O tapete azul do Senado já viu quase tudo. Mas a performance sobre aborto, nesta segunda, garantiu lugar entre os pontos mais baixos de sua história.
A convite do bolsonarista Eduardo Girão, a contadora de histórias Nyedja Gennari encenou a voz de um feto em protesto contra a interrupção legal da gravidez.
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Durante longos cinco minutos, o plenário virou palco de um teatro macabro e de má qualidade.
"Nããããão! Não acredito! Essa injeção! Essa agulha! Não! Quero continuar vivo!", esgoelou-se Nyedja, que já foi assessora do senador bolsonarista Izalci Lucas.
Num jornal local de Brasília, ela é apresentada como uma profissional que "anima casamentos, aniversários, eventos e até conta história de mortos em velórios".
A sessão desta segunda-feira teve sete horas de duração, com transmissão ininterrupta na TV Senado e sem contraditório.
A dramatização antiaborto não foi o único momento constrangedor. O senador Girão voltou a exibir a réplica de um feto, antes de pedir um minuto de silêncio "em respeito aos bebês indefesos do aborto".
O deputado bolsonarista Zacharias Calil usou uma seringa cenográfica para encenar uma assistolia fetal, método recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) quando a gestação é interrompida após 20 semanas.
A dublê de senadora e pastora Damares Alves aproveitou para criticar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Em maio, ele suspendeu uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que impedia a prática da assistolia.
"A liminar do Alexandre de Moraes está valendo e crianças estão morrendo", disse Damares.
Na decisão, Moraes afirmou que o CFM ultrapassou sua competência regulamentar e impôs às vítimas de estupro uma restrição de direitos não prevista em lei, “capaz de criar embaraços concretos e significativamente preocupantes para a saúde das mulheres”.
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