Eles não gostam das expressões “filho de peixe, peixinho é” e “o talento está no DNA”, e explicam o motivo. Antonio Fagundes e seu filho Bruno Fagundes, do casamento com Mara Carvalho, ressaltam o esforço do ofício e lamentam a comparação entre seres humanos, pois acreditam que isso reduz o processo independente e íntimo de cada um.
“Tem muita luta, trabalho e dedicação. Nossas vivências são diferentes e o resultado também. Não gosto quando reduzem meu talento à genética. Se fosse genético, eu sairia marcando gol de cara e ninguém marca. Não é DNA, eu tenho inspiração no meu pai", diz Bruno.
Antônio Fagundes e Bruno Fagundes contam o que mais admiram um no outro
A convite do canal Viva, o gshow acompanhou a gravação do programa "Dois em Cena: Encontro de Gerações", apresentado por Marisa Orth, em que pai e filho conversam sobre tudo vai ao ar no dia 4 de setembro .Os dois falaram sobre suas semelhanças e a parceria que construíram ao longo desses anos, dentro e fora de cena.
Dos quatro filhos que Antonio teve, Bruno foi o único que decidiu seguir a carreira de ator. Ele e o pai fizeram três espetáculos juntos durante quase 10 anos: "Vermelho", "Tribos" e Baixa Terapia". A convivência nos palcos criou memórias inesquecíveis.
Na entrevista ao gshow, Bruno também abre o coração sobre o ataque homofóbico que sofreu, há 14 anos, na Avenida Paulista. O ator levou um soco na nuca, um chute nas costelas e começou a ser espancado enquanto era xingado de "viado" pelos agressores. O crime lhe causou grandes feridas e retardou o processo de tornar sua sexualidade pública.
Antonio relembra que travou em um primeiro momento quando Bruno decidiu conversar com ele sobre sua orientação sexual.
“Confesso que tive um certo problema, não estava preparado. Tive uma formação machista e tenho tentado de lá para cá me educar nesse sentido. Com muito prazer e muito carinho, tenho conseguido."
A seguir, um papo maduro e empático de aprendizados mútuos no papel mais desafiador de Bruno e Antonio até aqui: o de pai e filho em constante evolução.
Exemplo em casa
Bruno: “Tive a oportunidade de ver o trabalho. Quem vê o resultado, não vê a escalada, o 'corre'. Tive a chance de entender o quanto atuar dá trabalho e ver a luta deles me deu pé no chão. Se foi essa escolha que fiz na vida, tive que pavimentar. Isso me centrou e me fez perseverar."
Antonio: “Claro que eu tive o momento de adolescente rebelde, é normal. Quem não teve?”, explica Bruno. “Se ele teve, nem percebi. Não foi tão grave, não foi impactante. Sempre conversamos muito.”
Bruno comenta o homofóbico César, de Amor à Vida
“Fico muito orgulhoso do caminho que meu pai percorreu e sei que também percorri. Eu também não sabia , ninguém nasce sabendo como lidar e andamos de mãos dadas. A maior satisfação da minha vida é ter um pai que é um aliado de verdade."
“A gente celebrou o momento, que foi bonito para o Brasil todo. A gente já tinha atravessado e resolvido isso entre nós. Celebramos como uma extensão da conversa que tivemos sobre e também como um trabalho.".
“O Bruno sempre foi um filho tão querido. A gente tem que entender que houve e ainda há uma formação misógina, patriarcal e tem que ser combatida com tudo que é contrário a isso, como carinho, compreensão, presença. É um processo de libertação, do tipo: 'Pronto, tô livre'. Agora o problema é dos outros. Feliz em ver meu filho pleno."
Bruno: “Tinha todos os receios de tornar minha orientação sexual pública. Me faltava coragem, confiança, segurança e me sentir confortável na minha própria pele. Em uma entrevista que dei, a jornalista me perguntou se falar minha orientação sexual era como respirar aliviado. Respondi que era muito mais que isso, era existir completamente."
