Avalanche Tricolor: orgulho e alegria diante de mais uma façanha alcançada

Grêmio 1×1 Estudiantes

Libertadores – Couto Pereira, Curitiba/PR

Festa no Couto Pereira em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Havia a magia do nosso torcedor transformando o cenário na cidade de Curitiba. No entorno do Couto Pereira, a festa travestia as ruas com o azul, preto e branco que estamos acostumados em dia de jogos em Porto Alegre, na nossa combalida capital. Proporcionamos uma invasão tricolor e levamos a maior presença de público já vista este ano ao estádio do Coritiba. 

Muito além disso, as mais de 30 mil pessoas que tomaram as arquibancadas levaram o desejo de cada um de nós que não estivemos presencialmente ao lado de nosso time. Carregaram o orgulho de quem viu seu clube do coração se reerguer em tão pouco tempo. 

Estávamos diante de apenas o quarto jogo após a tragédia com as chuvas de maio. E retornávamos a Curitiba com a classificação garantida à próxima fase, o que parecia inacreditável diante dos resultados iniciais na Libertadores e do baque sofrido com as enchentes no Rio Grande do Sul. 

O empate na noite deste sábado, mesmo depois de termos a vitória nas mãos desde o início do segundo tempo, em nada frustra um torcedor que sabe valorizar o que fizemos nestas últimas semanas. Ter tido a alegria de abraçar o time, de saber que seguiremos em frente na Libertadores e de temos jogadores valentes para superar as mais difíceis batalhas do campo e da vida são conquistas imensuráveis frente aos sofrimentos que nos marcarão para sempre.

Teremos muito a fazer ainda. A energia que teve de ser gerada nessas últimas semanas de drama e sofrimento cobra um preço. Estamos com jogadores extasiados que precisão ter tempo para a recuperação. Ainda não temos um elenco forte o suficiente para se sustentar diante de todos os desafios da temporada. Nada disso, porém, nos importa agora. Tínhamos uma façanha a ser alcançada e o Grêmio nos proporcionou este feito. 

Avalanche Tricolor: forjado no drama de uma enchente, o Grêmio saiu gigante da tempestade de Talcahuano

Huachipato 0x2 Grêmio

Libertadores – Talcahuano, Chile

O reconhecimento do time a performance de Marchesín. Foto:Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Há cerca de um mês, Diego Costa resgatava pessoas atingidas pelas enchentes do Rio Grande do Sul, e Caíque comandava um barco a remo em meio ao temporal, em busca de famílias ilhadas em suas casas. Assim como eles, outros jogadores gremistas se envolviam diretamente na ajuda de amigos, vizinhos, parentes e de toda gente que pudessem alcançar. Muitos deles se mobilizaram para arrecadar dinheiro e doações, atendendo às primeiras necessidades da população sofrida.

Na noite desta terça-feira, lá estavam todos embaixo de um temporal que não deu trégua ao longo de boa parte de um jogo que, por sua importância para nosso destino na Libertadores, já havia sido batizado de Batalha de Talcahuano, cidade da província de Concepción, no Chile. Não imaginávamos que seria no cenário que encontramos, só atenuado graças ao gigantismo do Grêmio.

Foi a dimensão de nossa história que mais uma vez nos levou à vitória e à classificação para as oitavas de final da Libertadores. Considerando os maus resultados nas duas primeiras partidas desta fase, os desafios fora de casa e, especialmente, a tragédia no Rio Grande do Sul, muitos de nós nos contentaríamos com o retorno às atividades. O Grêmio, não! O Grêmio sempre quer provar que é possível ir além.

Fomos além! Vencemos o Estudiantes fora de casa (às vésperas da parada pelas enchentes), goleamos o The Strongest no estádio emprestado do Couto Pereira e, ontem, superamos o Huachipato, em um gramado impraticável para o futebol.

Foi gigante Diego Costa ao superar o zagueiro dentro da área, após a cobrança de escanteio, ainda nos primeiros minutos da partida, para marcar seu gol de cabeça quando ainda era possível jogar futebol.

