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Aos 28 anos, André Foligno, editor de vídeo, descobriu ser paciente renal. Naquela época, não imaginava que seria capaz de correr uma maratona. Ele passou por um transplante de rim, que mais tarde foi rejeitado, e enfrentou sessões de hemodiálise. Hoje, aos 40, ele mostrou que completar uma prova desse escopo (e nesse contexto) é possível após superar uma série de desafios ao lado de seu médico, Dr. Bruno Piubelli Biluca.

Em janeiro de 2023, André e Bruno completaram os 42 km de maratona após longos meses de preparação. Em papo com a GQ Brasil, eles deram detalhes de como foi realizar este feito.

Diagnóstico

Com 28 anos, André passou a sofrer de pressão alta e buscou um médico. Nada foi identificado em uma primeira bateria de exames. Foi quando decidiu procurar um cardiologista, que sugeriu a consulta com um nefrologista para saber se os picos de pressão poderiam ter relação com o rim.

"Descobrimos que era uma doença crônica no rim. Uma doença silenciosa, não teve muito sintoma além da pressão alta. Fiquei 8 meses em um tratamento conservador, só fazendo dieta. E então, eu fiz um transplante, meu tio foi o doador. Eu fiquei transplantado quatro anos e meio, mas teve rejeição, acabou atacando meu fígado e eu comecei a hemodiálise no começo de 2019."

Dr. Bruno explica que a perda de função renal em um paciente jovem configura o caso como muito específico. Quando passou a atendê-lo, ele já havia perdido o transplante.

"André é novo e não tem outras comorbidades. Ele perdeu a função do rim por conta dessa doença pontual, então em tese só tem esse problema da insuficiência renal. É um paciente regrado, faz diálise todo dia durante duas horas, então a gente começou a sentir conforto em encarar o desafio, e começaram as corridas mais curtas até a corrida mais longas".

André Foligno, paciente renal, completa maratona — Foto: FOTOP
André Foligno, paciente renal, completa maratona — Foto: FOTOP

Corrida

A corrida entrou na vida de André quando já estava fazendo diálise, ao notar que transpirava em excesso realizando qualquer atividade física. "Comecei a fazer pilates, e percebemos que eu suava muito. Isso é ótimo para mim, porque como sou paciente renal, tenho uma restrição hídrica. Na hemodiálise, você não pode beber muita água para não chegar pesado na sessão, porque acumula todo o líquido que toma".

Assim, ele percebeu que suando mais, eliminaria um pouco desse líquido e poderia beber mais água. Foi quando surgiu a ideia da corrida - despretensiosamente, com o único intuito de suar.

André Foligno e o nefrologista Bruno correram juntos — Foto: FOTOP
André Foligno e o nefrologista Bruno correram juntos — Foto: FOTOP

Decisão de correr a maratona

A sugestão de correr a maratona veio do próprio nefrologista, após André pegar gosto pela prática e começar a evoluir. "Eu senti uma segurança maior por estar ao lado do meu médico. Comecei a aumentar um pouco a distância, e, primeiro, coremos uma meia maratona, em 2022".

O editor de vídeo procurou uma assessoria esportiva, além de ter um médico do esporte e nutricionista, para treinar de uma maneira mais profissional. "Consegui correr a meia maratona e aí veio a ideia dos 42km. A preparação para maratona é muito desgastante, muito pesada, mas [Bruno] despertou uma vontade nova em mim. Um novo objetivo, porque, para mim, se meu médico que me acompanha está propondo, é porque é possível".

Preparação e maratona

André e Bruno se prepararam durante quase um ano. O médico explica que sabia que seria um desafio, pelo paciente não ter a função do rim. "O ponto de atenção sempre é a quantidade de líquido que ele ganhava entre uma sessão e outra, quanto que ele tinha que tomar durante a prova, e qual líquido - se seria só água, isotônico, enfim. Então a gente passou um ano fazendo testes, tanto de peso, quanto exames de sangue para entender o que funcionaria melhor", diz o especialista.

Ele ainda passou por psicóloga, fisioterapeuta, cardiologista e endocrinologista para deixá-lo numa situação de conforto e segurança para correr a maratona. O editor afirma que, durante o período de preparação, chegou a correr por 4 horas e saia de madrugada para voltar para casa antes do almoço.

"Foi gratificante porque a gente conseguiu correr super bem. Era algo que eu não sabia se iria conseguir terminar, uma distância desconhecida, sabia que seria exaustivo. Mas, deu tudo certo e foi muito emocionante atravessar a linha de chegada. É algo que levo para a vida toda", conta.

Rotina de treinos e alimentação

Atualmente, André segue correndo e treinando e planeja iniciar um novo ciclo de preparação para uma nova maratona no ano que vem. Ele está na fila de transplante há 5 anos, aguardando a doação de um rim, e afirma que tem o sonho de correr uma nova maratona depois de transplantado.

Ele se divide entre os treinos de corrida, de três a quatro vezes na semana, e musculação duas vezes no mesmo período. "A musculação e fisioterapia têm o foco 100% para o meu desempenho na corrida", comenta.

André segue um acompanhamento com uma nutricionista e explica que no dia a dia precisa ter um consumo alto de carboidrato, para ter um estoque de energia útil nos treinos longos. Além disso, ele também faz suplementação de proteína, creatina e glutamina.

A dieta recomendada para os períodos de treino ou de corridas é a carb loading, estratégia usada por atletas para maximizar o armazenamento de glicogênio nos músculos e fígado. "No dia a dia, é uma refeição teoricamente normal: arroz e feijão, uma proteína, salada. Mas a quantidade de arroz é um pouco maior para ter esse aporte de carboidrato", diz.

No carb loading que adota, de acordo com o maratonista, as medidas costumam ser 300 gramas de arroz e 200 g de frango no almoço. "De tarde, são três pães com doce de leite ou com geleia, de noite 200 g de macarrão e mais uma mais duas colheres de doce de leite de sobremesa", lista.

Pacientes renais podem correr maratonas?

Dr. Bruno ressalta que a atividade física é benéfica para todos. Mas é necessário avaliar a gravidade de cada caso. No caso de André, por não ter outro tipo de comorbidade, como diabete ou hipertensão, a corrida é liberada.

"Pacientes que fazem diálise, mas que são cegos ou que já são amputados, que tem consequências mais graves pela diabete, não tem como eu incentivar muito a correr uma maratona. Mas, para pacientes que não tem tanta limitação, a gente motiva sim, que faça algum grau de atividade física".

Além disso, o médico lista alguns dos benefícios que a corrida traz: auxílio na proteção cardíaca, proporcionando uma melhor condição cardiopulmonar e ganho de massa muscular. "Para pacientes em diálise, ter uma reserva muscular é muito importante a longo prazo".

Bruno reforça que qualquer atividade física é para todos, desde que a doença do paciente esteja controlada e sendo acompanhada por um médico especialista.

A história de superação é contada no documentário Sobre Viver, sobre o caso raro de André, idealizado Danilo Pinheiro Performance e Marketing, com a Red Cave Produtora para a Fenix Nefrologia.

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