Quando saem de cena os atores e entram o pai e o filho?
Antonio: "Para mim foi uma emoção contracenar com ele. De repente, ver ali na minha frente uma outra existência. A gente tem uma coisa boa que é o camarim. Depois do terceiro sinal do teatro são dois atores, um respeitado o outro. Agora, acabou a peça, a gente se beija, abraça e volta a ser pai e filho. O aprendizado é mútuo e você vê algumas fragilidades que tem o reflexo do outro."
"Pai presente? Eu acho que nunca fui muito presente nesse sentido, mas eu tinha muita boa vontade, né, filho? Já que eu não podia ficar junto, eu levava eles para o trabalho e para o set de gravação."
“Meu pai fazia muita questão de levar a gente para a vida dele, era mágico. Ele é um comunicador, maior vontade do meu pai não é se pavonear, se encher. Ele deseja se comunicar, estabelecer uma troca e é de uma generosidade incrível."
Filho de famoso
Bruno: “A parte mais difícil de ser filho de ator é a fama. Quando criança é difícil elaborar isso. As pessoas são cruéis. Tenho sorte de ter um pai que tinha muito esclarecimento sobre isso e nos ensinou a lidar. Me lembro até das pessoas perguntarem se eu era filho e eu dizia: ‘Não sou não’. Não como quem nega, mas como quem quer sair do holofote."
Ataque homofóbico que Bruno sofreu há 20 anos
Bruno: “Tem coisas que acontecem na vida que viram traumas e minha elaboração daquilo estava obscura, não estava na superfície. Precisei de tempo para entender o que aconteceu e para entender quanto isso modificou meu afeto, minha forma de enxergar a minha própria vida para trazer a público, contar para meus pais. Todos nós estamos sujeitos a LGBTfobia e só tem como combater trazendo luz aos assuntos."
Antonio: “A gente gostaria de estar sofrendo junto, mas é isso que ele falou, estava passando pelo processo dele, precisou amadurecer isso para contar e, quando contou, já tinha passado, né, filho?"
Semelhanças
Antonio: “Temos disciplina com relação ao trabalho, a paixão pelo ofício. Somos pessoas diferentes, mas diferença não quer dizer antagonismo. A gente briga muito pouco."
Bruno: "A gente senta e fala do que queremos fazer e temos muito prazer em compartilhar. Em casa a gente fala até demais! Meus irmãos ficam pedindo para mudarmos os assuntos."
Criando o filho para o mundo
“Tinha 40 anos quando ele nasceu, mas cada filho é um filho, cada um tem um universo. Você pode educar como quiser que vai sair a diferença. Isso que é legal na humanidade, ela não é determinada, o filho é solto no mundo. Tem que fazer que cada um seja livre da forma que quiser e dar caminho para descobrir sua própria felicidade”.
Que tipo de filho o Bruno é....
“Carinhoso, querido, inteligente, ativo, tem um geniosinho, mas quem não tem? Continue assim, filho. Como colega de trabalho é bonito de ver e como pai então..."
Que pai o Antonio é....
“Homem do mundo, generoso, inteligente. O domínio dele com as pessoas e com as palavras, a cultura que ele tem e como me ensina diariamente. Aprendo, vejo o livro que está lendo, série que está interessado, tenho muito orgulho. Eu digo obrigado, pai, de coração."
Sem comparação e com todo o apoio
Bruno: “Eu não pensava se as pessoas me comparavam com o meu pai, isso foi embutido em mim. Eu não via dessa forma, estava tentando encontrar minha identidade artística, minha expressividade. Comecei a sentir isso do mercado, dos agentes das celebridades e comecei a ter que lidar. Não tenho essa preocupação. Essa comparação minha com meu pai é burra, redutiva e agressiva."
Antonio:"Quando estreia uma peça, por exemplo, você começa do zero. Não interessa quantos prêmios ou quantos novelas fez,. É a partir daquele zero que você vai determinar sua vida nos próximos meses. Essa incógnita está em qualquer profissão".