Foi gigante Marchesín, que fez uma sequência de defesas no segundo tempo, impedindo o empate e contendo a pressão do adversário quando só jogar futebol não bastava. Era necessário enfrentar poças d’água, lamaçal e bola desorientada pelo peso da chuva.

Foi gigante Kannemann, com a bravura eterna que marca sua trajetória com a camisa gremista. Não perdeu uma só bola jogada para dentro de nossa área. Desta vez, teve Rodrigo Ely à sua altura, zagueiro que tem revelado valentia e precisão no desarme, conquistando a confiança de um torcedor que se sente órfão diante da ausência de Geromel.

Foram enormes todos os demais que entraram em campo e garantiram a presença do Grêmio na Libertadores com uma rodada de antecedência, a despeito de tudo que estamos passando nestas últimas semanas.

Mesmo aqueles que, da casamata, inspiraram os colegas no gramado merecem nosso louvor. E aqui destaco o goleiro reserva Caíque — sim, aquele mesmo do barco a remo —, que vibrava, apoiava, dividia opinião com o técnico, e se fez presente em um jogo no qual estaria reservado a ele apenas um lugar entre os suplentes. Mas Caíque, assim como o Grêmio, não aceita ser coadjuvante, vai além!

Forjado no drama de uma enchente, o Grêmio saiu gigante e venceu a tempestade de Talcahuano.

Avalanche Tricolor: vi, vivi e venci a Batalha de La Plata

Estudiantes 0x1 Grêmio

Libertadores – estádio  Jorge Luis Hirschi, La Plata ARG

Nathan comemora “vitória impossível” em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Nathan Fernandes e Gustavo Nunes talvez nunca entenderão o que protagonizaram na noite de hoje, em La Plata. A escapada em alta velocidade, no contra-ataque, o talento com que conduziram a bola, a despeito da marcação impiedosa dos adversários, e a maneira como estufaram a rede têm um simbolismo que nenhum deles alcançará. 

O Grêmio sofria com a expulsão de Villasanti. Já havia assistido a perda de seu capitão, Geromel, com lesão no ombro. Assistia à pressão do time da casa, empurrado pela torcida local. O torcedor vislumbrava o pior dos cenários. O risco da desclassificação prematura da competição se apresentava. Aos 31 minutos do segundo tempo, em um lance único e certeiro, os dois garotos que haviam entrado em seguida da expulsão, encarnaram a imortalidade que nos caracteriza.

Nenhum deles era nascido quando nós torcedores havíamos sofrido a dor de uma partida que ficou conhecida por Batalha de La Plata, em 1983. Até hoje, pensamos como foi possível cedermos o empate depois de estarmos vencendo por 3 a 1 e com quatro jogadores a mais em campo. Sim, sabemos das agressões em campo e no intervalo da partida e até das ameaças de morte. Mas foi um sofrimento apenas superado porque nos amadureceu para conquistar a primeira Libertadores de nossa história e nos levar ao Mundial, naquele ano. Nos despedirmos da Libertadores no mesmo palco daquela Batalha seria injusto para nossa história. 

Marchesín, João Pedro, Geromel, Rodrigo Ely, Kannemann, Fabio, Pepê, Villasanti, Cristaldo, Dodi, Galdino, Soteldo, JP Galvão, Gustavo Martini e, claro, Nathan Fernandes e Gustavo Nunes incorporaram a alma daquele Grêmio que começava a escrever sua Imortalidade no futebol sul-americano. Que nos fez ser respeitado onde desembarcamos nesse continente. Quando tudo parecia impossível, nos mantiveram vivos e venceram uma partida que pode reescrever nossa história nesta edição da Libertadores.

E eu, vi, vivi e venci esta Batalha de La Plata. Obrigado, Grêmio!

Avalanche Tricolor: acredite se quiser!

Grêmio 0x2 Huachipato

Libertadores — Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)

O primeiro lance em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

A primeira bola do jogo explodindo no poste e, no rebote, estufando a rede pelo lado de fora dava a entender que seria uma noite vitoriosa. De um time disposto a amassar o adversário, impor sua superioridade e prevalecer o fator local. Ledo engano.

