A Rainha Elizabeth II tinha 42 anos quando fez sua única viagem ao Brasil, em 1968, acompanhada de seu marido, o recém-falecido príncipe Philip. Em oito dias, o casal visitou Recife, Salvador, Brasília, São Paulo e Rio. A agenda incluiu visitas a monumentos e pontos turísticos como o Mercado Modelo, na capital baiana, um amistoso no Maracanã e encontros protocolares com autoridades como o então presidente da República, Artur da Costa e Silva, segundo governante da ditadura militar.
Jubileu da Rainha: Como foi festa pelos 70 anos de reinado de Elizabeth II
Elizabeth II e Philip chegaram a Recife às 17h do dia 2 de novembro daquele ano. Numa passagem rápida de duas horas pela cidade, eles estavam numa recepção no Palácio das Princesas quando houve uma queda de eletricidade, problema comum na capital pernambucana naquela época. O ilustres visitantes permaneceram conversando com todos tranquilamente, assistidos por um auxiliar que os seguida segurando um candelabro de seis velas. Seis minutos depois, a luz voltou graças ao gerador do prédio.
Às 19h30, o casal embarcou no navio Brittanica, que chegaria a Salvador na manhã seguinte. A rainha visitou locais como a Igreja Anglicana e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). No Mercado Modelo, a monarca foi recebida com um tapete de pétalas de rosas. Uma comissão de barraqueiros do famoso centro comercial presenteou Elizabeth com um balangandá de prata de lei pesando 1,5kg, enquanto o Duque de Edimburgo ganhou um autêntico berimbau baiano.
No fim do dia, a comitiva partiu no Brittania rumo ao Rio, de onde eles tomariam um voo para Brasília. Era meio-dia de 5 de novembro de 1968 quando o avião pousou na capital, com termômetros marcando 32 graus na sombra e umidade relativa do ar de 27% (baixíssima). Ela visitou a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e o Palácio da Alvorada. À noite, foi recepcionada com üm banquete Palácio Itamaraty.
Aos jornalistas, Elizabeth disse que achara Brasília "fascinante" e afirmou ao GLOBO que sentia saudades dos filhos, mas que pôde falar com eles pelo telefone quando estava a bordo do Britannia. Em um discurso no Itamaraty, ao lado de Costa e Silva, ela disse que "nossos dois povos estão voltados aos conceitos básicos de justiça, liberdade e tolerância". Ironicamente, no mês seguinte, o mesmo governante editaria o Ato Constitucional 5 (AI-5), endurecendo a violência na ditadura.
Na chegada a São Paulo, um grupo de crianças do Colegio Britânico saudou a soberana gritando "hip hurra", e ela foi cumprimentá-los. O prefeito Faria Lima entregou à ilustre turista a chave da cidade. Pelas ruas, milhares de pessoas aplaudiam vendo seu cortejo passar. Alguns colégios que ficavam no caminho interromperam as aulas para que os alunos saíssem às calçadas.
Elizabeth colocou uma coroa de flores no Monumento ao Ipiranga e seguiu para o Terraço Itália, onde observou São Paulo a 150 metros de altura. À noite, foi a convidada de honra de um banquete de 150 talheres no Palácio Bandeirantes, onde o casal passou a noite. Na manhã seguinte, a monarca e seu marido conheceram uma fazenda experimental em Campinas. Eles passaram uma noite na cidade do interior paulista antes de voarem para o Rio.
A Torre Caiu: O plano britânico para a morte da Rainha Elizabeth II
Era manhã de sábado quando o casal começou o roteiro pela capital fluminense. Elizabeth II visitou o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo e a Igreja Anglicana, em Botafogo. Na saída do templo, houve um susto quando um homem atirou sobre a rainha um quadro com a imagem dela própria. Ao se recuperar da surpresa, a visitante observou a obra por alguns segundos e pediu para guardá-la. Já o autor do quadro foi detido e liberado após averiguação. Ele viera de São Paulo apenas para mostrar sua pintura à monarca.
Naquela noite, a embaixada britânica ofereceu uma recepção nos jardins da mansão, com apresentação do violonista Baden Powell, da cantora Eliana Pitman e da bateria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, que levou ao local uma ala de baianas, malabaristas do pandeiro e o casal de mestre-sala e porta-bandeira.
Na tarde de domingo, Elizabeth II e Philip foram ao Maracanã para jogo amistoso entre cariocas e paulistas organizado especialmente para a visita deles. No gramado, astros do futebol como Pelé, Gerson, Jairzinho e Clodoaldo. A certa altura do jogo, o árbitro Armando Marques foi xingado pela torcida, e tanto o príncipe quanto a rainha perguntaram o que significavam os gritos. Um auxiliar traduziu, mas a reportagem do GLOBO no dia seguinte não informou qual foi a ofensa.
Havia cerca de cem mil pessoas no estádio. Descrito como "morno" pela crítica esportiva, o jogo foi vencido pela seleção de São Paulo, por 3 a 2, com dois gols de pênalti. Depois, os craques Pelé e Gerson receberam de Elizabeth II a taça reservada para os vencedores do amistoso. Aquele foi o último compromisso oficial do casal britânico, que se despediu do Brasil na manhã do dia seguinte.