Você é o que você veste? Apesar dessa pergunta levar para mil caminhos, prefiro seguir pelo mais holístico, a partir da consciência, do exercício de expressão e do autoconhecimento. Ao longo de mais de uma década trabalhando com comunicação e moda, acompanhei algumas tendências de comportamento, estilo e consumo: o fast-fashion, os novos códigos de desconstrução do feminino, o “apijamar-se” durante a pandemia e o boom do recommerce de luxo.
Com tanta informação, entendi que a minha jornada por uma construção de imagem criativa e consistente tem bem menos a ver com limites estourados de cartão de crédito. É mais sobre a total conexão entre as minhas vivências e o exercício crítico das escolhas, que são cada vez mais políticas.
!["Para além das escolhas eco-friendly, precisamos enxergar a moda como uma ferramenta política de transformação" — Foto: Arte: Domitila de Paulo](https://s2-glamour.glbimg.com/t6gBxjvcuFqSPOUFQUaxBzn4P5I=/0x0:600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_ba3db981e6d14e54bb84be31c923b00c/internal_photos/bs/2021/z/B/os8B4ZTACO2ExcAhU3VA/moda-e-sustentabilidade-luiza-brasil.jpeg)
Gosto de ser múltipla e complexa quando o assunto é a arte de se vestir. Gosto de cultuar a minha ancestralidade, sem deixar de lado o frescor dos novos nomes da moda brasileira, o meu acervo de família e as marcas que sempre sonhei em usar. Mas para esta fórmula de bolo (ou de look) dar certo, existe muita pesquisa e muita identificação. Entendi que a nossa relação com a vestimenta é mais complexa do que o simples figurino. Quero que pertença ao meu universo nomes que estejam preocupados com a diversidade e a inclusão não só em suas campanhas, mas em outras áreas da empresa; que se preocupam com a sustentabilidade; que sejam justos na precificação do produto final e no pagamento de seus fornecedores; que vejam a mulher não apenas para performar feminilidade.
Do outro lado, nosso lugar decisor apontando os caminhos da compra de moda também mudou. Afinal, hoje em dia, se migramos do lugar reativo do consumidor para sermos investidores ativos das marcas e empresas em que acreditamos, o ponto de partida para que essa relação faça sentido é o alinhamento de valores e propósitos. Fortaleça quem quer ver você no topo e na liderança; que enalteça o seu corpo do jeito que ele é e se posicione politicamente com aquilo que você acredita; que traga a sua história e a dos seus para o lugar de protagonismo com verdade e essência.
Sim, a-ma-mos “entregar o look”! Porém, atualmente, não se trata apenas de um ato estético: é uma construção de narrativa. É a marca daquele afroempreendedor que você amou combinada com aquele garimpo esperto de segunda mão, que vai muito bem com aquele tecido natural que faz a sua pele respirar e é arrematado por aquela joia de valor sentimental herdada da avó. Todas essas atitudes fazem do seu guarda-roupa um lugar acolhedor, autoral e engajado.
Na hora de se vestir, engana-se quem pensa que “escolhas conscientes” se resumem a comprar roupas eco-friendly. É indiscutível a importância de se repensar a cadeia produtiva de moda, claro. Mas precisamos entender que estas escolhas são fundamentais não só para dialogarmos com a inclusão e a redução de impactos sócios-ambientais. Elas também refletem na humanização das relações fashionistas, que se afastam da superficialidade do ter ou não ter para se aprofundar em pautas relevantes no que diz respeito à sociedade. Afinal, como costumo dizer por aí, meio ambiente é sobre pessoas. E pessoas seguras de si e conscientes do seu poder decidem melhor.
Moda não é mais só uma forma final. É caminho do meio e ferramenta para a nossa expressão e conexão com as nossas intenções neste mundo. É engajar com quem faz sentido em termos de valores e ética, e deixar ir o que se limita a mais uma peça de roupa na arara. É história, é resgate, é criatividade e é construção de comunidade. Eu me sinto pronta, e você?