Fomos ludibriados por aquele momento. Pois mesmo que outras bolas encontrassem o travessão e a que chegasse às redes tivesse sido anulada pelo árbitro, o que assistimos foi um desempenho abaixo da crítica em que sequer a sorte foi capaz de jogar ao nosso lado.

Os supersticiosos lembrarão do fato de o time chileno ter sido o primeiro estrangeiro a nos vencer na Arena, em 2013. Como se isso se tornasse uma verdade para o resto de nossos dias.  E contra a  qual não haveria o que fazer. Apenas aceitar.

Não aceitamos! Nem jamais aceitaremos! E por intolerantes que somos ao que o destino tenta nos impor é que precisamos estar prontos para reagir diante do improvável. 

Nosso próximo compromisso se transformará em mais uma Batalha de La Plata. Vencer será obrigatório. E com a vitória, iniciaremos uma virada histórica nessa Libertadores. 

É no que acredito! É no que me resta acreditar!

Avalanche Tricolor: antes do Tetra, foco no Hepta!

The Strongest 2×0 Grêmio

Libertadores – Estádio Hernando Siles, La Paz, Bolívia

Foto Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Era de se esperar pouco, considerando as condições que nos propusemos. Jogar a mais de 3 mil e 600 metros de altura por si só é complicado e poucos chegaram lá no alto e saíram com os três pontos – o que não significa que não seríamos mais um entre esses poucos se estivéssemos com time completo e mobilizado.

“Condenados” a disputar mais uma final de estadual quando deveríamos estar com as energias voltadas a Libertadores, fomos às alturas com time descaracterizado e sem sintonia. 

Desta vez, é injusto culpar o treinador pela decisão. Alguém se atreveria a correr o risco de expor os titulares ao cansaço, desgaste físico e até lesões estando a um passo do Heptacampeonato Gaúcho? Talvez quem goste de palpitar do conforto de seu sofá (calma, eu também sou palpiteiro de sofá).

Àqueles que estão no comando da equipe cabe a responsabilidade de equilibrar o elenco diante dos compromissos assumidos. E avaliar o impacto que esse esforço de jogar duas partidas decisivas no Brasil e mais um desafio de Libertadores na extrema altura pode ter nos atletas, não apenas para esses jogos mas para o restante temporada. 

Já perdemos jogadores importantes no início deste ano e não podemos nos dar ao luxo de deixá-los fora das demais partidas que vem pela frente. Lembrando que depois do Gaúcho, além da Libertadores, tem Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.

A despeito disso tudo, e da baixa expectativa, a impressão que ficou é que o time desajustado de ontem à noite, poderia ter tido mais sorte. Surgiram algumas chances para empatar a partida, o que seria lucro. Porém, a defesa mal posicionada, o meio de campo pouco articulado e o ataque sem precisão nos puniram e impediram de somar ao menos um ponto nesta estreia. Recuperar-se nas próximas rodadas será fundamental para reduzir os riscos de não avançar na Libertadores, o que seria um desastre. Antes, porém, de pensar no Tetra vamos focar no Hepta!

Avalanche Tricolor: Loco por ti, América

Grêmio 2×1 Goiás

Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Foto de Lucas Uebel/Gremio FBPA

Diga o que quiser. Reclame de onde vier. Lamente o quanto puder. Ah, se não fosse aquele ponto perdido ali, aquele gol desperdiçado lá, aquela defesa vazada acolá. Que me importa o que não aconteceu? Hoje, só quero sorrir e vibrar. Comemorar!  O Grêmio está de volta a Libertadores! É isso que me interessa. 

Tem quem ainda faça conta para um título quase impossível. Há quem queira as vitórias finais para a vaga direta à América. Quero, também! E quero muito conquistar tudo o que estiver ao nosso alcance. Agora, a alegria de reencontrar a coisa mais linda do mundo que é a Libertadores, essa pulsa no meu coração desde o apito estridente que sinalizou o fim da partida desta noite.

