Conte Sua História de São Paulo 470: minha Móoca tem o cheiro do cotonifício e o sabor do cannoli

Italo Cassoli Filho

Ouvinte da CBN

Fachada do Cotonifício Rodolfo Crespi. Foto de Daniellima89 Domínio público

Destacar um ponto especial de São Paulo não é tarefa fácil. Cada lugar, cada cantinho, cada nicho tem seus encantos próprios.

Se você for ao Brás, Liberdade ou Bela Vista terás a oportunidade de vivenciar emoções diferentes ainda hoje.

Mas o meu “cantinho” é a Mooca…ahhh como eu te amo!

E essa paixão vem dos idos de 1960 quando passava as férias na casa do tio Américo e da tia Ida.

O encanto era ainda maior porque eu vinha de Pirassununga, uma realidade totalmente diferente. Desembarcar na estação da Luz e embarcar no bonde rumo a rua Javari passando pela rua dos Trilhos já fazia aquele menino tremer na base. 

Quando o motorneiro parava próximo ao Cotonifício Rodolfo Crespi, uma industria têxtil, fundada em 1897, que ocupava uma enorme área a minha pulsação disparava. Até a fumaça e o odor que ela exalava, me encantavam.

E assistir aos treinos e jogos do Juventus? Que felicidade vibrar com meu Moleque Travesso, aquele cannoli de sabor incomparável. Dá água na boca.

Dez anos depois, eu iniciei minha carreira profissional como professor. 

Onde?  No Colégio MMDC na rua Cuiabá. Claro, na Mooca. Destino? Se foi ou não, eu pouco me importei, a minha felicidade era estar novamente no bairro que aprendi a amar.

O bonde fora substituído pelo ônibus, que partia da Praça Clovis Beviláqua, e ao mesmo tempo que fazia seu trajeto projetava em minha memória um filme que até hoje, quando tenho a oportunidade de lá retornar, ainda vejo: a fumaça, o cheiro do Cotonifício, o sabor do cannoli, as vitórias do Moleque Travesso.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Italo Cassoli Filho é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Juliano Fonseca. Venha participar das comemorações dos 470 anos da nossa cidade. Escreva seu texto e envie para [email protected]. Para ouvir outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br , acesse o novo site da cbn CBN.com.br, e ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: minha imagem na janela do metrô

Por Marcelo Vieira Pinto

Ouvinte da CBN

Foto de Pixabay

Essa história deve ser contada na primeira pessoa, não por prioridade, mas para expressar fielmente a realidade do sentimento. A generosa frieza da humanidade. Acordei lépido, depois de um sono, por minha consideração, longo, de cinco horas ininterruptas e o complemento posterior de mais três.

Um belo desjejum à base de frutas, sanduíche e o querido e esperado café, acompanhado de uma disposição incomum para a prática esportiva. O sentimento era de um senhor vigoroso, equilibrado e me lembro bem da atenção em manter o foco na minha pessoa.

Sai à rua em direção ao metrô Brooklin para cumprir um compromisso. O caminho se apresentava com uma energia colorida pelo sol forte, que esquentava o ambiente, mas o bem-estar interior se sobrepunha a qualquer pensamento negativo.

Entrei no espaço, comprei meu bilhete e caminhei em direção à plataforma. Sentia-me o melhor cidadão paulistano, admirando a simples educação popular nas escadas rolantes e o inesperado respeito ao entrar no vagão. Ambiente com lotação completa, o calor das pessoas era inevitável sentir, embora o ar-condicionado estivesse em perfeito funcionamento.

Subitamente, uma jovem se levanta me oferecendo seu assento. Sua expressão era de uma pessoa caridosa. Sinceramente, meu sentimento foi em direção oposta ao que eu sentia segundos atrás. Inesperadamente, tive a percepção de que transparecia a imagem de um frágil senhor, um idoso que carecia de um assento.

Agradeci, recusei e automaticamente olhei minha figura, que refletia na janela do veículo, e o esforço para encontrar aquele senhor vigoroso foi de certo modo desgastante. Passados alguns minutos, me desloquei para o centro do vagão, quando, acreditem, um senhor obeso, juro, bem obeso, se levanta para me ceder seu lugar.

Desculpem-me, mas é difícil demais andar em equilíbrio. Acho que vou comprar uma bengala para minha cabeça.

