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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.


Verônica Costa em sua primeira campanha para vereadora, em 2000 — Foto: Jorge William/Agência O GLOBO
Verônica Costa em sua primeira campanha para vereadora, em 2000 — Foto: Jorge William/Agência O GLOBO

A cantora e empresária Verônica Costa já era uma espécie de midas do funk carioca quando decidiu entrar para a política, em 2000, aos 25 anos de idade. Ela e seu então marido, o produtor Rômulo Costa, de 46 anos, eram parceiros no comando da equipe de som Furacão 2000, que promovia, na época, de oito a dez bailes por semana em diferentes casas da Região Metropolitana do Rio.

Conhecida como a "mãe loura" do funk, Verônica já traçava os planos para a campanha que a elegeria vereadora quando, em junho daquele ano, foi indiciada num inquérito que apurava mortes e tráfico de drogas nos bailes funk. Rômulo Costa, por sua vez, já havia ficado preso por duas semanas, acusado de apologia ao crime e corrupção de menores, e aguardava o julgamento em liberdade. Mesmo assim, a cantora filiada ao PL conseguiu votos para ocupar uma vaga na Câmara Municipal do Rio.

Numa época em que boa parte da sociedade, por preconceito, enxergava os eventos de funk como antros de bandidos, o casal negava qualquer ligação com o crime. Durante uma entrevista ao GLOBO, ainda em setembro de 2000, pouco antes de se apresentar num baile na favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, Verônica contou que citava frases da Bíblia durante suas performances e que não havia apologia a drogas ou violência em nenhuma das músicas que cantava.

Márcio Costa ao prestar queixa contra Verônica Costa na delegacia, em 2011 — Foto: Arquivo pessoal
Márcio Costa ao prestar queixa contra Verônica Costa na delegacia, em 2011 — Foto: Arquivo pessoal

"Os humilhados serão exaltados", dizia a artista evangélica em seus shows. "Nosso glamour está na purpurina e na leveza. Nossos funks só falam de coreografias e de mulher bonita. Os jovens nos procuram pra falar de seus problemas, mas não comentam nada sobre tráfico, sabem que vou ficar decepcionda", afirmou a artista, que não foi condenada no processo que havia sido aberto.

O relato de Márcio Costa após tortura

Verônica foi eleita vereadora naquele pleito e, desde então, foi reconduzida ao cargo quatro vezes. Já são, no total, mais de 16 anos com uma cadeira na Câmara Municipal. Mas, nesta quinta-feira, a funkeira foi condenada, em segunda instância, a 10 anos e 8 meses de prisão por torturar seu segundo marido, o empresário Márcio Costa, em 2011. Segundo determinação dos desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Rio, a cantora deve perder o seu mandato. Sua defesa afirmou que vai recorrer.

No dia 22 de fevereiro de 2011, uma terça-feira, o empresário Márcio Costa chegou à 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) com queimaduras de terceiro grau, para registrar queixa contra sua mulher, que na época estava sem mandato. Na versão que ele contou, o irmão, a irmã, o cunhado e o padrasto da funkeira foram até a casa do casal, em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio, por volta das 21h de 21 de feveireiro, uma segunda-feira. Segundo Costa, sob as ordens de Verônica, ele foi vendado e teve pés e pulsos presos por correntes, cordões e cadeados. A sessão de tortura durou 20 horas.

Verônica Costa chora após depoimento sobre acusação de Márcio Costa, em 2011 — Foto: Pablo Jacob/Agência O GLOBO
Verônica Costa chora após depoimento sobre acusação de Márcio Costa, em 2011 — Foto: Pablo Jacob/Agência O GLOBO

"Me bateram, jogaram um produto químico em mim. Não sei se era gasolina ou querosene. Ficaram ameaçando colocar fogo no meu corpo. Ela ficou repetindo que eu tinha uma amante. Depois, disse que eu estava roubando o dinheiro dela", contou o empresário, na época. "A Verônica ficou muito abalada depois que perdeu uma eleição para deputada estadual, no ano passado". De acordo com a Polícia Civil, uma perícia encontrara gaze e gasolina no banheiro onde Costa foi torturado.

"Chorei ontem ao ver meu filho. Ele está em choque, e a nossa família, horrorizada com a brutalidade dela", disse o pai do empresário, Felicíssimo Costa, no hospital onde o filho estava internado, na época.

Desde então, Verônica nega todas as acusações. Em entrevista ao GLOBO, nesta quarta-feira, alegou ter vivido um relacionamento abusivo, por dez anos, com o ex-marido. "O que estão fazendo comigo é uma injustiça, pura maldade. Quero provar que sou inocente", argumentou Verônica. "Ele bebia muito. Uma noite chegou em casa alcoolizado, todo arrebentado e inventou essa história. Mas todos fizeram exames de corpo de delito, e a perícia não encontrou um arranhão sequer em nenhum de nós".

Márcio Costa em cadeira de rodas no hospital, após ser torturado em 2011 — Foto: Guilherme Pinto/Agência O GLOBO
Márcio Costa em cadeira de rodas no hospital, após ser torturado em 2011 — Foto: Guilherme Pinto/Agência O GLOBO
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