Blenda Moreira — Foto: Acervo pessoal

Crio um conteúdo que particularmente gosto, muito onde coloco tamanho das minhas peças no reels mesmo:‘Como essa roupa fica em alguém que veste o número X’, por exemplo. E eu não faço porque preciso abraçar meu corpo e me aceitar, já passei dessa fase. Faço como um serviço mesmo, pois quero facilitar para as pessoas que veem meu estilo e gostam do que eu uso. Quero que elas vejam como isso ficará em um corpo igual para inspirá-las. Se tenho seios grandes, coxas e quadril e funciona em mim, pode funcionar para você também.

Claro que existem dias e dias, pois a autoestima não é uma linha reta, muito menos a aceitação. Quando acordo e não me sinto bem com o espelho, tenho um ritual: tomo um banho, faço o meu skincare, visto uma roupa que sei que amo e me sinto bem, tento não pensar muito no que não me deixou feliz naquele dia e partir para mais uma.

Nós esquecemos, mas somos muito melhores do que acreditamos em meio às próprias críticas. Você é do seu jeito e não há problema nisso."

*Blenda Moreira, consultora de estilo, em depoimento à jornalista Julia Ribeiro.

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