Fomos mal no primeiro tempo. Irreconhecíveis. De vaia, passíveis! Sofremos mais um gol daqueles de dar raiva. Foram 54 até agora, apenas neste campeonato. Não há goleiro que persista. Nem torcedor que resista. Que me importa todos esses reveses? Se levamos muitos, mais fizemos. Aliás, ninguém fez mais do que nós até agora: 59 gols marcados. Hoje, foram mais dois.

Se não vimos gol de Suarez, vimos Suarez ensinar o caminho do gol. No  de empate, tabelou com um toque sutil e preciso que deixou Ferreirinha, dentro da área, em condições de driblar o zagueiro, cortar para dentro e chutar sem perdão. 

No gol da virada, foi Suárez, depois de receber de Ferreira, quem lançou a bola para a entrada da área, em direção a Nathan Fernandes —- esse craque em formação. O guri com um toque provocou a trapalhada dos zagueiros e permitiu que a bola fosse cair nos pés de Franco Cristaldo. Sem deixar que a bola tocasse o gramado, o argentino mostrou porque é o segundo goleador do elenco gremista. 

O gol de Cristaldo foi o gol da vitória. O gol libertador! Que nos alçou a Libertadores! E dizer que a menos de um ano disputávamos as agruras da Série B. Um feito que só eu e você, caro e raro torcedor que lê esta Avalanche, sabemos o que significa na nossa história. Deixamos para trás o rebaixamento, mantivemos a hegemonia regional, sobrevivemos aos revéses e lutamos bravamente pelas conquistas. Fraquejamos e nos recuperamos. Mais vencemos do que perdemos. Empatamos poucas vezes. Para ao fim de tudo isso e à alegria geral da nação tricolor, cá estarmos mais uma vez a Caetanear e cantarolar: 

“Loco por ti, América

Soy loco por ti de amores

Soy loco por ti, América

Loco por ti de amores”

Avalanche Tricolor: orgulho de ser Tricolor!

Grêmio 1×0 Bahia
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Foto Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Maratonei diante da televisão neste sábado. Comecei com a disputa da Libertadores, Copa para a qual não precisamos de apresentação, somos apaixonados por ela e já vencemos três vezes. Ao contrário do que costumo fazer quando não é o meu Tricolor que está em campo, não me contentei em apenas assistir à partida. Torci pelo Tricolor carioca. Não vou dizer que sofri, porque tendo a acreditar que só sofremos por amor. Mas torci muito!

Havia uma memória afetiva em campo.

A grená, branca e verde foi a primeira camiseta de jogador de futebol que ganhei. Após um Grêmio e Fluminense, no saudoso estádio Olímpico, o pai apareceu em casa com esse presente em mãos, obtido por um dos repórteres da rádio Guaíba e me entregou. Tinha o número 11 nas costas e ainda estava molhada de suor. Infelizmente, não lembro quem era o ponta esquerda da época. Era pesada, feita com um tecido grosso e costuras salientes. Antigamente, as camisetas não tinham a tecnologia atual nem a mesma qualidade. No primeiro banho, as listras brancas verticais ganharam manchas grená.

Aquele “troféu” se manteve no meu armário por muitos anos ao lado de uma do América do Rio, com o número 3 do zagueiro gaúcho Alex nas costas — outro “troféu” que me foi entregue pelo pai. Ambas, infelizmente, se perderam em uma dessas mudanças que fazemos na vida. A lembrança permaneceu, e até hoje, quando vejo aquela Tricolor em campo, a memória reacende. Portanto, era natural de minha parte querer muito a vitória do Fluminense na final desta Libertadores. E fiquei feliz pela conquista. Merecida conquista!

Sabemos como poucos neste Brasil o significado desta Copa na vida do torcedor e do clube. Fomos forjados na busca deste troféu, que vencemos pela primeira vez em 1983, época em que meu armário já estava dominado pela nossa Tricolor azul, preta e branca. Gostamos tanto de Libertadores que, apesar do sonho de ser campeão ainda existir, garantir a vaga direta à maior competição sul-americana valerá festa e muita cantoria (Libertadores vamos vencer / Por essa Copa / Eu te daria minha vida, campeão).

