• Peter Rubin*
Atualizado em
Realidade virtual (Foto: Divulgação)

O Oculus Quest em ação (Foto: Divulgação)

Eu nunca havia visto nada em realidade virtual tão convicente quanto este carro. É algo que parece saído do futuro, todo cromo e cruvas; as luzes de Berlim criam lampejos através dele enquanto o veículo gira na minha frente. Até o que está escrito em seus pneus é bem definido e legível. Mas quando eu me agacho para olhar mais de perto, sinto algo encostar na minha perna. A experiência visual é tão real que, por um raio de segundo, acreditei que havia outra pessoa admirando-a junto de mim. Mas não. Eram só os cabos conectando meu headset ao computador.

Bem-vindo à última palavra em VR, só não se incomode com a fiação.

+ O Rio de Janeiro foi invadido por uma onda de criatividade
+ O futuro da realidade virtual no Facebook está na corda bamba

Os headsets mais recentes têm funções que parecem saídas da ficção científica. Ainda assim, os mais incríveis – da tecnologia de rastreamento ocular aos óculos escandinavos que usei para admirar o carro e que emprega pixels o bastante para parecer a coisa real – são unidades conectadas a computadores e feitas para uso corporativo.  Em outras palavras, mesmo se você for o mais adiantado dos early-adopters, é bem improvável que você vá experimentar um destes antes do Star Wars Episódio Sei Lá o Quê – o Musical em 2025. Mas isso talvez não seja ruim. Como consumidores, o que queremos e o que precisamos do VR nem sempre se combinam – nos próximos meses, a Oculus e a HTC Vive vão ambas lançar headsets independents e completamente imersíveis que tornam esta questão bem clara.

Qual o propósito a realidade virtual é uma pergunta valiosa, com respostas plantadas em lados muito opostos. É público ou privado, profissional ou pessoal, utilitário ou lúdico? Aí está o pulo do gato. A ideia do “jogo” não para apenas nos games que alavancaram o avanço inicial da tecnologia, mas também engloba nossa vontade de passar um tempo informal socializando com outras pessoas. Estar junto é um jogo, não há roteiros. E o jogo é movimento, seja na microescala da comunicação não-verbal ou tomando o espaço de um cômodo todo.

É aí que entram o Oculus Quest e o Vive Focus Plus. Ambos oferecem três distintas vantagens sobre qualquer outro concorrente – incluindo os mais novos modelos corporativos. Você não precisa ligá-los a um computador ou videogame, e eles restream a si mesmos, tornando inúteis sensores externos e liberando o movimento na realidade virtual como você se move naturalmente - um alcance limitado apenas pelo ambiente físico. Além disso, eles estendem a liberdade de ação aos seus controles, introduzindo o uso realístico de objetos tridimensionais, como lanternas e espadas.

Esta santa trindade da imersão ainda é inedita. Eu usei o Quest para jogar tênis em realidade virtual num estande de um salão de exposições, um espaço que tinha 20 pés de comprimento e o triplo disto de largura, correndo pela quadra enquanto meu oponente – de carne e osso – fazia o mesmo do outro lado. Nossas raquetes eram nossos controles; a bola, puramente virtual. Nós nos exaurimos, e quando ele saiu vitoriosa da partida, as provocações a beira da ‘quadra’ foram tão divertidas quanto o jogo em si. Se isto soa tolo, deveria. É uma extrapolação do motivo pelo qual o Nintendo Wii foi um fenômeno. Você quer ver o VR se tornar gigante? Faça algo com ele que ninguém pôde experimentar antes – montar um dinossauro, andar por Marte, mergulhar no oceano profundo sem equipamentos –, algo que não podia ser compartilhado com outros até então.


Se você se inteirou em alguma thread recente sobre o assunto, certamente leu outra história. Oh, a performance destes óculos não alcançam as de um PC! Sem esta resolução e aquele campo de visão (assim como a bagatela resultante), a tecnologia nasceu morta. São críticas equivocadas. VR não é apenas uma tecnologia, mas sim o conductor para conexões. Qualquer headset que una pessoas é o headset perfeito.

Ainda assim, o sucesso destes dispositivos não é garantido. Apesar da independência dos cabos e o fato de que ele cabe em uma mochila, a HTC considera o Focus Plus um produto de consumo apenas na China. Ele vai ser lançado nos EUA exclusivamente para empresas. Mas mesmo que as melhroes coisas pareçam destinadas aos escritórios, o oposto também é verdade: estes pobres sujeitos tem VR de ponta em mãos, mas estão presos aos seus cubículos. E quem não trocaria um punhado de pixels por um quê extra de liberdade.

*Leia a matéria original na Wired