Ouça aqui o Conte Sua História de São Paulo

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Mundo Corporativo: Marcello Schneider, da BYD, fala de geração de emprego e preparo para o futuro sustentável

“A fabricação de um carro elétrico é mais limpa e tecnológica em comparação com os carros a combustão, o que contribui para a redução da poluição e permite produzir veículos não poluentes em maior escala.”

Marcelo Schneider, BYD

O Brasil é um país estratégico para as operações da BYD, especialmente devido à sua rica biodiversidade e ao papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. É o que diz Marcello Schneider, diretor empresa chinesa líder mundial em veículos elétricos e soluções sustentáveis, em entrevista ao Mundo Corporativo, especial ESG, da CBN. A BYD construirá três fábricas para a produção de automóveis eletrificados, caminhões e ônibus elétricos e baterias no município de Camaçari (BA). O investimento de R$ 3 bilhões deverá gerar 5 mil empregos diretos e indiretos, conforme anúncio feito em julho. A empresa acredita que o Brasil pode se tornar um líder global em sustentabilidade.

Veículos Elétricos e a Redução das Emissões

A BYD é pioneira em veículos elétricos e investe fortemente em soluções de mobilidade sustentável. Schneider ressalta que a frota de ônibus elétricos da BYD no Brasil já superou a marca de mil unidades, contribuindo significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Além disso, a empresa fornece veículos elétricos para uso urbano e de carga, impulsionando a eletrificação do transporte no país. Na entrevista, ele identifica os benefícios e os desafios na fabricação dos novos modelos de veículos:

“Vou dar o exemplo do ônibus. Uma bateria pode durar 15 anos junto com os ônibus.  Após essa aplicação para rodar com os ônibus, nós retiramos essa bateria, ela é rebalanceada e ela pode ser usada por mais 10, 15 anos em outra aplicação que são sistemas estacionários de energia. Vamos imaginar grandes containers ou até pequenos containers onnde nós vamos gerar energia através da energia do sol e armazenar”

Energia Solar e Armazenamento de Energia

A empresa também é uma das principais fornecedoras de sistemas de energia solar e armazenamento de energia no Brasil. Schneider destaca que a energia solar tem experimentado um crescimento acelerado no país, impulsionado pela busca por fontes limpas e renováveis. De acordo com o diretor da fabricante chinesa, a BYD oferece soluções completas para geração, armazenamento e gestão de energia, permitindo aos consumidores a independência energética e a redução das contas de luz.

A Transformação do Mercado de Trabalho

Marcello Schneider aborda o impacto da BYD no mercado de trabalho brasileiro. Com a expansão das operações da empresa no país, a demanda por profissionais qualificados em tecnologias sustentáveis tem aumentado. A BYD acredita na importância de capacitar a mão de obra local, criando oportunidades de emprego e contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

“Nós temos já aprovados aqui pelo nosso chairman global eum investimento da ordem aí de 10 bilhões de reais até 2025, tanto para abertura de uma nova fábrica quanto também para outros projetos de expansão e desenvolvimento. Sem dúvida, a gente vai ter uma uma necessidade muito boa de contratação de mão de obra especializada e não especializada”.

Desafios e Perspectivas Futuras

O diretor da BYD compartilha os desafios enfrentados no processo de eletrificação do transporte e da adoção de energias renováveis no Brasil. Ele enfatiza a importância da parceria entre governo, empresas e sociedade civil para promover políticas públicas que incentivem a sustentabilidade e tornem viável a expansão das soluções limpas.

Marcello Schneider destaca que a BYD está comprometida em continuar inovando e oferecendo soluções sustentáveis para o Brasil e o mundo. A empresa acredita que a transição para um futuro sustentável é urgente e que cada passo dado em direção a essa transformação é fundamental para garantir um planeta mais limpo e saudável para as futuras gerações.

O Mundo Corporativo tem as participações de Renato Barcellos, Letícia Valente, Débora Gonçalves e Rafael Furugen

Greve de ônibus expõe, mais uma vez, falhas das empresas que exploram transporte por aplicativo

Photo by freestocks.org on Pexels.com

A greve de motoristas e cobradores, em São Paulo, nesta quarta-feira, revelou mais do que os desafios constantes de um sistema de transporte caro e problemático. Expôs a fragilidade da relação entre usuários do transporte por aplicativo e as empresas que exploram esse serviço, especialmente Uber e 99. Enquanto a dificuldade de as partes entrarem em acordo, remunerando e oferecendo benefícios aos trabalhadores e conseguindo conter o custo do transporte de massa na cidade, deixou mais de um milhão e meio de passageiros a pé, o modelo de negócio dos ‘aplicativos’ voltou a prestar um desserviço à população.