A vitória, mesmo difícil da segunda partida que assisti neste sábado, nos mantém na disputa pelo título, mas muito mais ainda dentro da Libertadores, e essa classificação terá sabor especial. Primeiro, porque poucos apostavam nas possibilidades de o Grêmio disputar vaga no topo da tabela após recém-subir da Série B. Mais do que essa reversão de expectativa, porém, é assistir em campo a Luis Suárez com a Tricolor. Essa imagem ficará para a história e na memória afetiva de todos nós torcedores gremistas.

Hoje, mais uma vez, Suárez decidiu na única bola que lhe chegou aos pés em condições de chutar a gol. Mérito também de Lucas Besozzi, esse garoto argentino que, se permanecer no time, tenderá a crescer na próxima temporada. Foi dele a jogada pela esquerda pouco depois de entrar no segundo tempo, com dribles curtos e um passe na medida para nosso atacante.

O gol fortaleceu o grito de “Fica Suárez” que já estava na garganta de todos os torcedores. E ecoou nas arquibancadas da Arena na comemoração da vitória. Sabemos que esse é um desejo quase impossível de ser cumprido. Mas o torcedor não está preocupado com isso. “Fica Suárez” é muito mais do que um pedido, é um grito de orgulho que temos por saber que um dos maiores nomes do futebol mundial veste a nossa Tricolor.

Avalanche Tricolor: na vida, tem de saber perder

Grêmio 1×2 Independiente del Valle

Libertadores – Arena Grêmio

Jean Pyerre em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

“A questão não é quantas vezes você cai mas quantas vezes você levanta”

Ouvi essa adaptação da frase de Rocky Balboa, personagem das lutas de boxes do cinema, de um dos meus filhos, no bate-papo do café da tarde, Sei lá porque surgiu o assunto, talvez premonição para o que aconteceria à noite. Provavelmente apenas coincidência. Com certeza, inspiração para essa nossa conversa marcada pela frustração de estarmos fora da Libertadores 2021 — fato raro na história gremista, especialmente nesta última década em que  fomos campeões, em 2017, e por oito vezes disputamos a mais importante competição das Américas.

A queda não veio em um lance, por mais que os algozes de plantão queiram apontar o dedo para um ou outro jogador. Ela ocorre aos poucos.  E é coletiva. Em um gol marcado e mal anulado —- refiro-me ao da primeira partida, lá no Paraguai. Em um, dois e três gols perdidos na cara do goleiro —- claro, que falo do que assistimos na partida de hoje. Na ausência de jogadores importantes ou na presença de outros tão importantes quanto mas sem a necessária condição física. Na dificuldade para montar um time com o talento que necessitamos.

Perde-se uma classificação até mesmo antes disso. A obra de hoje começou a ser construída na campanha claudicante do ano passado (que se encerrou apenas neste 2021). Na perda de pontos que nos colocariam facilmente na Libertadores, sem precisar passar por essa fase preliminar e perigosa, em que tivemos de disputar uma “final” em começo de temporada. 

A derrota somente não será maior, se for pedagógica. 

Semana passada escrevi que “na Libertadores é preciso até saber perder”. E o Grêmio, com todas as dificuldades (e, repito, um gol muito mal anulado) soube perder na medida certa — inclusive marcando fora de casa, o que lhe daria a classificação com uma vitória simples. Na Arena, começou na frente, dominando e superior em campo — mas não soube vencer. Jogou fora a vantagem que tinha e sucumbiu a qualidade técnica do adversário. E eis aqui mais uma lição a ser aprendida: admitir quando do outro lado havia uma força maior.

É preciso aprender com o revés deste início de temporada e lembrar que surge uma oportunidade rara que é a de ganhar tempo para treinar e se dedicar àquela que é a principal competição nacional, o Campeonato Brasileiro, vencido pela última vez, em 1996. Para isso, Renato terá de reestruturar o time, rever jogadores, investir em novos talentos, acreditar na juventude e encaixar as peças para que o futebol de 2017, que encantou o Brasil, volte a ser praticado em campo.

