100 anos
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Jornalismo e tecnologia sempre andaram de mãos dadas. A necessidade de compartilhar informações impulsiona a inovação desde os tempos das cavernas. Para fazer as primeiras pinturas rupestres, nossos antepassados precisaram inventar os pigmentos. No Egito Antigo, surgiram os papiros, superfícies para a escrita feitas a partir da planta de mesmo nome. Gutemberg criou a prensa para que os livros não precisassem mais ser produzidos um a um. E O GLOBO sempre teve em seu DNA a inovação e a busca das últimas novidades tecnológicas para ajudar a levar a melhor informação aos leitores. Por exemplo, o jornal foi o primeiro veículo brasileiro a publicar uma telefoto (em 1936), o primeiro a publicar uma radiofoto colorida (em 1959), pioneiro na substituição das máquinas de escrever por computadores na redação (em 1985) e o primeiro a ter um caderno de Informática (o “Informáticaetc.”, lançado em 1991) .

Grandes saltos

Mudanças tecnológicas implicam em mudanças na produção e no consumo da notícia, mas, a partir da chegada da internet, as transformações nas redações se aceleraram exponencialmente. O site do jornal O GLOBO foi criado em 1996 — na época, chamava-se Globo On — e foi um dos primeiros de jornal impresso do país. A primeira versão do site só podia ser vista em pesados computadores com telas de tubo e que precisavam de modems, aqueles aparelhos que faziam uma cacofonia de sons para entrar na internet. E levava vários minutos para carregar uma página inteira.

IA já era notícia no GLOBO em 1970 — Foto: Arte
IA já era notícia no GLOBO em 1970 — Foto: Arte

Cerca de dez anos depois, em junho de 2007, o mundo conhecia o primeiro iPhone. Com a popularização dos smartphones, não é mais preciso um computador de mesa para “entrar” na internet. O conteúdo do jornal está ao alcance a qualquer hora, em qualquer lugar, literalmente na palma da mão.

O advento do mundo digital também permitiu a criação de novas formas de levar a informação para os leitores, além da publicação impressa de especiais sobre assuntos de interesse público. Como os guias de eleições, com todos os candidatos e locais de votação e o acompanhamento da apuração dos votos em tempo real; na área de saúde, as calculadoras que mostram a quantidade ideal de água que cada pessoa tem de beber por dia; em meio ambiente, os mapas interativos que detalham as mudanças climáticas. Além disso, diante de momentos de tragédias como a epidemia de Covid-19 ou as enchentes no Rio Grande do Sul, é possível criar rapidamente serviços que ajudem os leitores. Na pandemia, uma ferramenta calculava o lugar de cada faixa etária na fila da vacinação.

Mas nem tudo são flores. Em 1999, o cantor e pioneiro da internet David Bowie alertava: “O que a internet vai fazer com a sociedade, tanto para o bem quanto para o mal, é inimaginável. Acho que estamos à beira de algo emocionante e aterrorizante. É apenas uma ferramenta, no entanto? Não, não é. Não, não. É uma forma de vida alienígena”. As redes sociais evidenciaram ainda mais essa dicotomia, principalmente com a massiva disseminação de fake news. O que inclusive levou à criação de serviços de checagens, como o “Fato ou Fake”, do Grupo Globo.

Agora, estamos diante de novo salto tecnológico: a inteligência artificial. A IA se tornou onipresente em nossas vidas, mas é um termo que já habita o imaginário humano desde meados do século XX. O computador HAL 9000 é o grande vilão do filme “2001: uma odisseia no espaço”, de 1968, assim como a Skynet também é na franquia de filmes “Exterminador do futuro”.

Cena do filme '2001 - uma odisséia no espaço' — Foto: Reprodução
Cena do filme '2001 - uma odisséia no espaço' — Foto: Reprodução

Em 1970, O GLOBO já trazia em suas páginas matérias sobre o tema, mostrando que “os sistemas de computadores já alcançaram e ultrapassaram o cérebro humano nas áreas da informação e processamento de dados”. Destacava, porém, que falta às máquinas uma capacidade de organização desses dados. E antecipava o que viria a ser a IA generativa: “A solução óbvia para esse problema é programar sistema artificial inteligente, que aprenda tudo que ele tem de saber, por si próprio, através das interações com o seu ambiente — como uma criança aprende a lidar com o seu meio”.

A IA generativa tem provocado transformações profundas na maneira de produzir e consumir notícias, como diz Jelani Cobb, reitor da Escola de Jornalismo de Columbia:

— IA é uma força que não pode ser ignorada, em torno da qual o jornalismo vai ter que se organizar e não o contrário.

Há cerca de quatro anos, O GLOBO utiliza inteligência artificial em sistemas de recomendação de conteúdo. E lançou recentemente o projeto Irineu, de criação e desenvolvimento de produtos de IA, que vão ajudar a melhorar a produtividade da redação e a experiência do leitor no site. O primeiro recurso disponível, por enquanto, é o “Resumo”, ferramenta que gera síntese do que há de mais importante no texto das reportagens. Para garantir a excelência, o conteúdo é supervisionado por jornalistas. No caso da IA generativa, O GLOBO começou a testar a aplicação em suas rotinas em 2023, logo após o ChatGPT se tornar público.

— A IA tem desempenhado um papel relevante para melhorar o exercício da função de jornalista, tornando mais eficiente e rápida a pesquisa, o resumo de documentos, a sugestão de pautas. Igualmente, os modelos de IA generativa têm o potencial de contribuir com o jornalista na elaboração de textos, acelerando e melhorando a escrita — observa Dora Kaufman, professora na PUC-SP e autora do livro “Desmistificando a inteligência artificial”.

Qualidade do conteúdo

A professora também chama atenção para outro ponto importante:

— A confiança do público na informação jornalística não está no fato de se avisar ou não que foi usada IA. Relevante é a qualidade do conteúdo, a veracidade da informação. Para tal, toda e qualquer matéria publicada tem que obrigatoriamente passar por validação humana, o jornalista não pode considerar como soberano o resultado produzido por IA.

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