Bernardo Mello Franco
PUBLICIDADE
Bernardo Mello Franco

Um olhar sobre a política e o poder no Brasil

Informações da coluna

Bernardo Mello Franco

Colunista do GLOBO e da rádio CBN. Trabalhou na Folha de S.Paulo e no Jornal do Brasil. Foi correspondente em Londres e escreveu o livro "Mil dias de tormenta"

Por

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 17/07/2024 - 00:00

Datena: candidatura populista e egocêntrica em SP

José Luiz Datena lança-se como candidato a prefeito em SP, adotando discurso populista e egocêntrico. O apresentador foge de questões municipais, faz piadas sobre sua candidatura e critica políticos. Datena enfatiza mais sua persona e experiências pessoais do que propostas concretas para a cidade. Entrevista revela falta de planos claros e foco no autoelogio, gerando perplexidade sobre sua real intenção política.

Em 2016, os paulistanos elegeram um prefeito que dizia não ser político. Oito anos depois, José Luiz Datena quer convencê-los a cair no mesmo conto. O apresentador saiu de férias para se lançar candidato. Pelo que já mostrou, seria melhor antecipar a volta à TV.

Em terceiro lugar nas pesquisas, o neotucano foi sabatinado ontem pela Folha e pelo UOL. Diante das câmeras, gabaritou o manual do populismo. Esconjurou os partidos, praguejou contra a “velha política” e se apresentou como um defensor do povo. “Não confio em político. Não confio em palavra de político”, discursou.

O apresentador prometeu levar a campanha a sério, mas fez piada com a própria fama de anunciar candidaturas de mentirinha. “Nunca perdi uma eleição, tá certo? Desisti de todas, mas nunca perdi”. Ele também ironizou seu histórico de vaivém partidário. “Partido se fosse bom não se chamava partido, se chamava inteiro”, gracejou. Ao ser questionado se buscava ser visto como progressista ou conservador, escapuliu com mais uma platitude: “Sou constitucionalista (sic). Sou pelo povo brasileiro”.

Acostumado a pontificar sobre tudo, Datena reclamou das multas de trânsito (“radar é uma grande sacanagem”), dos sinais piscantes (“prejudicam mais que enchente”) e da qualidade do asfalto (“a lua tem menos buraco que aqui”). Parecia um taxista indignado, não um candidato a prefeito da maior cidade do país.

Os entrevistadores se esforçaram, mas não conseguiram arrancar planos concretos para nada. Instado a apresentar uma proposta para a cracolândia, ele se escondeu atrás de outra frase de efeito: “Vou nomear Deus como secretário de Segurança Pública, porque só Deus para resolver o problema”.

Em uma hora de falatório, o apresentador se mostrou mais interessado em si mesmo do que nas questões municipais. Quem enfrentou a sabatina ficou sabendo que ele parou de beber, já ganhou mais de R$ 1 milhão por mês e se julga merecedor de homenagens póstumas.

“Quem sabe quando eu morrer os caras façam uma estátua minha com uma metralhadora no centro de São Paulo, dizendo que eu era um gênio”, arriscou.

Mais recente Próxima Deputados consideram revólver menos nocivo que guaraná