A tentação de zerar o jogo e começar tudo de novo, como se o que foi feito até aqui tivesse de ser esquecido é enorme. Ao mesmo tempo que perigosa. A ideia de terra arrasada só serve para satisfazer o fogo amigo, geralmente instigado por frustrações pessoais ou visão limitada diante da necessidade de um trabalho de longo prazo. Mudar tudo e todos tornará a derrota desta noite muito pior.

Cair, sentir o cheiro da lona, embrulhar o estômago com o sabor azedo da derrota faz parte da vida. Saber levantar-se e voltar a lutar à altura dos desafios que se impõe na jornada é para poucos. É para os Imortais. E nossa história já provou que somos. Vamos nos erguer!

Avalanche Tricolor: na Libertadores é preciso até saber perder

Independiente del Vale 2×1 Grêmio

Libertadores –  Assunção, Paraguai

Diego Souza comemora o gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Libertadores tem de saber jogar. É uma competição com características próprias. Aguerrida por natureza. Com sabor de rivalidade que extrapola o campo do jogo. Que contrapõe raízes, culturas e valores. Disputada nos bastidores, nos vestiários, nas arquibancadas (quando essas eram ocupadas por torcedores) e em cada centímetro do gramado, mesmo antes de a bola rolar —- lembre-se, já jogamos partida em que jogador foi expulso antes do apito inicial. 

O Grêmio sabe que essa é um Copa diferente —- não por acaso somos tri-respeitados por nossos adversários (desculpe-me pelo trocadilho). Que se ganha na bola, no toque e no talento, como fizemos em 2017. Que também se alcança sem tirar o pé da dividida, dando bico para fora do estádio e na catimba malemolente, que impede a dinâmica do jogo. É do jogo. 

Em 1983, quando forjamos nossa fama sulamericana, para sobreviver em campo. no sentido literal da expressão, tivemos de ceder um empate impossível de ser alcançado em situação normal —- e aqui, claro, me refiro a Batalha de La Plata na qual empatamos com o Estudiantes, da Argentina, por 3 a 3.

Em 1995, chegamos ao título mais uma vez com um empate fora de casa, após uma vitória retumbante no saudoso Olímpico Monumental. Antes disso, já havíamos provado nossa capacidade de sofrer, resistir e sobreviver, quando soubemos impedir que uma goleada nos tirasse das semifinais da competição.

Hoje à noite, no Paraguai, lamento informar aos torcedores equatorianos e secadores: não souberam nos derrotar. Saímos de campo vivos para a decisão que nos levará à fase de grupos da Libertadores.

E o fizemos a despeito de erro grotesco de arbitragem que anulou aquele que seria nosso segundo gol, ainda no primeiro tempo. Um lance de Alisson, Diego Souza e Ferreira, que vai entrar na lista dos mais belos gols anulados do futebol sulamericano. 

Não bastassem todas as dificuldades de enfrentar um time bem montado e de futebol qualificado além do gol erroneamente anulado, antes mesmo de a bola rolar, fomos vitimados pela Covid-19 que tirou quatro jogadores do elenco e deixou longe da casamata o técnico Renato. Fomos impedidos de treinar no meio da semana. Tivemos deslocamento extra com a transferência do jogo de Quito, no Equador, para Assunção, no Paraguai. E mais uma série de jogadores afastados por lesões — sequelas da temporada passada que se encerrou somente neste ano.

Em campo, via-se claramente um time sofrido pelas ocorrências e disposto a resistir. E o fez muito bem até o fim do primeiro tempo quando, como disse, deveria ter saído para o vestiários com 2 a 0 no placar. Enquanto lá na frente Diego Souza foi preciso na finalização para marcar o primeiro gol de cabeça, em raro lance de ataque; Brenno se expressou com segurança lá atrás nas várias bolas disparadas contra o nosso gol.