Sem muitas alternativas, os passageiros de ônibus recorreram ao celular em busca dos “aplicativos” e foram surpreendidos, seja pela ausência de motoristas seja pelo alto custo. Foi enorme a quantidade de ouvintes da CBN reclamando do fato de terem tido uma série de corridas negadas pelos motoristas, mesmo depois de a viagem ter sido aceita — claramente, ato tomado pelos motoristas que perceberam que a remuneração seria bem menor do que o custo daquela viagem. Os passageiros que tiveram sucesso na chamada, se sentiram explorados pelo valor pago — resultado da tarifa dinâmica. 

Por coincidência ou não, ao mesmo tempo que ouvia as reclamações, ao vivo ou por mensagens dos ouvintes, recebi texto do meu colega de programa Jaime Troiano, um dos apresentadores do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso. Dos maiores conhecedores na área da gestão de marcas do Brasil, Jaime, baseado na frustrante experiência que teve com o Uber, ditou: 

“Como cidadãos, fomos espoliados. Como profissional de mercado, que pensa em Branding, pensei em outra coisa: que oportunidade maravilhosa o Uber perdeu!”.

Jaime Troiano

Em um cenário ideal, Uber, 99 e as demais empresas que exploram o serviço de transporte por aplicativo — e aqui o verbo pode simbolizar sua pior versão — teriam se colocado ao lado dos cidadãos, oferecendo vantagens aos passageiros e remunerando de forma decente seus motoristas. Não foi o que aconteceu. E assim a receita adicional obtida nesta paralisação dos ônibus jamais cobrirá o “mal-estar provocado nos seus potenciais clientes e os respingos na imagem institucional”, como escreveu Jaime. 

Chantagear o cliente em momentos de dificuldade tende a cobrar um alto preço nas organizações. E torna um desperdício o dinheiro investido nas campanhas que assistimos estampadas em painéis eletrônicos pela cidade nas quais os “aplicativos” forjam uma sintonia com seus clientes, ao transmitirem mensagens de apoio às mais diversas causas. 

Forçam a mão no storytelling e desdenham do storydoing que no fim das contas é o que interessa às pessoas.

Por curiosidade: o texto que recebi de Jaime Troiano era uma referência a greve de ônibus anterior, ocorrida no dia 14 de junho, em São Paulo, e se encerrava com a esperança de que a lição seria aprendida:

“Torço para que ela (Uber) não perca outras oportunidades como a do dia 14 para demonstrar suas autênticas convicções e valores. Os mesmos que ela professa publicamente”.

Lamento dizer, Jaime, perdeu! Perderam!

Governador e prefeito decretam “elixir da juventude” e cortam o direito de parte de idosos viajarem de graça, em São Paulo

Foto Rovena Rosa/ABr, no site da CBN

O presente de Natal que o governador João Doria e o prefeito Bruno Covas deram aos idosos chegará em Fevereiro, depois que os “bons velhinhos” decidiram prorrogar em um mês a entrada em vigor da regra que proíbe as pessoas de 60 a 64 anos de viajarem de graça nos ônibus da capital, na EMTU, no Metrô e na CPTM. A extinção da gratuidade deveria começar em 1º de Janeiro, mas Governo e Prefeitura deram um mês para que os passageiros se adaptem ao novo sistema.

A coisa é mais ou menos assim: o senhor e a senhora que antes tinham o cartão do idoso deixaram de ser idosos; agora são passageiros comuns. Terão um mês para trocar este cartãozinho que permitia viagens de graça por um cartão comum, no qual você pagará tarifa cheia, ajudando os cofres das empresas que exploram o serviço de transporte. Para provar que a fonte da juventude descoberta por Doria e Covas funciona, além de pagar a passagem, já que você não é mais idoso, ainda terá de buscar o seu novo cartão em um posto da SPTrans. Faz o pedido pelo site, mas busca no posto.

