Em um sobrado de dois andares em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, fica a Dod Alfaiataria, etiqueta em ascensão que prega a alfaiataria “não tradicional”. Nas araras aparecem paletós oversized, calças bem cortadas, camisetas básicas, gravatas elegantes... Quem está à frente do negócio é Juares Tenório, mais conhecido como Jubba Sam, que acaba de completar 50 anos e faz da reinvenção uma constante em sua trajetória.
No visual, o designer segue uma atitude skatista, que descreve como “simples”, com camiseta, calça e boné. O que mais chama atenção na composição, entretanto, é a barba grisalha com tranças, sem ver uma tesoura há onze anos.
“Sou um cara daqui de São Paulo, da Zona Sul. Morava na Vila Santa Catarina e, depois, me mudei para Interlagos. Vivi uma infância bem de ficar na rua, de conviver com meus amigos vizinhos”, conta ele, que hoje mora no Tatuapé. A moda sempre figurou como protagonista em sua trajetória. “Invadia o guarda-roupa do meu pai, pegava as calças sociais, as camisas de manga curta que a galera usava. Adotei o boné para a vida”, afirma ele, que, inclusive, traz entre os best-sellers do portfólio um boné com a letra “o” estampada. Havia outra inspiração para sua estética. “O Ray Barbee, skatista norte-americano negro, tinha um visual muito como é o meu hoje.”
O skate virou presença constante na vida de Jubba. Tanto que, antes de mergulhar na carreira de estilista, andava profis- sionalmente sobre as quatro rodinhas. “Dos 18 aos 20 anos, dediquei muita energia ao esporte. Consegui patrocínios”, lembra. Entretanto, uma grave lesão no ombro frustrou seus planos. “Estava com 21 para 22 anos. Não havia me dedicado aos estudos, a uma faculdade.” Nessa época, o varejo bateu à sua porta. “Uma amiga precisava de um substituto para poder tirar férias da loja onde trabalhava como vendedora”, conta.
!["Invadia o guarda-roupa do meu pai, pegava as calças sociais, as camisas de manga curta que a galera usava. Adotei o boné para a vida”, diz Jubba — Foto: Pedro Dimitrow](https://s2-gq.glbimg.com/N2ELuDepzaE_5Qx_DW7g7NupLXw=/0x0:1440x1800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_71a8fe14ac6d40bd993eb59f7203fe6f/internal_photos/bs/2023/R/V/jJVNRbSAaqDVJbnU9lLA/gq141-motyjubba-pedrodimitrow-1.jpeg)
A partir daí, Jubba seguiu por comércios como Forum, Zoomp, Carmim e Noir, Le Lis. “Gostava muito de vender. Descobri que tinha muita paciência para ouvir, e isso fazia diferença. Ficava curioso para saber o motivo de o cliente precisar daquela roupa”, conta. A filosofia segue com ele até hoje.
“Conseguimos atender qualquer pessoa que entrar aqui na Dod, produzir o que estiver de acordo com a sua necessidade.”Vale dizer que a etiqueta busca contemplar corpos diversos e oferece serviços sob medida e peças à pronta-entrega.
A loja física da grife abriu as portas em dezembro de 2021 em meio a uma escalada rápida. A marca nascera dois anos antes, em 2019, dentro da Skull, espaço de joias também em São Paulo. “Queria umas calças diferentes, mas não encontrava. Então, comecei a criar as minhas, e amigos passaram a curtir. Muita gente me procurava para projetos sob medi- da. A partir daí, bolei nome, criei conceito...”, conta. “Aten- dia em domicílio e depois dentro da Skull.”
No isolamento da pandemia, adaptou-se de novo. Falava com os fregueses por telefone. Nesse corre, Jubba percebeu que um espaço próprio constituiria sua melhor manobra. Até então, apenas ele e Seu Toninho, alfaiate que criou o primeiro croqui de uma calça da Dod e segue na empresa até hoje, seguravam o movimento. Hoje, a marca conta com dezessete funcionários no elenco (quatro deles contratados neste ano), inclusive um dos filhos de Jubba, Guilherme, de 25 anos, que atua na área de marketing.
![Do skate pro varejo: Jubba Sam é o cara à frente da Dod Alfaiataria: "Gostava muito de vender. Descobri que tinha muita paciência para ouvir, e isso fazia diferença. Ficava curioso para saber o motivo de o cliente precisar daquela roupa” — Foto: Pedro Dimitrow](https://s2-gq.glbimg.com/0sEFBi9u4m92wNTOoiYqTpbVY0A=/0x0:1440x1800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_71a8fe14ac6d40bd993eb59f7203fe6f/internal_photos/bs/2023/e/Z/8BUcJPQpCOqV7wtBdztg/gq141-motyjubba-pedrodimitrow-4.jpeg)
“Em 2023, colhemos muito do que plantamos em 2022”, resume. “Nos conectamos com outras marcas e conseguimos furar muitas bolhas.” Neste ano, rolaram collabs da Dod com gigantes como Levi's e O Boticário. Para 2024, a ideia é expandir, mas com os pés no chão. “Trata-se de um time pequeno, de pessoas extremamente competentes. Vamos crescer do jeito mais organizado que conseguirmos”, finaliza Jubba.
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