Dia desses, zapeando as redes sociais, encontrei a origem – e o poder ancestral – da palavra “dengo”. Segundo a professora, advogada e mestra em direito pela UFBA, Ana Gabriela Ferreira (@professora.anagabriela), o termo é originário do quicongo, língua do povo banto, e significa “espaço de aconchego, serenidade e afeto”. Parte do vocabulário dos mais “antigos”, há quanto tempo o dengo não cruzava a minha vida, de forma literal e metafórica? Posso dizer entre as inúmeras tentativas de me relacionar, misturadas aos deslocamentos insanos de trabalho e com a progressão profissional, muito do que experimentei nesses últimos tempos foram apenas amostras daquele cafuné na alma, pois conciliar a agenda com os interesses do coração estava mais difícil que responder grupo de WhatsApp com mais de dez pessoas.
Aí veio o isolamento social que, certamente, tirou a rotina de muitos de nós do eixo. Se no início a solidão era descontada em altas cargas de trabalho, produtividade e meia horinha diária pulando corda para passar o nervoso, com o tempo as necessidades e a vida mudaram – e muito! Passamos pelo gatilho do sexo (S.O.S.); de sofrer com a falta de responsabilidade afetiva alheia; da angústia e da ausência de horizontes sentimentais em pleno distanciamento... Eis que, seis meses depois, surge uma vontade imensa de sentir leveza e adequação para uma vida que se flexibiliza (mas que não se normaliza), com máscara e álcool gel.
Organizar e dividir a disponibilidade do tempo do trampo tem sido essencial? Sem dúvidas. Mas inverter a lógica do pensamento, que acreditava que a parceria só se encaixava nas pequenas brechas do calendário, e permitir que seja algo transbordante, não só traz mais alegria para momentos ainda tão duros como mais inspiração e sabedoria para traçar a jornada profissional.
"Não deixe que a corrida em busca de seus objetivos de carreira aniquile o afeto" -
Sei que esses meses nos desestabilizaram financeiramente, ameaçaram muitos dos nossos negócios, sonhos e projetos. Porém, não permitamos que esta maré abale a forma como percebemos o nosso coração, o amor pelo outro e, sobretudo, pela gente.
Não deixe que a corrida em busca de seus objetivos de carreira aniquile o terreno do afeto. Trabalhe duro, pense gigante, mas não caia nesta de que o amor não é para você. Destranque esse cadeado! Permita-se amolecer por dentro e arrepiar-se por fora. Afinal, se o amor cura e o trabalho dignifica, o dengo irradia positividade em quem somos – em todas as esferas.