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O passado com um pé no presente.

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William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

Por William Helal Filho

Bastava alguém chamá-la de "bicha" que lá vinha o bordão conhecido no Brasil todo: "Epaaaaaaa....", berrava Vera Verão. "Veja lá como fala! Bicha, não, eu sou uma quase mulher", completava a personagem mais famosa do inesquecível (e inigualável) Jorge Lafond, durante o programa "A praça é nossa", do SBT, nos anos 1990.

Com 1,98m de altura, o artista passava dos 2 metros após calçar os saltos de Vera. Toda vez que entrava em cena, elevava também a audiência. Numa entrevista ao GLOBO, o diretor do programa, Marcelo de Nóbrega, contou que, se a produção estivesse marcando 9 pontos no Ibope, quando Vera chegava, ia para 10 ou 11. Não é pouca coisa.

O carioca criado na Vila da Penha, na Zona Norte do Rio, começou a trabalhar aos 9 anos, numa oficina mecânica. Mas continuou na escola e fez faculdades de Educação Física e Artes Cênicas. Ao longo de sua formação, também estudou balé clássico e dança africana.

Jorge Lafond se preparando para espetáculo em 1989 — Foto: Ricardo Chvaicer/Agência O GLOBO
Jorge Lafond se preparando para espetáculo em 1989 — Foto: Ricardo Chvaicer/Agência O GLOBO

Apresentou-se em cabarés, foi destaque em desfiles na Avenida Sapucaí, atuou com a coreógrafa Mercedes Batista e integrou o balé do "Fantástico", da Globo. Protagonizou diversos espetáculos teatrais, estreou na teledramaturgia com um papel na novela “Sassaricando” (1987) e viveu o soldado Divino no humorístico “Os Trapalhões”.

Em sua biografia “Bofes e babados” (1999), Lafond escreveu que não levantava nenhum tipo de bandeira. O artista morreu em 2002, aos 50 anos, antes da explosão dos debates de gênero e identidade no Brasil. Nos últimos anos, ele passou a ser lembrado como um corpo político cuja existência abalava as estruturas do preconceito.

Semana passada, estreou no Teatro Ipanema o espetáculo "Jorge para sempre Verão", dirigido por Rodrigo França. Baseada numa carta póstuma de pedido de perdão escrita por Aline Muhamad, prima de Lafond, a peça propõe uma conversa com a família tradicional brasileira sobre hipocrisia e preconceito.

Jorge Lafond no carnaval de 1993 — Foto: Júlio Cesar Guimarães/Agência O GLOBO
Jorge Lafond no carnaval de 1993 — Foto: Júlio Cesar Guimarães/Agência O GLOBO
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