Falei do assunto nessa segunda-feiras no Jornal da CBN e pisei na bola. Disse a Raquel, ouvinte que mandou mensagem pelo WhatsApp, que a extinção da gratuidade havia sido decidida administrativamente. Meia verdade. 

Vamos aos fatos:

O governador João Doria editou decreto suspendendo a regulamentação da legislação que permitia a gratuidade para essa faixa de idade, alterando a Lei nº 15.187, de 2013.

No caso da prefeitura, Bruno Covas teve de aprovar a mudança na Câmara Municipal de São Paulo. Portanto, o prefeito contou com o apoio de vereadores e, para isso, usou de uma estratégia comum e capciosa da política brasileira: a criação de jabutis.

Jabuti é a inclusão de uma lei, um artigo ou uma regra que trata de um tema em um projeto que dispõe de outro assunto. 

No caso, o projeto de lei em discussão era o de número 89/2020, do prefeito Bruno Covas, que “dispõe sobre a criação de subprefeituras no município de São Paulo”. O que as subprefeituras tem a ver com o quanto você paga para viajar de ônibus na cidade? Só um jabuti (ou um tucano) para explicar.

Nesse projeto de lei (o 89/2020), o artigo 7º revoga trechos de outras leis que nada tem a ver com subprefeituras. E no inciso IV —- aqui está a pegadinha — revoga a lei número 15.912 de 16 de dezembro de 2013 que é a que isentava idosos a partir de 60 anos de pagar a passagem de ônibus na cidade.

Você que é atento, já percebeu a coincidência: as duas leis que garantiram a gratuidade são de 2013 —- época das manifestações de rua no Brasil, que pressionaram Fernando Haddad, na prefeitura, e Geraldo Alckmin, no Governo, a oferecer transporte de graça aos idosos.

O Projeto de Lei 89/2020 que traz o “elixir da juventude”, na cidade de São Paulo, foi aprovado em votação simbólica no plenário da Câmara Municipal, em 22 de dezembro. Essa é outra manobra típica de quem tem medo de assumir decisões impopulares, pois em votação simbólica não há registro individual do voto e os vereadores não precisam se expor.

Quatorze dos 54 parlamentares em plenário fizeram questão de registrar votos contrários ao projeto.  São eles, segundo site da Câmara:

ALESSANDRO GUEDES – PT

ALFREDINHO – PT

ANTONIO DONATO – PT

ARSELINO TATTO – PT

CELSO GIANNAZI – PSOL

CLAUDIO FONSECA – CIDADANIA

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY – PT

ELISEU GABRIEL – PSB

GILBERTO NATALINI – S/PARTIDO

JAIR TATTO – PT

JANAÍNA LIMA – NOVO

JOSÉ POLICE NETO – PSD

SENIVAL MOURA – PT

SONINHA FRANCINE – CIDADANIA

Considerando que os demais 40 registraram presença e não se pronunciaram contrários ao projeto, pode-se dizer que apoiaram a ideia de acabar com a viagem de graça dos idosos. São eles:

ADILSON AMADEU – DEM

ADRIANA RAMALHO – PSDB

ANDRÉ SANTOS – REPUBLICANOS

ATÍLIO FRANCISCO – REPUBLICANOS

AURÉLIO NOMURA – PSDB

BETO DO SOCIAL – PSDB

CAIO MIRANDA – DEM

CAMILO CRISTÓFARO – PSB

CELSO JATNE – PL

CLAUDINHO DE SOUZA – PSDB

DALTON SILVANO – DEM

DANIEL ANNEMBERG – PSDB

EDIR SALES – PSD

FÁBIO RIVA – PSDB

FERNANDO HOLIDAY – PATRIOTA

GEORGE HATO – MDB

GILBERTO NASCIMENTO – PSC

GILSON BARRETO – PSDB

ISAC FELIX – PL

JOÃO JORGE – PSDB

JULIANA CARDOSO – PT

MARIO COVAS NETO – PODEMOS

MILTON FERREIRA – PODEMOS

MILTON LEITE – DEM

NOEMI NONATO – PL

PATRICIA BEZERRA – PSDB

PAULO FRANGE – PTB

QUITO FORMIGA – PSDB

REIS – PT

RICARDO NUNES – MDB

RICARDO TEIXEIRA – DEM

RINALDI DIGLIO – PSL

RODRIGO GOULART – PSD

RUTE COSTA – PSDB

SANDRA TADEU – DEM

SOUZA SANTOS – REPUBLICANOS

TONINHO PAIVA – PL

TONINHO VESPOLI – PSOL

XEXÉU TRIPOLI –  PSDB

ZÉ TURIN – REPUBLICANOS 

O vereador OTA, do PSB, estava ausente, segundo registro oficial da Câmara Municipal de São Paulo.

