Durante uma festinha de criança, conversando com outros pais e mães, me sugeriram usar homeopatia para um problema de saúde da minha filha. Perguntei se sabiam o que era um remédio homeopático, e me responderam, que sim, claro, era remédio natural. Alguém arriscou que era feito de extratos de plantas.
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Pesquisa conduzida pelo Center for Inquiry (CFI), associação sem fins lucrativos baseada nos EUA, mostrou que a maior parte das pessoas que consome produtos homeopáticos não sabe exatamente como são feitos, no que diferem de medicamentos convencionais e nem quais são os princípios da homeopatia. A pesquisa mostrou que, quando os consumidores foram apresentados a estes dados, sentiram-se enganados e frustrados. Achavam que a homeopatia havia sido testada e aprovada pela FDA (agência regulatória de medicamentos e alimentos dos EUA), da mesma maneira que qualquer outro medicamento..
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Mas afinal, o que é homeopatia, essa prática que se tornou tão popular no Brasil, a ponto de ser ensinada nas faculdades, endossada pelo Conselho Federal de Medicina, e oferecida no Sistema Único de Saúde? É uma forma de medicina alternativa baseada em dois princípios. Um, semelhante cura semelhante: algo capaz de provocar, numa pessoa saudável, sintomas análogos aos de uma doença deve ser capaz de curar essa mesma doença; dois, diluição infinitesimal – quanto mais diluído o princípio ativo, maior a sua potência curativa. Inventada pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1790, quando os conhecimentos sobre microrganismos e anatomia humana eram precários, a homeopatia tem um processo de diagnóstico que não considera as causas da doença, apenas sintomas.
Remédios homeopáticos não são avaliados com o mesmo rigor dos medicamentos convencionais. E nem poderiam, porque após passar pelo processo de diluições infinitesimais, o que sobra em geral é só água, sem nenhuma molécula de “princípio ativo”. Dá para entender a frustração dos participantes da pesquisa do CFI, e dos meus amigos na festinha quando descobriram a verdade.
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O desconhecimento, aliado à glamourização da medicina alternativa, revestida do rótulo equivocado de “natural”, atrai muita gente para este mercado. Não faltam celebridades entre os adeptos. Alguns, como Steve Jobs, pagaram com a própria vida por escolher tratamentos alternativos no lugar de medicina de verdade.
A morte recente da cantora Tina Turner trouxe à tona a história de como a homeopatia lhe custou um rim. Tina sofria de pressão alta, e em 2013, sofreu um derrame. Iniciou tratamento, mas convencida de que os remédios estavam lhe “fazendo mal”, consultou um homeopata francês, que substituiu tudo por preparados homeopáticos, e disse que a hipertensão era causada por “toxinas na água”. Além de abandonar o tratamento correto, a cantora mandou trocar o encanamento e “purificar” a água com “cristais energéticos”. Em 2017, os rins, sobrecarregados com a hipertensão descontrolada, começaram a falhar, e ela precisou de um transplante.
Embora Tina reconheça que errou ao tratar pressão alta com homeopatia, não se convenceu de que a prática é inútil. Seguiu acreditando que, para males menores, diluições infinitas podem ser úteis.
Tina Turner deixa saudades como artista e mulher. Não foi a homeopatia que a matou, mas certamente a falha renal deteriorou sua saúde. O episódio do transplante faz dela mais uma vítima (por sorte, sobrevivente) da medicina alternativa. Muitas dessas vítimas têm algo em comum: o silêncio. Os mortos não falam porque não podem; os vivos, porque não querem romper alianças ideológicas, afetivas, religiosas. E assim, a homeopatia e outras práticas alternativas seguem iludindo, lucrando, e matando.