Música

"Sou um cara inquieto e essa inquietude me faz buscar coisas novas que me satisfaçam como artista", diz Marcelo D2 nos primeiros segundos de entrevista para a GQ Brasil. Aos 55 anos e três décadas de carreira na música, o artista carioca se reinventa com o novo projeto autoral Iboru, que chega nesta quarta-feira (14) nas plataformas digitais.

D2 está mais distante da sonoridade que o marcou com o Planet Hemp – grupo voltou à ativa e lançou álbum de inéditas em outubro do ano passado. E não esconde o entusiasmo em se aprofundar no samba, ou, como ele prefere intitular de "novo samba tradicional", gênero escolhido para o trabalho.

"Sei que a gente está no melhor momento do hip hop no Brasil. Eu levo isso muito a sério porque é algo que eu vivo há 30 anos. Mas talvez a minha maior contribuição [para o rap] nesse momento seja cantar e levar a minha bagagem para o samba", afirma.

A nova estética musical do cantor é baseada no conceito que ele nomeia de "ancestralidade do futuro", presente em todas as 16 faixas do disco. Parcerias inéditas com gigantes do samba tradicional, a exemplo de Zeca Pagodinho, Alcione, Xande de Pilares e mais, tornam o projeto ainda mais promissor.

"Eu precisava do suporte deles para fazer isso. Tenho muito respeito pelo samba, assim como tenho pelo rap, então quis pisar devagar nesse terreiro", explica.

Em Assim Tocam os Meus Tambores, disco lançado por ele em 2020, o cantor mostrou que seu interesse pelas rodas de samba estava desperto, mas ainda um pouco tímido. Sobre esse momento, ele recorda: "Foi durante a pandemia e foi super bem-recebido, ganhou indicação no Grammy Latino. Ainda assim, queria algo mais profundo. Algo que me deixasse satisfeito como artista. Acho que eu não me sinto assim, com um ouro na mão, desde A Procura da Batida Perfeita [CD de 2003]".

É com honestidade que D2 lida com as expectativas em torno da aceitação do público para o trabalho recente. Ele confessa que não sabe ao certo como Iboru será recebido, mas é destemido ao definir o projeto como a sua "maior ambição artística" da carreira solo.

"Pra mim, sucesso é quando eu termino um trabalho e penso; 'É exatamente isso que eu quero fazer nesse momento da minha vida'. Pô, é muito difícil um disco sair da forma que você imagina. Na hora de gravar acontecem mudanças, é normal. Mas não foi o caso desse e por isso que tem 16 músicas. É o DNA do que procurei", avalia.

A inspiração na divindade

Marcelo D2 buscou referências e inpsirações no Ifá, culto de matriz africana do qual o cantor é iniciado desde 2021 — Foto: Rodrigo Ladeira
Marcelo D2 buscou referências e inpsirações no Ifá, culto de matriz africana do qual o cantor é iniciado desde 2021 — Foto: Rodrigo Ladeira

Os novos encontros de D2 com práticas espirituais também marcam o momento atual da carreira do artista. Ele afirma ter buscado forças para lidar com a morte da mãe, Paulete Peixoto, no começo de 2021, no Ifá, um sistema oracular e divinatório de matriz africana.

Não por acaso, Iboru é um trecho da saudação dos praticantes de Ifá, que na tradução significa "que sejam ouvidas nossas súplicas". "Pode ser uma religião, mas como diz Nei Lopes [compositor e estudioso de culturas africanas], o Ifá é uma ciência ancestral", explica o cantor, devoto ao oráculo nigeriano há dois anos.

"Esse disco é sobre tempo e utopia. É muito interessante descobrir essa ancestralidade do futuro que está no aqui e no agora. O ancestral é sempre contemporâneo e está aqui com a gente. Isso tem um significado muito forte para mim", comenta.

D2 também cita a cantora fluminense Clementina de Jesus, o historiador e professor Luiz Antônio Simas e a esposa, Luiza Machado, como principais fontes de inspirações para o projeto. "A gente costumar brincar dizendo que banda é para impressionar as garotas, né? Eu fiz esse disco para impressionar ela", diz o cantor sobre a companheira, com quem está junto há 3 anos.

Gravação inédita e ligações de Zeca Pagodinho

D2 aposta no conceito de "ancestralidade do futuro" para falar do "novo samba tradicional" — Foto: Rodrigo Ladeira
D2 aposta no conceito de "ancestralidade do futuro" para falar do "novo samba tradicional" — Foto: Rodrigo Ladeira

Escrita por Zeca Pagodinho e Otacílio da Mangueira em meados dos anos 80, e finalizada anos depois por Xande de Pilares, Bundalelê é uma das faixas que carrega uma história curiosa. Há anos conhecidas nas rodas de samba, a música nunca havia sido gravada em um estúdio e o feito aconteceu especialmente para Iboru.

"Estava com o disco já pronto na minha mesa e sentia que faltava alguma coisa. Liguei para alguns compositores e para o Zeca", relata. "Fui recebendo músicas e ele começou a me ligar cinco, seis vezes por dia. Ele estava muito empolgado, até mais do que eu [risos]. Me deu três músicas inéditas e isso é uma benção. Não sei quem consegue isso hoje em dia, tá ligado?".

Compromisso com o Planet Hemp

"Tenho o privilégio de ter uma banda foda [Planet Hemp] e uma carreira solo" — Foto: Rodrigo Ladeira
"Tenho o privilégio de ter uma banda foda [Planet Hemp] e uma carreira solo" — Foto: Rodrigo Ladeira

Apesar da contribuição diferenciada para o rap, Marcelo D2 afirma que pretende manter a autoestima que o gênero provoca nele. "Não quero sair por aí gritando que eu sou foda, mas quero olhar no espelho e sentir isso. Essa é a ambição que tenho com esse disco: quero me manter relevante", exclama.

Sem pausa com o Planet Hemp, que segue com shows e novidades, D2 adianta que não vai deixar o grupo de lado, mesmo com tantos planos para Iboru, incluindo um curta-metragem e outras produções ligadas à moda, artes plásticas e até ocupações.

"Resolvemos que o Planet é um projeto especial na nossa vida. Não é mais o principal, mas é muito especial. Temos ainda 7 músicas inéditas para esse ano e vamos começar a fazer uma parada nova a partir de mês que vem", entrega.

Segundo o artista, a banda irá cumprir com uma agenda de lançamentos, incluindo músicas, videoclipes e merchandising todas às quartas-feiras. "Temos bastante material. É um ambiente mais low profile, mais interessante."

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