Conte Sua História de São Paulo: minha primeira e única viagem de bonde, para entrar na história

Por Fátima M.R.F. Antunes

Ouvinte da CBN

 

 

No fim dos anos 1960, o prefeito Faria Lima começou a retirar os bondes de circulação. A desativação do bonde Fábrica, que fazia o trajeto Praça João Mendes e Sacomã, no Ipiranga, foi anunciada para janeiro de 1967. O nome Fábrica se referia à indústria que havia no início da linha, Estabelecimento Cerâmico Saccoman-Frèresa, onde trabalharam o vovô João e o tio José. 

 

Desde 1900, os bondes elétricos eram o meio de transporte popular na cidade. Grandes e pesados, correndo sobre trilhos e dependendo de fiação elétrica aérea, destoavam dos ágeis e maleáveis ônibus, que apareceram décadas depois. Naqueles anos 1960, os bondes estavam sendo substituídos por ônibus.  Ao longo da década, as linhas foram sendo suprimidas. A última viagem de um bonde passou pelas avenidas Ibirapuera, Vereador José Diniz e Adolfo Pinheiro até Santo Amaro — em 27 de março de 1968.

 

De nada serviriam os lamentos da população. A hora tinha chegando. E o bonde Fábrica, que rasgava o bairro do Ipiranga pela rua Silva Bueno, seria desativada. Tia Tereza, irmã caçula de minha mãe, assim como outros milhões de paulistanos, estava agitada com a mudança. Afinal, o famoso bonde Fábrica, presença constante nas boas e más ocasiões, sempre estivera ali, companheiro e solidário. 

 

A família de minha mãe morara no Ipiranga. Primeiro na Rua Lima e Silva; depois na das Juntas Provisórias. Tia Tereza tomava o bonde na Silva Bueno para ir às compras no centro e à infinidade de salas de cinema que havia nas avenidas São João e Ipiranga. No Fábrica, ela, mamãe e vovó visitavam os parentes no Pari, com baldeação na Praça João Mendes. No Fábrica, se ia ao médico; até o Sacomã, aos sábados e domingo, para o footing, ou o“vai e vem”: os rapazes ficavam parados nas calçadas, enquanto as moças caminhavam pra lá e pra cá, de olho num pretendente. 

 

Os velhos bondes atravancavam o trânsito. Retirá-los das ruas parecia uma medida drástica, mas diziam que era necessária para a melhoria da circulação urbana.

 

Tia Tereza sempre foi uma entusiasta do progresso e da renovação, mas lá no fundo, sabia que os bondes deixariam saudade. Em janeiro de 1967, ela decidiu:  

 

“Vou levar a Fatima para um paseio no Fábrica antes que ele pare de rodas. Essa menina nunca andou de bonde! Quando for moça, vai poder dizer que andou de bonde em São Paulo.

 

Na Vila das Mercês, zona Sul, onde morávamos, só havia ônibus — eram pintados de amarelo clarinho, com faixas vermelhas na parte inferior.  Tia Tereza planejou com detalhes a aventura. Ajudou-me a escolher um vestido bem bonito. Do portão de casa, na antiga Rua B  — hoje Rua Caloji — nos acenavam a avó Dolores e minha mãe, Rafaela, com meu irmão Vanderlei no colo, enquanto íamos para o ponto.  Junto com a gente, foi a prima Eliana, filha da Tia Tereza, que sequer tinha completado um ano.

 

Descemos do ônibus no Sacomã e logo pegamos o bonde no ponto inicial. Sentei num daqueles bancos compridos, que ficavam nas laterais —- eram de madeira envernizada, duros, que faziam a gente escorregar, quando o freio era acionado. Confesso que achei escuro o interior do bonde, desconfortável. 