Foi no segundo tempo que o revés se construiu. Faltaram pernas e posicionamento para segurar a velocidade e toque de bola do adversário que virou o placar — mas não o suficiente para nos tirar da disputa. Resistimos às nossas limitações, aos problemas físicos, a expulsão de um dos nossos zagueiros e a superioridade do time equatoriano. Além de ter um a menos em campo, terminamos a partida sem o principal atacante, com um zagueiro improvisado na lateral direita e um lateral esquerdo improvisado na zaga. Tínhamos ainda um goleiro e um homem de frente com problemas físicos.

Sobrevivemos. E quem conhece a relação do Grêmio com a Libertadores sabe que isso costuma ser fatal para o adversário. Quarta-feira que vem voltaremos à Arena para confirmar nossa presença na Libertadores.

Avalanche Tricolor: quero ver o WhatsApp do Teco bombando neste ano

Grêmio 6×1 Ayacucho

Libertadores – Arena Grêmio, POA/RS

Diego Souza em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

“Vai dormir” foi a resposta de meu amigo Luiz Gustavo Medina, o Teco, à terceira imagem de Diego Souza que enviei para ele pelo WhatsApp, nesta noite de quarta-feira. Claro que não fui. A começar pelo fato de que sequer nos piores momentos da nossa equipe dormi antes do apito final. É questão de honra acompanhar meu time até o fim

Jamais fui torcedor modinha — aquele que só aparece na hora do bem bom. Sofro, choro e me despedaço, seja qual for o resultado. Sou torcedor de todas as horas. Imagine se não o serei diante de uma goleada como a que marcou nossa estreia na Libertadores 2021. Fiquei acordado até o minuto final —- no caso, até os cinco minutos extras finais, assim determinados pelo árbitro da partida.

Você, caro e raro leitor desta Avalanche, deve estar se perguntando: o que o Teco tem a ver com isso? Eu explico. Desde que soube que o filho dele, o Gu, o mais jovem e o que mais números de gols marcou na família, era fã de Diego Souza, adotei o hábito de enviar pelo WhatsApp uma imagem de nosso atacante sempre que ele marcasse um gol com a camisa do Grêmio. Na temporada 2020, que se encerrou domingo passado, em pleno março de 2021, foram 28 ou 29, se não me falha a memória (confirma aí PVC).

Hoje, mandei a primeira imagem na cobrança de pênalti. A segunda, em uma bola que Diego Souza finalizou após atropelar os marcadores. E a terceira, já no segundo tempo, resultado da força e talento para concluir nas redes.  Foi após esse último gol que Teco me mandou para cama. Claro que não fui. Jamais desperdiçaria essa oportunidade de assistir ao Grêmio golear seu adversário. Nesta noite, repetimos o mesmo placar da maior goleada que havíamos alcançado, em Libertadores — contra o Universidad Los Andes, da Venezuela, em 1984.

Confesso que fiquei cabreiro com a forma como ele comemorou cada um dos gols. Acostumado a vê-lo dançando dentro das redes, me pareceu comedido. Quase como se estivesse ali fazendo apenas a sua obrigação. Como se o resultado nada representasse aos gremistas, afinal estamos acostumados mesmo a começar na fase de grupos da Libertadores e não nesta tal pré-Libertadores. Fiquei mais tranquilo quando o vi, no fim do jogo, pedindo a bola da partida para levar para a casa. Foi sinal claro da importância que Diego Souza deu ao seu desempenho — e a de seu time — afinal marcar três gols em jogos de Libertadores é pouco. Fazer 6 a 1, é ainda mais raro.

Além de Diego, marcaram David Braz — da velha guarda —, Ferreirinha e Gui Azevedo — dos novos talentos. Tivemos, também, excelente presença em campo de Pinares, o chileno que começa a ganhar espaço na equipe principal com passes precisos e uma entrega de causar orgulho na gente gremista.

Independentemente da qualidade do adversário, é animador começar com uma goleada a temporada 2021. E, a persistirem o sintoma, o WhatsApp do Teco vai bombar neste ano.