Lulu Santos tinha acabado de completar 30 anos quando lançou seu segundo disco, "O ritmo do momento", com uma série de quatro shows lotados na famosa festa "Noites Cariocas", no Morro da Urca, na Zona Sul do Rio, em maio de 1983. Ainda embalado pelo sucesso do álbum de estreia, "Tempos modernos", de 1982, o carioca se manteve no alto das paradas com o trabalho sucessor, que trouxe canções muito bem recebidas, como "Um certo alguém" e "Como uma onda (zen surfismo)". Não havia mais dúvida da vocação do artista para fabricar hits.
"O Brasil é muito carente como nação. Governo, para a gente, é algo impalpável", disse Lulu durante uma entrevista ao GLOBO, na época. "É através da música popular que eu sinto a unificação do país. Do Oiapoque ao Chuí, tenha o sotaque que tiver. Sempre fiquei impressionado com a cultura de massa, e é isso o que faço. Mas não tem aí nenhum dom. Isso vem da certeza de que não há motivo para embarcar em ideologias elitistas e repressoras. O que eu curto é levar entretenimento. Quero servir de ponto para a nação. Eu e minha música ajudando a unificar o Brasil."
Filho de um militar da Aeronáutica e de uma advogada, o carioca foi sugado pela música ainda na sua adolescência, ouvindo os discos dos Beatles. Antes de fazer 20 anos, tocava na banda Veludo Elétrico. Depois, tornou-se guitarrista do Vimana, grupo de rock progressivo que inha entre seus integrantes os músicos Lobão, Ritchie e o suíço Patrick Moraz, ex-tecladista da lendária banda britânica Yes. Mas Lulu deixou a formação após virar alvo das críticas ferozes de Moraz, numa treta que ficou famosa no rock nacional. Pouco depois, o Vímana acabou e, anos mais tarde, Lulu estourou.
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Em 1983, o artista fez mais de 40 shows em seis meses, apresentando-se para cerca de 400 mil pessoas em diferentes partes do Brasil. "É uma loucura tocar para 30 mil pessoas. A plateia assume a forma de um bicho, que pode te acompanhar, curtindo junto, ou te dar um peteleco", analisou ele. "Ao contrário de uma plateia pequena, não dá pra observar a reação das pessoas. Com certeza, o som não está chegando tão nítido para o cara lá na arquibancada. Então, nunca vou fazer solo de 15 minutos de guitarra durante um show no Maracanãzinho, por exemplo".
Nas entrevistas, o então jovem astro da MPB, que hoje comemora 70 anos de vida, deixava claro que criticava "ideologias elitistas" na indústria fonográfica e que não aceitava ser tolhido. Ele sabia muito bem o que queria. "Há quatro anos, eu estava deprivado (sic) do direito de ser artista, quando o Roberto Menescal, diretor da gravadora Polygram, me impediu de ser o Lulu Santos para ser o Luiz Maurício", contou ele. "Mas, a partir das pancadas, a gente evolui. Ouvi tudo que me foi dito, mas hoje estou rindo dessas coisas. Na condução da minha carreira, sou de uma seriedade enorme".
Na opinião dele, algumas pessoas no meio fonográfico se incomodavam com o seu propósito de criar entretenimento de fácil assimilação pelo público. Já naquela época,. Lulu queria conversar com as multidões por meio da música. "Quero saber se eles têm uma proposta em nível de massa e se essa proposta tem um retorno. É fácil dizer que 'o povo não entende minha obra'. O artista costuma pensar que a concepção dele é a única e que, se a obra não for entendida, é porque está muito acima. Eu quero é que minha obra vá e volte. Quero que minha música seja inteligível".