 

Antes do bonde deixar a Silva Bueno, descemos, atravessamos a rua e tomamos o ônibus de volta pra casa.  Eu tinha apenas quatro anos e jamais esqueci desse passeio. Mais do que a lembrança do bonde, ficou o carinho de minha tia. Penso que tia Tereza era uma mulher de visão. Ela já sabia, lá em 1967, que 53 anos depois, minha única e última viagem de bonde seria um capítulo do Conte Sua História de São Paulo. 

 

Fatima Martin R. F. Antunes é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto e envie para o [email protected]. Ouça também em podcast.

Do pula-pula ao monociclo, um passeio da piada à evolução

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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O sueco Adam Mikkelsen, da cidade de Mamo, profissional disruptivo e colecionador de sucessos, anunciou o lançamento do Pula-Pula como elemento de mobilidade urbana. E alertou que não era piada.

 

Não pegou!

 

No Hora de Expediente, da CBN, o Pula-Pula analisado como um dos temas e tido como modal, não emplacou e fez com que o episódio radiofônico enveredasse pelo humor, e pelo viés da diversão esportiva.

 

Ouça o quadro Hora de Expediente, que foi ao ar no Jornal da CBN

 
Coincidentemente, dias antes, tínhamos sido convidados a imergir no recente mundo das alternativas urbanas de mobilidade da cidade de São Paulo por um aficionado do setor: Marcio Canzian, ex-publicitário e atual empresário do segmento de equipamentos onde convivem patinetes, bikes e monociclos elétrico-eletrônicos.

 

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A startup disruptiva do Marcio, na Vila Olímpia SP, corresponde ao clima urbano e contemporâneo esperado na arquitetura, no visual merchandising e no atendimento, mas contrasta até certo ponto com a expectativa do perfil do cliente. Na medida em que não são os millennials que preenchem plenamente seus espaços.

 

Uma análise do portfólio de produtos da ELETRICZ dá a pista na medida em que os patinetes elétricos e as bikes são os produtos padrão, mas a estrela máxima da loja é o monociclo elétrico, para o qual parte do público é mais maduro. Provavelmente o mesmo da turma do Hora de Expediente.

 

Para Canzian, cujo “mindset” está focado na facilidade de locomoção e na melhoria do meio ambiente, a aposta é nos micros modais, mas como carro-chefe de seu negócio o monociclo tem a principal atenção na evolução do produto, na produção e na comercialização. Daí a constância de viagens à China, terra de seu fornecedor e desenvolvedor, onde como piloto atento municia a evolução deste processo.

 

Por esta única roda do monociclo, plena de tecnologia, que agora faz parte da extensão de seu corpo, largou as quatro rodas de uma super BMW, uma agência de propaganda e se dedica ao futuro através de veículos que possam trazer mais conforto e prazer.

 

Hoje, está buscando local no Rio para instalar a segunda loja, nos moldes da Vila Olímpia — com exposição e pista para aprendizado. Ao mesmo tempo se prepara para estruturar um sistema de franquia na busca de outros apaixonados pela mobilidade urbana e com o necessário espírito empreendedor.

 

Vale a pena visitar o site da Eletricz, depois ir até a loja e dar umas pedaladas nas bikes — e, claro, umas equilibradas nos patinetes e nos monociclos.

 

Carlos Magno Gibrail, Consultor e autor do livro “Arquitetura do Varejo”, é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung

O Minhocão do Hexa

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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Monotrilho em imagem do Flickr/Gov do Estado de São Paulo

 

É inacreditável que quarenta anos depois de inaugurar o Minhocão por Paulo Maluf, a mesma cidade foi vítima de obra similar.

 

Se Maluf, em 1970 teve o regime ditatorial favorecendo as operações, em 2010 as forças da FIFA, da CBF, de Lula, de José Serra e de Kassab tiveram que se unir para vencer os protestos contra a sua execução. Diante do exemplo irrefutável dos problemas do Minhocão original, os argumentos técnicos e sociais afloraram vigorosamente. Dentre eles destacamos em artigo anterior neste blog:

 

A linha 17-Ouro que ligará Congonhas à rede de trilhos terá trens a 15 metros de altura, irá desapropriar área de 132 mil metros quadrados na qual serão derrubadas 2.300 árvores e onde 36 mil metros quadrados são ocupados por residências de alto e médio padrões.

