• Walter Casagrande
Atualizado em
Walter Casagrande e Branco Mello (Foto: Guilherme Manechini)

Branco Mello, além de um roqueiro de primeira, é um palmeirense daqueles que, se tiver espaço, convence muita gente de que o barato de verdade é torcer para o time dele. Na família, só não emplacou o mantra com o sogro, rubro-negro convicto até o fim da vida. Já a esposa Ângela e a cunhada não resistiram. Os filhos Bento e Joaquim, então, nem tiveram escolha.

Foi por conta dessa paixão (e, claro, também pela nossa amizade de 30 anos) que o convidei para marcar essa quarta-feira (8) de estreia do Palmeiras na Libertadores e da minha coluna na GQ Brasil.

Um momento especial, principalmente se lembrarmos do sufoco que o Palmeiras passou em 2014, quando escapou do rebaixamento na última rodada do Brasileiro. Se caísse, na minha opinião, o Palmeiras corria o risco de viver uma situação mais parecida com a da Portuguesa do que com a do clube campeão brasileiro que vimos no ano passado.

- Branco, de onde vem essa ligação com o Palmeiras?

- Cara, é engraçado, mas foi uma escolha minha mesmo. Meu pai era torcedor da Portuguesa e resolveu me apresentar a todos os estádios de São Paulo para eu decidir o meu time. Fui até na Rua Javari, pra você ter uma ideia. E me encantei com o Palmeiras. Isso ainda na época da famosa Academia, com Ademir da Guia e companhia.

- Lembro bem daquele time: Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca, Dudu, Ademir, Edu, Leivinha, Cesar e Nei. Timaço. E a final de 1974?

- Ah, meu! As minhas lembranças dessa época são muito de moleque...

- O Corinthians estava há 20 anos na fila e pegou o Palmeiras na final. Porra, o Palmeiras era bicampeão brasileiro (72 e 73). O estádio inteiro era corintiano e tinha certeza que ia ser campeão. Eu e meu pai (a família era corintiana demais) ouvimos o jogo no rádio. Ele me chamou antes do início e disse: “vem ouvir o Corinthians ser campeão”.

- (Risos) E foi aquela loucura.

- Perdeu, né?! E ainda ficou mais três anos sem ganhar um título.

- Como meu pai era neutro, eu encarnei o papel de palmeirense da família. A Ângela era rubro-negro, porque o pai dela era doente pelo Flamengo. Daí ela veio morar em São Paulo, tivemos dois filhos, e começamos a ir ao Parque Antártica. O Bento, pequenininho, no colo da mãe, viu o Evair cobrar uma falta no ângulo. Golaço! E ai um cara logo atrás diz: “puta, na gaveta!” E o Bento repete: “na gaveta! Na gaveta!” Depois disso ele virou um palmeirense muito mais fanático e louco do que eu.

- Mas você também não ia dar o mole que o teu pai te deu e apresentar todos os estádios para eles...

- Lógico que não! Parque Antártica e olhe lá. Aliás, é legal falar sobre o Parque Antártica. Fora o futebol, o estádio se tornou um lugar especial demais. Fizemos o show com o David Bowie lá nos anos 90. Foi histórico! Foi um puta de um show!

- Demais! E o Joaquim, é palmeirense?

- É o meu caçula. Também é palmeirense doente, vai a todos os jogos. Agora, então, estão em êxtase com o time.

- Eles não viveram aquele Palmeiras da fase Parmalat, né?! Coisa maravilhosa. Só timaço.

- Total, era uma máquina!

- Depois vieram momentos péssimos, como os dois rebaixamentos. Algo que não tem nada a ver com a história do Palmeiras. Eu, como comentarista esportivo e amante do futebol, me preocupei com o Palmeiras em 2014, quando o time se salvou na última rodada. Se o Palmeiras caísse ia virar uma Portuguesa.

- Nem brinca! Acho que por isso também o último título foi tão comemorado. Meus filhos, por exemplo, ainda não tinham visto o Palmeiras campeão brasileiro.

- Tá confiante para a estreia da Libertadores?

- O time é bom. O Borja entrou bem. Já fez dois gols.

- Esse cara é fazedor de gol. Entrou na semifinal da Libertadores e meteu dois gols aqui e dois lá contra o São Paulo.

- Acho que ele pode ser o cara decisivo, lugar que era do Gabriel Jesus.

- O Borja vai virar o que o Guerrero foi para o Corinthians e agora é para o Flamengo. A minha dúvida é com Dudu e Felipe Melo. Os dois jogam no limite, têm muita garra, mas ao mesmo tempo são muito explosivos. É muito no limite de fazer uma cagada. Pode ser arriscado.

- Não fode, Casa!

- Então qual é o seu palpite?

- 2x0.

- Pra quem?

- Palmeiras, porra!

- Tá bom! Qualquer dia te conto mais sobre os meus gols contra o teu time.

Em tempo


Tenho ótimas lembranças da rivalidade entre Corinthians e Palmeiras nos meus tempos de jogador. Uma delas, em especial, com a torcida palmeirense. Conto essa história no meu livro Sócrates & Casagrande, escrito em parceria com o Gilvan Ribeiro e publicado pela Globo Livros.

Era uma quarta-feira à noite, jogo da semifinal do Campeonato Paulista de 1983, quando nós da delegação do Corinthians nos demos conta de que não chegaríamos a tempo no Morumbi. Faltava meia hora para o jogo e ainda estávamos na av. Giovanni Gronchi. Foi quando alguém sugeriu de irmos a pé, no meio das torcidas, para surpresa geral de quem estava na rua fazendo um esquenta para o jogo. Foi demais, vários palmeirenses nos desejaram sorte.

Carregávamos a empatia da Democracia Corintiana conosco, isso é fato. Mas a violência no futebol era muito menor. Seria inimaginável pensar que um dirigente de torcida organizada como o Moacir Bianchi, (que, por sinal, eu conhecia) pudesse ser assassinado com mais de 20 tiros por integrantes da própria torcida do time dele. Outros tempos. Melhores, não tenho dúvida.