Wired Festival Brasil

Por Da Redação


“Quem sair de 2002 sem aprender, tá fudido”, resume o rapper Marcelo D2 sem meios-termos “A gente tem que olhar o que tava fazendo de errado, a gente só chegou aqui porque tava todo mundo fazendo merda.” Ele começou o ano pensando no novo disco de inéditas do Planet Hemp, em um histórico disco de volta. Mas uma certa notícia lhe pegou de surpresa quando estava em São Paulo convocando os integrantes do grupo que estão do outro lado da Dutra, como os produtores Apollo 9 e Zégon.

Marcelo D2 (Foto: Wendy Andrade) — Foto: GQ
Marcelo D2 (Foto: Wendy Andrade) — Foto: GQ

Ao voltar para o Rio, descobriu que a pandemia lhe custou o cancelamento de todos os 12 shows que tinha agendado no segundo bimestre e que talvez os planos para o disco da banda tivessem de ser adiados. Marcelo achou que estava perdido, quando o compadre Zégon lhe deu o toque sobre a plataforma de streaming Twitch.tv. Assistiu a um Baile do Ganja online, discotecagem ao vivo que o produtor Daniel Ganjaman tem feito na plataforma, e se surpreendeu: “Encontrei um monte de amigo no chat, ficamos ouvindo um som e conversando e quando fui pra cama parecia que eu tinha chegado de uma balada. Vi que tinha uma parada diferente”, lembra.

Foi quando começou a usar a Twitch e aos poucos começou a fazer lives sobre tudo, falando sobre comida na live Almoço das Crias, sobre arte com sua mulher, a produtora Luiza Machado, jogando videogame com os filhos, falando sobre o universo da maconha na live Quarta às Vinte. “Só que nada disso me deixava satisfeito”, lembra o rapper, explicando que funcionava para passar o tempo, mas que ele não se sentia criativo.

Até que teve uma ideia: compor um disco ao vivo, em casa, na frente dos fãs, via internet. “Era um desafio interessante pra mim”, explicando que seus últimos lançamentos também experimentavam novos formatos. “Tento me reinventar a cada disco e já entendi que a plataforma agora não é mais só o CD”, conta, reforçando o aspecto visual da música hoje. “Adoro cinema, fotografia, artes plásticas, pra mim é ótimo, em vez de serem dez músicas naquela moldura de plástico que é o CD, eu tenho um quadro sem moldura”, descreve.

D2 optou por fazer o disco em um mês. “A minha frase pra esse disco foi ‘você sabe como fazer um disco via livestreaming? Não? Nem eu, vamos aprender juntos’, e entrei sem nada preparado”, lembra, explicando que nunca tinha gravado à distância, nem mesmo numa participação em uma única música.

Fazer isso diante dos fãs foi revelador para o próprio Marcelo. “Aprendi muito a ouvir nesse processo. Meus discos são muito imposições minhas, por isso tinha tanta briga no Planet Hemp, e no processo desse disco percebi que a negativa era ruim. Resolvi aceitar tudo e botar tudo no disco”, recorda.

“Chamei um monte de produtores que eu conhecia, o Nave, o Nuts, o Mario Caldato Jr. e o Tropkillaz, e pedi para eles me darem umas bases”, continua. “Mas logo na primeira noite alguém falou no chat de um produtor chamado Jorge Dubman, da Bahia, que toca na banda Ifá. Comecei a ouvir uma mixtape dele no YouTube, o Jorge entrou no chat, mandou o telefone dele. Liguei no viva-voz, pras pessoas ouvirem, ele mandou as bases por email, a gente escolheu e isso tudo aconteceu no primeiro dia! Fui dormir com a sensação de que eu tinha achado uma parada foda pra fazer”, comemora.

A interação foi crucial para o processo: “Tinha uma base que sampleava A Praieira, da Nação Zumbi, que tem aquela frase clássica do Chico Science, ‘uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor’, que o Nave tinha feito de brincadeira. A base é boa, mas não era algo que eu escolheria, porque preferia algo mais velho, pra surpreender”, conta. “Quando mostrei pro público, o chat pirou! Falaram pra mandar pro Russo Passapusso e no dia seguinte ele mandou um áudio no WhatsApp”, lembra, concluindo que “apesar do isolamento, foi o disco que mais tive colaboração”. E tome Juçara Marçal, BK’, Jorge Du Peixe, Ogi, Anelis Assumpção, Kiko Dinucci, Don L, Djonga, Baco Exu do Blues, entre outros.

Ele repensa o começo de 2020 à luz deste novo Assim Tocam os Meus Tambores, lançado em setembro. “Foi um momento de interação que me tirou de um lugar de total desesperança. Do clima ‘no future’, ‘fudeu, fascistas no poder’, ‘vamos tacar fogo nessa porra’ do disco do Planet, pra um lugar meio ‘fodam-se esses caras’. Claro que tem música política, falando da situação atual, mas tem bastante esperança e muito amor.”

Para D2, é importante os artistas tirarem as pessoas desse lugar ruim. “Eles levaram a gente pro campo de batalha deles. A gente tem que falar ‘Não. Quer jogar? Joga aqui’. Com arte, amor e respeito”, peita. “Aprendi que dá pra viver mais simples. Minha relação com meus filhos melhorou pra caramba, fiquei preso em casa com eles e botei eles pra trabalhar comigo. Meu filho mais novo, o Luca, tá com 18, já tava na Twitch e é o cara que monta as lives. A Jojô tá com 16 e fez um vídeo no celular que usei no encerramento da live. Fora que eu tinha acabado de casar, tava com um mês de casado.”

Depois de extrair um disco de mais de 100 horas de transmissões ao vivo, ele prepara-se para o segundo volume. “O próximo vai ser diferente, vai ser um disco de samba com flavor de rap”, sonha, cogitando chamar gringos para participar desse seu samba, nomes como Anderson Paak, Aloe Blacc, rappers franceses. “Meu papel de músico não era ficar em casa, e sim inspirar outras pessoas, mostrar que dá pra fazer, mostrar caminhos”, crava.

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