 

O morador deve sofrer impacto negativo de ALTA RELEVÂNCIA: a mudança da paisagem devido à presença de vigas de até 15 metros de altura

Será um grande causador de incômodo. A obra será usada por mais de 200 mil passageiros por dia …

 

Nas vias de baixo tráfego haverá aumento significativo do movimento devendo atrair também camelôs e desvalorizando alguns espaços do entorno…

 

O padrão residencial vertical faz com que o impacto visual do monotrilho seja intensificado, pois alguns domicílios ficarão no mesmo nível que as estruturas permanentes.

 

Entretanto, era uma batalha de cartas marcadas. Tanto é que o Estádio do Morumbi não foi aprovado pela FIFA, alegando que as obras a serem feitas teriam que estar prontas, para em seguida endossar a abertura da COPA no Itaquerão, que ainda não tinha estádio nem mesmo um projeto completo.

 

Então, o que era ruim ficou muito pior, pois a construção do Minhocão do Morumbi diminuiu de ritmo. Afinal os interesses públicos e privados passaram para Itaquera. A ponto de haver paralisação e acentuada degradação no canteiro de obras.

 

O fato é que a COPA 2014 passou. A COPA 2018 também e o monotrilho ainda não está pronto.

 

Em resumo, o capital investido proposto para gerar riqueza está produzindo pobreza.

 

Sem ironia, o Minhocão da COPA será o Minhocão do HEXA: Não dá para prever quando chegará.

 

Leia também:

 

O “Minhocão do Morumbi” — 18/08/2010

 

O Morumbi em choque — 06/10/2010

 

Monotrilho será novo Minhocão, mas tudo muito “moderno — 23/04/2012

 

O Minhocão do Morumbi II — 04/04/2016

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung

Avalanche Tricolor: tá difícil, chama o Luan

 

Grêmio 1×0 Defensor
Libertadores – Arena Grêmio

 

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Luan comemora único gol da partida em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Dias estranhos vivemos nesta semana.

 

A paralisação do setor de transportes de carga mexeu no cotidiano dos brasileiros. Os caminhões deixaram de entregar as mercadorias, interromperam o tráfego nas estradas e prejudicaram o trânsito nas cidades.

 

O alimento deixou de chegar aos armazéns e o pouco que chegou teve preços majorados. O combustível ficou escasso e as filas de motoristas nos postos são enormes — imagem que só perde em escândalo para o preço cobrado na bomba.

 

Sem abastecerem, os ônibus diminuem o número de viagens e os passageiros ficam mais tempo no ponto. O serviço de lixo é suspenso, a rota da polícia é reduzida e as ambulâncias correm o risco de não sair dos hospitais. Os aviões voam com restrições e os correios desistem de prestar o serviço.

 

O governo não tem de onde tirar dinheiro porque gasta muito e gasta mal. Quando poderia melhorar o gasto, chafurdou na lama da corrupção. A Petrobras também foi destroçada por corruptos e gente de má-fé, e na reconstrução impôs regras de preço que pressionam o bolso de quem já está com dificuldade — o dólar sobe, o preço do barril sobe e a conta chega na bomba de combustível.

 

O cidadão está cansado de pagar a conta dos desmandos e mesmo sentido no seu dia as dificuldades impostas pela crise no abastecimento sinaliza apoio a reclamação dos caminhoneiros. Esses reclamam com razão porque ficam sem manobra para negociar preço, os custos aumentam e o frete não compensa. Por trás deles, escondidos na boleia, estão empresários, donos de enorme frotas de caminhão, que, sem direito à greve, empurram os motoristas para a frente das manifestações.

 

No cenário político, aproveitadores reagem, populistas gritam e extremistas ocupam espaço com discursos baseados em ideias mentirosas e fraudulentas. Há os que sequer sabem fazer conta, os que têm medo de por a cabeça para fora e os sem-noção, que agem como se nada estivesse ocorrendo a sua volta. Poucos buscam o equilíbrio da fala e o meio-termo nas ações.

 

E o que tudo isso tem a ver com o tema central dessa coluna, autodenominada Avalanche Tricolor?

 

Foi esse caos que me tomou o tempo nessas últimas 48 horas, me impediu de escrever a Avalanche logo após o jogo como costumo fazer desde 2008, e de agradecer a Luan por seu talento e precisão nos chutes.

