Por Sergio Damião
Ouvinte da CBN
![](https://miltonjung.com.br/wp-content/uploads/2024/03/pexels-mert-kaya-11921109.jpg?w=1024)
Sou profissional da área comercial há mais de 40 anos, 63 de vida. Autor do livro “Se Vira! Você não é quadrado! Surpreenda, atenda bem, venda mais”
(Livraria Books). Sou paulista de Santo André, descendente de nordestinos. Apaixonado loucamente por São Paulo.
Minhas maiores lembranças de Sampa vêm do tempo do meu início de trabalho, aos 18 anos, quando me formei em técnico em artes gráficas, na Escola Senai Theobaldo de Nigris, na rua Bresser.
Traço um paralelo direto com o clima. Como era bom saber que passaríamos três meses seguidos em um outono, com neblina — a verdadeira São Paulo da Garoa. Minha mãe, Dona Toca, acordava cedo para fazer o café e preparar minha marmita. Ela sempre recomendava:
– Serginho, não esquece da blusa, do guarda chuva. É outono!
Eu pegava o busão da CMTC azul e creme, às 5 horas, daqueles monoblocos com motor atrás, que quando lotava dava até para sentar sobre ele, escondido do motorista e do cobrador. Fazia o trajeto São Matheus-Praca da Sé entre cochilos e conversa com os Dinos, um grupo de amigos que conhecemos desde de 1965 e até hoje nos encontramos.
Eu atravessava da Praca da Sé, via rua Direita, viaduto do Chá, 24 de maio, cruzando o Teatro Municipal, o Mappin, a Peter, a Casa Los Angeles e aquelas vitrines bonitas. De chamar atenção. Estar com aquela gente madrugadora toda manhã era o primeiro sinal de que entrara na vida adulta.
Em um primeiro momento de estágio e depois contratado, com carteira assinada, eu seguia até o Largo Paissandu e embarcava em outro busão, em direção a Rua do Bosque. Passava a Avenida Celestino Bourroul e a rua do Estadão, no bairro do Limão. Esse trajeto, ida e volta, fiz durante dois anos, tempo que me fez apaixonar ainda mais pelo centro da cidade e no qual testemunhava aquela febre diária das pessoas se movimentando seja no início seja no fim do dia.
Nesse período assisti às manifestações dos bancários, à presença da Polícia Militar e seus cavalos cruzando as ruas e avenidas, aos camelôs e vendedores de calças Lee, Levis, Gledson e Soft Machine
Dar um giro no Mappin, comer um cachorro quente com salsicha viena no Largo do Café, ir no segundo MC Donalds da Libero Badaró, me deliciar com o sanduíche grego. Momentos que jamais sairão da minha memória afetiva.
Após tantos anos mudei de empresa, trabalhei com grupos de outros estados, migrei para área comercial, tive novas oportunidades para conhecer a capital e o interior. Há 20 anos, estou em uma empresa de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, a Box Print.
Há alguns dias, vindo fazer uma visita no centro, na Brigadeiro Luiz Antonio, cruzei a Praca Duque de Caxias, a avenida Rio Branco, a Ipiranga, a São Luis e, com saudade e tristeza, senti o que todos devem sentir ao encontrarem essa região degradada pelo crack: um enorme pesar, além de uma nostalgia do tempo que cruzávamos esses caminhos com segurança e não como hoje vendo o “avesso do avesso”, que Caetano canta no clássico Sampa.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Sérgio Damião é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Conte você também a sua história: escreva para [email protected]. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.