 

Quando todos os caminhos estavam fechados e a bola teimava em desviar nos buracos do gramado mal-cuidado — Renato tem razão em reclamar —, nosso camisa 7 chamou a responsabilidade para si, usou de sua autoridade com a bola no pé e encontrou uma solução para resolver de vez nossos problemas em campo. Assim, o Grêmio encerra a primeira fase líder invicto de seu grupo e com a segunda melhor campanha da Libertadores.

 

Luan para presidente!

Taxistas terão de ir além do sorriso e da simpatia para se manterem vivos na cidade

 

 

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Passeie pelo Rio por três dias e fiquei bem impressionado com o atendimento que recebi da saída do aeroporto à porta do hotel. Funcionários simpáticos e atenciosos me receberam nos lugares que visitei. Foram poucos é verdade, mas diversificados. Rodei de táxis pela cidade e fui transportado por motoristas que fizeram questão de me dar informações sobre o Rio e os lugares pelos quais passamos. Um deles, assim que percebeu que eu havia descido em local errado fez questão de retornar para me levar mais adiante. Pediu desculpas, pois se soubesse que eu queria entrar na Arena Jeunesse teria me deixado mais à frente para facilitar. Em resumo, uma simpatia.

 

 

Para todos os cariocas com quem conversei, e fiz questão de compartilhar esta minha boa impressão, fui alertado que “antigamente” as coisas não eram assim, especialmente nos táxis. A mudança de comportamento teria sido o efeito Uber. Motoristas perceberam que teriam que incluir no seu cardápio sorriso e bom atendimento para competir com os aplicativos. No meu caso, funcionou, mesmo com a corrida saindo um pouco mais cara.

 

 

As mudanças, porém, terão de ir além do comportamento.

 

Ainda nesta semana, e já aqui em São Paulo, leio em “O Diário do Transporte” que os motoristas do Táxis Preto – que surgiu no fim de 2015 como alternativa de alto padrão ao Uber Black – tiveram de receber socorro extra da prefeitura pois não têm conseguido pagar as parcelas do alvará, que custa R$ 60 mil, valor que pode ser dividido em 60 prestações de R$ 1 mil. A administração municipal anunciou que o prazo de pagamento será ampliado e aqueles que desistirem de prestar o serviço poderão devolver a licença sem a obrigação de fazerem o pagamento integral, terão apenas de acertar os atrasados.

 

Na outra ponta do sistema, os jornais informam que o presidente executivo da startup 99, o americano Peter Fernandez, anda feliz da vida com os US$ 200 milhões que foram colocados na empresa por investidores (ou seja dinheiro privado): US$ 100 milhões da chinesa Didi Chuxing e US$ 100 milhões da japonesa SoftBank. Com muito mais dinheiro no caixa, Fernandez diz que será possível acelerar a missão da empresa de fazer o transporte ficar cada vez mais barato, rápido e seguro para os brasileiros.

 

Fico sabendo, no texto assinado pelo jornalista Alexandre Pelegi, que a prefeitura de São Paulo tira do seu caixa (ou seja dinheiro público) R$ 250 milhões por ano para os taxistas transportarem 1,5% das pessoas que são atendidas pelo transporte público, na capital. Pelegi compara: cada paulista que usa táxi recebe subsídio cinco vezes maior do que os que andam de ônibus.

 

Os números mostram que a concorrência entre os táxis e os carros que atendem pelos aplicativos é desleal. E digo isso não no sentido de revelar uma irregularidade. Pelo contrário. Digo pelo simples fato de que o dinheiro privado é muito mais abundante e rentável do que o dinheiro público.  Sorrisos e bom atendimento não serão suficientes para a sobrevivência da categoria. Taxistas e prefeituras terão de repensar a gestão do sistema, e, temo, ainda chegarão a conclusão – na marra ou por reflexão  – que o transporte individual tenha de ficar nas mãos dos empresários, cabendo à administração municipal a fiscalização rígida do serviço prestado.

 

Na ponta do lápis, faz muito mais sentido a prefeitura investir cada tostão em um sistema que atenda muito mais gente – ônibus, trem e metrô, por exemplo – do que desperdiçá-lo no transporte público individual, especialmente se o setor privado é capaz de oferecer o mesmo serviço, com mais carros  e por um custo menor.

 

Enquanto essa época não chega, seguirei chamando meu táxi na expectativa de ser atendido com sorriso, simpatia e segurança.

 

*na primeira versão deste texto, por engano deste blogueiro, o nome da startup 99 estava grafado errado. Corrigido, agora!